Varejo avançou além do esperado, mas sobre base fraca e com crescimento em poucas categorias, apontam economistas

Apesar do indicador ter superado as previsões do mercado, número pecou em qualidade e revela fraqueza em categorias-chave

Mitchel Diniz

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À primeira vista, as vendas no varejo brasileiro parecem ter surpreendido positivamente, avançando 0,8% em janeiro frente a dezembro de 2021, acima do esperado pelo consenso do mercado. Na prática, porém, o número não empolgou. Analistas chamam atenção para crescimento concentrado em poucos setores e uma revisão negativa sobre o indicador de dezembro, cujo desempenho passou a -1,9%, de 0,1% anteriormente.

“O efeito base mudou, dezembro ficou em um patamar mais baixo e por isso tivemos essa surpresa para cima, uma variação mais alta no número de janeiro de 2022”, explica Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest.

Além disso, a queda de 0,3% no varejo ampliado interrompeu uma sequência de duas altas moderadas, ainda que não tenha sido tão ruim quanto o mercado esperava – o consenso de mercado previa uma retração de 1,1% na comparação mensal.

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“Apesar do resultado principal ter vindo acima do esperado, a composição das vendas no varejo não foi animadora, pois sete das dez atividades pesquisadas pelo IBGE recuaram em relação a dezembro”, destaca a XP. A análise chama atenção para a queda de 1,9% no segmento de veículos, motocicletas e autopeças e de 3,9% em vestuário e calçado.

Mirella, da AZ Quest, diz que o desempenho do segmento automotivo reflete sintomas do choque de gargalos.

As categorias de cosmésticos e perfumaria e de “outros artigos pessoais e domésticos” surpreenderam positivamente, sendo que essa última cresceu 9,4% em cima de uma base deteriorada – em dezembro, o segmento havia recuado 9,9%.

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A XP prevê que o consumo das famílias terá crescimento modesto em 2022, de 0,5%, na comparação com 2021. “A inflação em brasa, os baixos salários reais, as taxas de juros crescentes e o endividamento crescente das famílias provavelmente afetarão o consumo”, escreveram os analistas. Para as vendas principais do varejo (excluindo automóveis e materiais de construção), a expectativa é de alta de 0,7%. Para o varejo ampliado, o crescimento deve ser de 1,2% em 2022, de acordo com cálculos da XP.

“O resultado melhor do que o esperado não foi muito brilhante quando se analisa mais profundamente e a atividade provavelmente começará a sentir os impactos da alta inflação, elevação das taxas de juros e grande incerteza”, comentou o Bradesco BBI sobre os números do varejo em janeiro. A casa estima crescimento de 0,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2022.

“Inflação alta, condições financeiras domésticas mais apertadas, maior incerteza política, altos níveis de endividamento das famílias e sentimento fraco do consumidor prejudicaram a atividade de varejo no segundo semestre de 2021 e devem continuar a gerar ventos contrários para o setor nos próximos meses”, prevê o Goldman Sachs.

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Nos últimos doze meses, o varejo acumula alta de 1,3%. O setor encontra-se 0,8% abaixo do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020), e 6,5% abaixo do pico da série (outubro de 2020). Na comparação com janeiro de 2021, as vendas de janeiro deste ano recuaram 1,90%.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados