Com Assaí, Natura e Vale na carteira, SPX lança fundo de previdência de ações

Produto será voltado para investidores qualificados e terá limite de alocação no exterior de 40% do patrimônio líquido

Beatriz Cutait

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – A SPX, gestora de Rogério Xavier, tem acentuado as preocupações com o cenário brasileiro. Uma piora da avaliação sobre a cena política e fiscal doméstica tem estimulado alocações mais conservadoras na carteira e uma redução da posição comprada em Bolsa brasileira, como ficou claro na carta enviada neste mês aos cotistas do multimercado Nimitz.

Embora a Bolsa não tenha andado ainda neste ano – o Ibovespa acumula leve queda de 0,17% em 2021 –, a percepção da SPX é que os preços dos ativos ainda não embutem os riscos no horizonte.

A visão menos construtiva com o curto prazo, contudo, não impede a gestora de apostar em um produto com foco em ações para o longo prazo. A SPX lança nesta terça-feira (13) o fundo SPX Long Bias Previdenciário, gerido pelo sócio controlador Leonardo Linhares.

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O fundo busca seguir a mesma estratégia e o nível de exposição do SPX Falcon, respeitada a regulação do produto. O Falcon rende 232,6% desde sua criação, em setembro de 2012, contra a alta de 164% do benchmark (IPCA mais 6%). No primeiro trimestre do ano, o fundo teve ganhos de 8,2%, também acima da valorização de 3,8% do referencial.

A carteira previdenciária é a segunda da casa, que já conta com o multimercado macro SPX Lancer Previdenciário.

A decisão acompanha a evolução da regulamentação brasileira, que passou a permitir produtos mais sofisticados de previdência nos últimos anos, especialmente com mudanças na virada de 2019 para 2020, o que possibilitou o ingresso de gestoras independentes em um ambiente até então (e ainda) dominado pelos grandes bancos, conta Bruno Marangoni, sócio responsável por produtos e novos negócios na SPX.

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“Estamos trazendo o produto que é o nosso carro-chefe para a previdência. As restrições que ainda existem não vão impedir esse fundo de ter um nível de exposição e diversificação muito próximo ao do Falcon”, diz.

Na visão da gestora, o novo fundo previdenciário long bias é um produto mais atemporal, capaz de atravessar melhor a volatilidade de ciclos econômicos no Brasil.

O produto será voltado apenas para investidores qualificados, com ao menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras, e terá limite de alocação no exterior de 40% do patrimônio líquido e exposição líquida comprada máxima de 120%.

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O valor mínimo de investimento será de R$ 20 mil, com taxas de administração e performance de 2% ao ano e 20% sobre o IPCA mais IMA-B, respectivamente, e prazo de resgate de 30 dias úteis.

“Enxergamos a previdência como o futuro da alocação no mercado brasileiro. Há a vantagem tributária com o imposto que chega a até 10%, a questão de não ter come-cotas e uma discussão bem próxima sobre a tributação de fundos exclusivos. Então mesmo para o investidor mais sofisticado, o produto agora faz sentido”, diz Rodrigo Godinho, sócio responsável pela área de relacionamento com investidores da SPX.

Vale, Assaí e Natura na carteira

Depois de iniciar o ano com uma avaliação mais favorável de Brasil e mundo, com a retomada do crescimento a partir da vacinação da população contra a Covid-19, Linhares conta que a SPX passou a ficar mais cautelosa, com a piora dos fundamentos locais.

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Até então, diz, o Brasil vinha sendo impulsionado pelos preços de commodities, a maior liquidez por conta dos estímulos adotados nos Estados Unidos e com o maior fluxo para risco em um contexto de juros muito baixos.

Agora, contudo, Linhares vê o otimismo com o Brasil, alavancado pelo então alinhamento da nova composição do Congresso e o governo, sendo “meio esfacelado, destruído”.

As causas dessa mudança residem na surpresa negativa com a inflação, com a decisão atrasada, em seu ponto de vista, de retirada dos estímulos pelo Banco Central, e ao “ataque ao arcabouço fiscal”, com as discussões envolvendo um furo do teto de gastos.

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“Houve uma piora relevante na política monetária e na fiscal, e também estamos discutindo um cenário de crescimento pior”, diz Linhares.

Para completar o quadro, o gestor menciona a antecipação do debate eleitoral com a possibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, se candidatar à disputa presidencial, o que pode estimular uma postura mais populista do atual governo, além de diminuir, em sua avaliação, a chance de uma chapa mais de centro vencer as eleições.

“Claramente é um cenário pior. O mercado tem feito seus ajustes e a Bolsa está sofrendo menos pela parte de commodities e com o efeito do dólar, mas, na margem, estou mais conservador e temos diminuído a posição direcional dos fundos”, afirma Linhares.

O fundo Falcon tem uma posição de cerca de 50% direcional em Brasil, em grande parte em ações mais defensivas, como de exportadoras como Vale (VALE3), e papéis de empresas como Natura (NTCO3) e Assaí (ASAI3).

No caso da varejista, Linhares considera o negócio simples, com um retorno sobre o capital investido (ROIC) bastante elevado, uma gestão tida como “excepcional” e um valuation “extremamente atrativo”. “É tudo que a gente quer: valor, qualidade e opcionalidade, com surpresas positivas nos próximos 12 a 18 meses.”

O Falcon tem hoje entre 15% e 20% em alocação global, não concentrada apenas em bolsa americana, diante de preocupações com um aumento de impostos pelo governo de Joe Biden, com os riscos inflacionários e possíveis mudanças bruscas na política monetária e com as discussões com a China.

O país asiático não compõe diretamente a fatia global da carteira do Falcon atualmente, que, além dos EUA, tem posições em Chile, México, Japão, Europa e emergentes em geral.

Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.