Bônus de curto prazo estimula fraudes contábeis em incorporadoras da Bovespa, diz gestor

Na opinião de Tiago Reis, da Set Investimentos, companhias que possuem acionista controlador têm menos chance de praticar este tipo de contabilidade

Diego Lazzaris Borges

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SÃO PAULO – Os polpudos bônus que os funcionários do alto escalão das incorporadoras recebem periodicamente, baseados nas receitas geradas por estas companhias, estimulam a fraude na contabilidade em relação ao estouro do orçamento das obras. A opinião é do sócio e gestor da Set Investimentos, Tiago Reis. “A contabilidade de algumas empresas permite fraude e se a estrutura de remuneração for mal desenhada ela incentiva a fraude. Eu não acredito em desorganização [em relação ao estouro do orçamento]”, afirmou Reis ao InfoMoney.

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Em carta aos cotistas do fundo, a Set também já tratou deste assunto. A gestora lembrou que as incorporadoras brasileiras utilizam o método POC (percent of construction) para reconhecer as receitas das obras. Se bem aplicado, este método facilita a compreensão do andamento da construção. Porém, se mal aplicado, o método abre espaço para que sejam divulgados balanços que não correspondem à realidade contábil, aponta a Set.

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O método POC consiste em prever os custos de uma obra e considerar que a evolução da construção é proporcional à evolução dos seus gastos, com o reconhecimento proporcional das receitas. O gestor explica que este cálculo faz com que as receitas sejam reconhecidas de maneira antecipada em relação ao andamento das obras, melhorando os resultados de curto prazo – já que uma obra costuma demorar alguns anos para ser concluída. No entanto, isso cria os estouros de orçamento que surgem tempos depois.

“O pior cenário ocorre quando a remuneração da diretoria é atrelada a métricas de curto prazo, seja com base no lucro apurado pelo POC, seja por stock options. Nesses casos, não apenas existe a possibilidade de se inflar o resultado de curto prazo em detrimento do resultado futuro, como existe o incentivo econômico para que essa prática ocorra”, alerta.

Na opinião de Reis, as companhias que possuem acionista controlador têm menos chance de praticar este tipo de contabilidade, pois ele tende a priorizar a rentabilidade e a perpetuação dos negócios “Nas empresas que têm ‘dono’, as chances disso acontecer são menores. O controlador não está olhando o bônus dele no próximo trimestre, ele está olhando o patrimônio dele na próxima década”, afirma Reis.

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Além disso, a Set lembra que nas grandes empresas do setor que não possuem controlador, os principais acionistas são fundos passivos, que apenas replicam índices e não costumam – ou não podem – participar ativamente na gestão da empresa. “Sabemos que interesses alinhados por si só não representam garantias concretas de que equívocos não irão ocorrer. Porém, quando os incentivos da administração são os mesmos que os dos acionistas, as tragédias se tornam menos comuns”.

Controle de obras
A Set ressalta que uma característica comum às empresas de melhor desempenho do setor é o controle rigoroso das obras em andamento. Para a gestora, uma companhia que tem essa característica é a Helbor , que mesmo tendo obras em várias regiões, consegue manter as construções dentro do orçamento. “[As obras se mantêm dentro do orçamento] pelo fato de a construção dos imóveis ser contratada a preços fechados, garantindo que os custos orçados sejam próximos ou iguais ao custo real”, afirma a Set.

Diego Lazzaris Borges

Coordenador de conteúdo educacional do InfoMoney, ganhou 3 vezes o prêmio de jornalismo da Abecip