Virada política na Argentina reacende interesse de gestores globais

Movimento argentino cria uma pressão indireta sobre quem administra fundos de mercados emergentes, diz.sócio da Ibiúna, André Lion

Osni Alves

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O cenário econômico da América Latina voltou a chamar a atenção de investidores internacionais, e a Argentina tem sido um dos principais gatilhos dessa mudança de percepção.

Segundo o sócio e CIO da Ibiúna Investimentos, André Lion, o “evento Argentina” reacendeu o interesse pelos mercados emergentes, embora o país vizinho sequer componha os principais índices de referência globais.

Para Lion, a virada política e as reformas econômicas em curso na Argentina trouxeram um novo olhar para a região, forçando os gestores globais a reavaliar suas posições.

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“A gente vê esse evento, por exemplo, na Argentina. Só que a Argentina nem no índice está. Então o cara ficou de fora, tudo bem. Agora, o Brasil está lá no índice e ele não é irrelevante”, afirmou, em entrevista ao mais recente episódio do Stock Pickers, gravado cinco dias antes das eleições legislativas, deste domingo, na Argentina, quando o partido de Milei consolidou seu poder no Congresso.

Para o gestor, o movimento argentino cria uma pressão indireta sobre quem administra fundos de mercados emergentes.

“Se o cara perder o Brasil, aí ele vai ter um problema. Como é que ele vai justificar para o chefe, ou para o investidor, que não enxergou o que estava acontecendo na América Latina?”

— André Lion, sócio e CIO da Ibiúna Investimentos.

Argentina reacende interesse por emergentes

Lion observou que, desde o início de 2025, grandes fundos internacionais voltaram a enviar equipes ao Brasil para se aproximar da realidade política e econômica do país, fenômeno que ele associa à reconfiguração da América Latina após a guinada de governos para a direita — com a Argentina como catalisadora desse movimento.

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“Mesmo em 2025, desde o começo do ano, a gente vê aqueles fundos enormes com equipes vindo para cá, para o Brasil, para voltar a estar próximos do que está acontecendo”, relatou. Segundo ele, há um esforço desses investidores em participar de conferências, inclusive em Brasília, para entender os rumos do governo e se preparar para o ciclo eleitoral brasileiro.

Lion também acredita que a percepção global sobre o risco político da região melhorou.

“Os investidores estão vendo países na América Latina fazendo a migração da esquerda para a direita, discutindo, organizando. Isso força todo mundo a fazer a lição de casa”

— André Lion, sócio e CIO da Ibiúna Investimentos.

Política monetária e cenário global

O CIO da Ibiúna vê um horizonte construtivo para os próximos meses, impulsionado pela política monetária global. O Federal Reserve (Fed) já iniciou um ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos, movimento que tende a injetar liquidez no mundo e beneficiar os ativos de risco — incluindo os emergentes.

“O Fed está no processo de flexibilização, injetando liquidez no mundo. Os ativos de risco do mundo todo vão ter esse movimento. Emergentes são uma classe de risco, e o Brasil está lá dentro”, explicou.

Lion acredita que o Banco Central brasileiro deve seguir o mesmo caminho no primeiro trimestre de 2026, iniciando um ciclo de queda da Selic após um longo período de juros elevados.

“O BC levou para 15% a Selic, é bastante juros. Se as expectativas de inflação continuarem convergindo, haverá espaço para cortes”

Eleições brasileiras entram no radar após efeito Argentina

Para o investidor estrangeiro, o risco político voltará a ganhar peso no segundo semestre de 2025, quando o ciclo eleitoral brasileiro começar a influenciar as expectativas. Lion destacou que, até lá, pesquisas e intenções de voto ainda são ruído.

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O gestor ressaltou que, historicamente, o governo tende a ganhar popularidade à medida que se aproximam as eleições, algo que já se observa. “Um mês e meio atrás o governo estava nas mínimas de aprovação, e agora isso começa a mudar”, disse.

Sinal de alerta

Ao comentar a postura dos investidores diante do novo contexto latino-americano, Lion reforçou que a Argentina, mesmo fora dos grandes índices, atua como um sinal de alerta — e oportunidade — para os mercados. Sua guinada política e econômica criou um efeito dominó de reposicionamento nos fundos globais, que agora voltam os olhos para o Brasil como o próximo destino natural de capital estrangeiro.

“Se o investidor estrangeiro perdeu o movimento da Argentina, tudo bem. Mas se ele perder o do Brasil, aí ele vai ter um problema”, concluiu.