Brasil deve diminuir dependência de hidrelétricas, destravar burocracia e buscar mais fontes verdes por energia segura, indica estudo

Até 2040, país deve registrar alta de 60% no consumo de energia; matriz mais diversa é importante para queda da emissão dos gases do efeito estufa

Dhiego Maia

Fazenda solar

Publicidade

GONÇALVES (MG) — O Brasil vai registrar, até 2040, um crescimento previsto de até 60% no consumo de energia. Para dar conta desta demanda, o país precisará deixar a dependência que possui hoje da hidroeletricidade e ampliar na sua matriz energética a participação de outras fontes renováveis.

Essa é uma das conclusões da 23ª edição do estudo “Observatório de Mercados de Energia Mundial”, produzido pela Capgemini, multinacional francesa especializada em serviços de consultoria e tecnologia.

O relatório analisa as tendências dos mercados e tecnologias de eletricidade e gás entre as maiores economias do planeta e fornece insights sobre o progresso na luta contra o aquecimento global e a transição energética em curso.

Continua depois da publicidade

O país está impactado, no momento, pela pior crise hídrica dos últimos 91 anos contra os seus reservatórios usados na produção de energia elétrica.

Com as turbinas operando em baixa, o governo Bolsonaro (sem partido) acionou um conjunto de térmicas – mais custosas e poluentes — para não deixar o sistema entrar em colapso e mandou a conta disso ao consumidor, que vai pagar por uma tarifa mais cara até abril de 2022.

“Diversificar a matriz é a palavra de ordem dessa edição do estudo”, afirma Giulio Salomone, vice-presidente de Utilities, Telecom & Industries da Capgemini Brasil. “Se não apostar em outras fontes, o Brasil vai continuar a sofrer com a baixa qualidade da água na geração de energia.”

Continua depois da publicidade

Segundo o estudo, as fontes de energia renovável representam 83% da matriz energética brasileira, que possui 175.000 MW de capacidade instalada de geração de energia. Hidrelétricas lideram, com 63,8% da matriz; eólica estão na sequência, com 9,3% de participação; biomassa e biogás atingem 8,9%; e a solar centralizada, 1,4%.

“O Brasil possui áreas únicas no mundo para a geração de eólica e solar, um vasto mercado em expansão”, afirma Salomone.

Para Salomone, o país também precisa olhar para o hidrogênio verde que, apesar de mais caro, tem potencial de descarbonizar cerca de 15% da economia mundial. Existe, no momento, uma parceria avançada entre empresas brasileiras e estrangeiras na produção de hidrogênio verde no Ceará.

Publicidade

O estudo destaca ser preciso destravar as burocracias e buscar mais previsibilidade nos projetos para atrair o investidor ao setor de energia, cuja demanda pelo cumprimento da agenda verde só aumenta.

“Os participantes do setor de energia e serviços públicos estão se movendo rapidamente para descarbonizar e aproveitar a atual transição energética para desenvolver novos modelos e se reinventar de maneiras valiosas digitalizando e adotando tecnologias de redução de carbono. Muitos estão tentando encontrar o equilíbrio certo entre atender às expectativas das partes interessadas e garantir a transformação dos negócios em mercados competitivos”, aponta o relatório.

Globalmente, o fornecimento de eletricidade de base renovável aumentou, enquanto os custos para a produção desse tipo de energia caíram em 2020. “As capacidades de geração de energia solar e eólica aumentaram em 2020, representando 10% do mercado de geração de energia elétrica”, diz o estudo.

Continua depois da publicidade

“Mas a tendência de redução de custos pode se reverter em 2021 e nos anos seguintes, com o aumento dos preços críticos de metais, equipamentos e transporte, bem como as taxas de juros”.

Independentemente dos soluços de mercado, que impactam a infraestrutura para a produção de energia limpa, o estudo mostra que só a partir desse tipo de geração, as nações conseguirão cumprir seus compromissos de redução dos gases do efeito estufa, um dos pactos firmados na recente COP 26, realizada em Glasgow, na Escócia.

Embora o apelo por tecnologias limpas, essenciais para a transição energética, comece a se intensificar, é crucial que os países lembrem que isso significa “não comprometer a segurança do fornecimento ou acessibilidade [do insumo].”

Publicidade

O estudo, que será apresentado nesta quinta-feira (25) a executivos do setor, aponta algumas recomendações para o cumprimento da agenda climática e da garantia segura do fornecimento de energia às populações.

Para a Capgemini, os governos precisam definir planos ambiciosos e realistas de transição energética; acelerar a pesquisa em tecnologias de redução de carbono diminuindo os obstáculos administrativos para as instalações renováveis; medir os efeitos das ações tomadas; implementar medidas de adaptação, para lidar com o atraso no alcance das metas climáticas; e dar atenção à segurança cibernética das redes, uma vez que mais tecnologias estão sendo conectadas às instalações.

Pablo Spyer, o Tourinho de Ouro, revela 5 investimentos para ganhar dinheiro com a inflação

Dhiego Maia

Subeditor de Finanças do InfoMoney. Escreve e edita matérias sobre carreira, economia, empreendedorismo, inovação, investimentos, negócios, startups e tecnologia.