‘Nerds da luz’: clientes caçam energia mais barata para painel solar e carro elétrico

Grupo surge no rastro de equipamentos mais baratos para moradias automatizadas em relação ao consumo

Bloomberg

Ilustração de casa automatizada (Pixabay)

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Quando a empresa de energia da cidade de Kevin Wood começou a oferecer dinheiro aos seus clientes para que eles usassem menos eletricidade, ele, que tem um filho, precisou travar uma batalha.

Wood mora em Hampshire, no sul da Inglaterra, e estava ansioso para aliar economia à redução na demanda de eletricidade. Mas adolescentes são ainda mais difíceis de gerenciar do que redes elétricas sobrecarregadas.

“Tentamos dizer: ‘olha, não use seu Xbox por uma hora’”, diz Wood. “[Funcionou] uma vez. Mas concordamos em não fazer isso novamente”.

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A diplomacia com o filho é apenas uma parte da configuração de energia doméstica de Wood. Ele tem painéis solares, uma bateria e um carro elétrico. Mas instalar toda essa tecnologia foi apenas a primeira etapa — agora, Wood não consegue parar de prestar atenção nisso.

Ele fica de olho nos horários em que a energia está mais barata para lavar roupa, cozinhar e recarregar o carro. “Estou bastante orgulhoso do fato de que vou produzir mais do que consumo”, diz Wood.

Ele faz parte de um novo grupo de clientes engajados em relação à eletricidade. Painéis solares, baterias domésticas e outros dispositivos eficientes em energia estão mais baratos e acessíveis do que nunca.

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Ao mesmo tempo, contas de luz mais altas estão fazendo com que todos fiquem mais conscientes do consumo, e as empresas de energia repassam isso na forma de tarifas mais baratas quando a demanda é baixa e tarifas mais caras quando a demanda é alta.

Juntos, esses fatores estão criando uma nova classe de consumidores: os “nerds” da eletricidade doméstica. Por enquanto ainda é um nicho, mas a “experiência nerd” contém lições para todos os consumidores e até para as empresas de energia.

Empresa x cliente: uma relação difícil?

A relação entre empresa de energia e cliente geralmente é de mão única: a empresa oferece um preço, o consumidor paga e usa a energia fornecida. Mas, à medida que as redes de energia se afastam dos combustíveis fósseis, combinar demanda e oferta está se tornando mais desafiador.

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As companhias estão incentivando os clientes a otimizar seu uso de eletricidade de acordo com as necessidades da rede e em torno de períodos de demanda de pico. Enquanto isso, os clientes estão começando a complementar a rede com dispositivos que geram e armazenam eletricidade em casa.

“As decisões e ações que as pessoas tomam como consumidores estão tendo mais impacto no sistema de energia”, diz Marie Claire Brisbois, professora de política energética na Universidade de Sussex.

Como virar um ‘nerde da eletricidade’?

Então, como dar o salto de cliente para “nerd da eletricidade”? Muitas pessoas sugerem um pequeno empurrão — como mudar os horários de uso da máquina de lavar roupa para aproveitar os preços mais baixos da energia ou adicionar isolamento para melhorar a eficiência energética — como o primeiro passo.

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Uma vez que a tecnologia está instalada, os “nerds de energia” dizem que não há volta. Observar a eletricidade grátis fluir para dentro de sua casa — e fazer uso ótimo dela — é simplesmente viciante. Carros elétricos são a porta de entrada para muitos entusiastas.

Para Robert Wehr, 62, que mora em uma área rural do norte da Alemanha, adquirir um Volkswagen e-Golf em 2020 levou à instalação de painéis solares, seguida por um medidor inteligente para rastrear o uso de eletricidade. “Você sempre pode ver o consumo exato de eletricidade que você tem no momento”, diz Wehr. “Isso leva a pensamentos do tipo ‘caramba, como devemos usar a lava-louças?’ Você de repente passa a observar quanto a chaleira consome.”

Além de economizar dinheiro — e despertar a curiosidade — essa versão em pequena escala do que as empresas de serviços públicos chamam de “flexibilidade de carga” pode ser fundamental para gerenciar uma rede de energia mais intermitente, diz Mike Fell, pesquisador sênior do UCL Energy Institute em Londres. A otimização da demanda também poderia reduzir a necessidade de gastar dinheiro dos contribuintes na construção de novas fontes de energia.

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“Cada vez mais há a capacidade de oferecer novos serviços e fornecer níveis de controle, o que é atraente para muitas pessoas, seja para melhorar o conforto ou porque é interessante para brincar”, diz Fell. “Pode ser bastante empoderador para pessoas que têm a capacidade de se envolver com isso.”

O último desafio do entusiasta de energia doméstica é a automação. Um sistema computadorizado pode ser programado para enviar energia barata da rede para um veículo elétrico conectado durante a noite, por exemplo, ou para carregar uma bateria dos painéis solares assim que o proprietário sair para o trabalho, e depois liberá-la para a cozinha na hora do jantar.

Várias empresas, incluindo Tesla e Google, estão começando a investir nesse espaço, prometendo simplificar o gerenciamento de energia doméstica para consumidores que têm os equipamentos, mas não têm interesse em monitorá-los.

Por enquanto, no entanto, a automação de energia doméstica é, em grande parte, feita pelo próprio usuário.

Assim como o sistema global de energia é desigual — 775 milhões de pessoas vivem sem eletricidade, enquanto outros consomem muitas vezes a média global — a transição para energia elétrica descentralizada apresenta novos desafios de equidade, diz Matthew Hannon, professor de negócios e política de energia sustentável na Universidade de Strathclyde, na Escócia.

Decidir quando usar energia depende de flexibilidade que pode não estar disponível para aqueles que estão doentes ou cuidando de crianças pequenas ou idosos. E, embora os painéis solares, bombas de calor e baterias permitam que seus proprietários economizem, eles também custam dinheiro. “A grande questão é como nivelamos o campo e garantimos que as pessoas tenham acesso equitativo aos benefícios disso”, diz Hannon.