R$ 30 bi de saques do FGTS serão usados para quitar dívida e não para reforçar consumo, estima Economia

Cerca de 42 milhões de trabalhadores têm contas ativas no fundo; deste total, 49,1% têm saldo até R$ 1.200

Estadão Conteúdo

Aplicativo do FGTS (Marcelo Camargo / Agência Brasil)

Publicidade

Apesar da inflação descontrolada e do ainda alto índice de desemprego, a Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Economia, acredita que os R$ 30 bilhões liberados para saques extraordinários do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) serão usados principalmente para quitar dívidas antigas, e não para reforçar o consumo das famílias.

Com base nos resultados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a SPE publicou um estudo nesta quinta-feira (5) com estimativas de uma redução entre 10% a 13% no número de famílias endividadas a partir dos saques de até R$ 1.000 do FGTS.

O órgão realizou o estudo apenas para a Região Metropolitana de São Paulo, estimando que 100 mil famílias pagarão suas contas em atraso, em um universo de 900 mil famílias inadimplentes na Grande São Paulo.

Continua depois da publicidade

A SPE não apresentou valores para as dívidas que seriam potencialmente pagas com os recursos do FGTS e nem replicou o estudo para o total de famílias endividadas no Brasil.

O secretário da SPE, Pedro Calhman, admitiu ainda que não há como garantir que os recursos serão mesmo usados para quitar contas em atraso. “Não controlamos como as pessoas vão usar o dinheiro. Os recursos vão ser usados da forma que as famílias acharem melhor. Não temos como garantir que as pessoas usarão para pagar dívidas, mas o objetivo da medida foi essa. O que verificamos é que liberações anteriores tiveram impacto significativo no pagamento de contas, sobretudo, pelas famílias de baixa renda”, afirmou. “Mas quem entra na inadimplência não consegue novas operações de crédito e pode inclusive perder um bem financiado”, lembrou.

Leia também:
Revisão do FGTS: como calcular, quem tem direito e outras dúvidas
FGTS: veja como sacar dinheiro em casos de doença
FGTS: entenda como funciona

Continua depois da publicidade

Saques extraordinários

Em 18 de março, o governo publicou a Medida Provisória 1.055, que liberou os saques extraordinários de até R$ 1.000 conforme um cronograma por mês de nascimento. Os recursos começaram a ser disponibilizados no dia 20 de abril para os nascidos em janeiro e, na quarta-feira (4), começaram os saques para os nascidos em março.

Cerca de 42 milhões de trabalhadores têm contas ativas no FGTS. Deste total, 49,1% têm saldo até R$ 1.200; 28,3% até R$ 5.000; 17,0% até R$ 20.000; e 5,6% acima de R$ 20.000.

Mesmo se tratando de valores que estavam retidos nas contas do FGTS para serem sacados apenas em casos específicos, Calhman argumentou que a liberação dos R$ 30 bilhões não significa a injeção de recursos novos na economia. Tanto que a SPE não apresentou nenhuma avaliação de efeito sobre a demanda ou impacto sobre o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano.

Publicidade

“Essa medida não tem nenhum impacto inflacionário, porque não se trata da liberação de dinheiro novo na economia. O trabalhador não podia usar, mas o dinheiro já estava na economia, aplicado pelo FGTS. Não é uma política fiscal com efeito sobre a demanda agregada. Essa é uma medida pelo lado da oferta porque visa corrigir uma má alocação de recursos”, insistiu o secretário.

Como mostrou o Banco Central, na semana passada, o endividamento das famílias brasileiras com o sistema financeiro fechou 2021 em 52,6%, novo recorde da série histórica, após 43,9% em 2020. Se forem descontadas as dívidas imobiliárias, o endividamento ficou em 33,0% em 2021, ante 26,9% do ano anterior.

Já o comprometimento de renda das famílias com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) terminou 2021 em 27,9%, ante 23,7% em 2020. Descontados os empréstimos imobiliários, o comprometimento da renda ficou em 25,6% no ano passado, ante 21,5% no ano anterior.

Continua depois da publicidade

9 formas de transformar o seu Imposto de Renda em dinheiro: um eBook gratuito te mostra como – acesse aqui!

LEIA MAIS