Tesouro Direto: em sessão marcada por suspensão, taxas de papéis prefixados chegam a 13,20%

Números do payroll ajudaram a puxar o rendimento dos títulos americanos para cima, o que pesou sobre a curva de juros brasileira

Bruna Furlani

(Shutterstock)

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Diante do forte sobe e desce nos preços e taxas, as negociações de títulos públicos do Tesouro Direto chegaram a ser suspensas por cerca de meia hora nesta sexta-feira (8), mas foram retomadas em seguida.

Na última atualização do dia, os juros oferecidos pelos títulos públicos operavam em alta. Destaque para os títulos de inflação que estavam próximos de patamar recorde, especialmente os papéis mais longos.

A forte pressão registrada hoje no mercado de juros está ligada a dois fatores: a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e ao relatório de emprego americano (payroll), que ajudou a puxar a subida no rendimento dos títulos dos EUA (treasuries).

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Quem explica é Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos. Segundo ele, os dados do payroll mostraram um mercado de trabalho robusto e trouxeram que a folga do mercado está caindo, o que ajudou a reforçar a expectativa de aumentos mais duros do Federal Reserve (Fed), banco central americano.

Já sobre a inflação no Brasil, Costa notou que o IPCA veio abaixo do esperado, mas apontou que a alta de preços continua persistente, com os núcleos e serviços ainda elevados.

Com isso, por volta das 15h20, o juro oferecido pelo Tesouro IPCA +2026, além de papéis de prazo mais longo batia recorde ou se aproximava de patamar histórico. No caso do papel com vencimento em 2026, o título entregava um retorno de 6,04%, maior valor já registrado desde que passou a ser negociado em 2020. O percentual também é superior aos 5,82% vistos um dia antes.

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O Tesouro IPCA+2055, por sua vez, oferecia uma remuneração real de 6,19%, ligeiramente abaixo do recorde registrado na sessão de hoje, no valor de 6,20%. O valor está acima dos 6,13% da véspera.

Entre os prefixados, o maior juro era pago pelo Tesouro Prefixado 2033, no valor de 13,20%, próximo do recorde do papel, que é de 13,25%.

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Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta sexta-feira (8): 

Fonte: Tesouro Direto

Relatório Focus e IPCA

O destaque da cena econômica está nos números do IPCA de junho. O grupo de alimentação e bebidas subiu 0,80% e ajudou a puxar a alta do indicador.

O resultado foi influenciado pelo aumento nos preços dos alimentos para consumo fora do domicílio (1,26%), com destaque para a refeição (0,95%) e o lanche (2,21%). Alta também nos serviços, que subiram 0,90% em junho, ante 0,85% em maio.

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Na leitura de analistas de mercado ouvidos pelo InfoMoney, os dados reforçam a ideia de que a inflação deve ficar no campo negativo no próximo mês, em julho, mas não devem mudar a postura do Banco Central sobre os juros. 

Na avaliação da XP, que esperava um avanço de 0,75% no IPCA de junho, a deflação maior que esperada da gasolina (-0,72%) contribuiu para a surpresa. O recuo refletiu a PLP 18, medida que diminui impostos de energia elétrica, gás natural, combustíveis, telecomunicações e transportes coletivos.

Para Tatiana Nogueira, economista da XP, é por esse motivo que o IPCA deve entrar no campo deflacionário já no mês que vem. “Estimamos deflação de -0,81% em julho e IPCA de 7,0% no ano”, escreveu a especialista.

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Contudo, a economista observa que vários itens do indicador continuam pressionados, especialmente vestuário e automóveis. Serviços, como alimentação fora do domicílio, seguem em trajetória de aceleração, refletindo a reabertura da economia e a inflação corrente considerada elevada.

Nesse sentido, a avaliação é isso não deve alterar o plano de voo do Banco Central. João Savignon, economista da Kínitro Capital, aponta ainda que, mesmo que o pico da inflação tenha ficado para trás, o cenário continua desafiador. “Seja pela forte correção do câmbio no curto prazo, que pode atrapalhar a volta dos bens industriais, seja por um mercado de trabalho mais forte, que pressiona os serviços”, afirma.

Após meses de suspensão, os números do Relatório Focus voltaram a ser atualizados nesta sexta-feira. Agora, o mercado financeiro espera que a inflação oficial termine o ano em 7,96%, ante 8,27% na semana anterior. Um mês antes, a expectativa girava em torno dos 8,89%.

Por outro lado, houve uma piora nas estimativas de inflação para 2023, que passaram de 4,91% para 5,01%, no levantamento de agora. Quatro semanas antes, as previsões eram de 4,39%.

Piora também nas expectativas para a Selic no ano que vem, que agora estão em 10,50% ao ano, percentual maior do que os 10,25% previstos na semana anterior e do que os 9,75% esperados um mês antes.

Para este ano, as estimativas apontam que a taxa básica deve terminar em 13,75%, acima dos 13,25% vistos quatro semanas antes.

Alterações também nas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB). O ponto médio das estimativas dos economistas mostra que o PIB deve encerrar 2022 em 1,51%, ante os 1,50% previstos uma semana antes.

Já em 2023, as projeções seguiram em 0,50%, mesmo valor visto uma semana antes. O percentual, no entanto, é menor do que os 0,76% esperados quatro semanas antes.

PEC dos Auxílios

Devido ao quórum baixo no plenário na noite desta quinta-feira (7), o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), decidiu adiar para a próxima terça-feira (12) a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Auxílios, que cria programas sociais e amplia benefícios já existentes.

A percepção de parlamentares era que a proposta até poderia ser aprovada com aquela quantidade de deputados presentes no plenário. Mas havia riscos sobretudo caso se avançasse com a votação dos destaques das bancadas, com mudanças no texto.

Com críticas ao projeto, o deputado federal Nereu Crispim (PSD-RS) tentou suspender ontem (7) a tramitação do texto no Congresso Nacional.

Porém, o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, negou na véspera o pedido do deputado.

Payroll

Após uma semana marcada pela ata do Federal Reserve (Fed), que trouxe grandes preocupações com a inflação, os olhares dos agentes financeiros estão atentos ao relatório de emprego americano (payroll).

Os Estados Unidos criaram 372 mil vagas de trabalho em junho, de acordo com o Relatório de Emprego (payroll) divulgado nesta sexta-feira pelo Departamento de Trabalho. A taxa de desemprego ficou em 3,6%.

Pesquisa Reuters com economistas projetava a abertura de 268 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola no mês passado. Já a projeção para a taxa de desemprego era de 3,6%, mesma taxa do mês anterior.