Muita gente não considera que a poupança seja um investimento de fato. Mas na prática, ela normalmente é o primeiro contato da maioria das pessoas com as aplicações disponíveis no mercado financeiro. Cerca de 67 milhões de brasileiros têm pelo menos R$ 100 guardados na caderneta. A pergunta agora é: ainda vale a pena investir na poupança?

O InfoMoney preparou esse guia exatamente para ajudar você a tomar as melhores decisões para o seu dinheiro. Saiba como a poupança pode ser usada para investir direito e quando deve ser deixada de lado:

Como funciona a Poupança?

A poupança é uma aplicação de renda fixa simples e acessível para todo mundo. Até menores de idade também podem ter uma conta em seu nome, desde que sejam representados ou assistidos pelo pai, mãe ou responsável legal.

Para ter acesso, basta escolher um banco de sua preferência, apresentar alguns documentos necessários para a abertura da conta e aguardar a aprovação.

Vale destacar que a rentabilidade da poupança é a mesma em qualquer instituição. Portanto, a escolha do banco não vai influenciar no retorno do investimento.

Conheça aqui os detalhes sobre o funcionamento da poupança:

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Taxas e custos

Um ponto a favor da poupança é o fato de ser isenta de custos. Na verdade, a cobrança de tarifas de abertura ou de manutenção, taxas de administração ou de performance, é proibida. Além disso, também não há incidência de tributos. Os rendimentos da caderneta não pagam Imposto de Renda.

O fato de ser um investimento isento não elimina a necessidade de, por exemplo, incluir a poupança na declaração anual de Imposto de Renda. Quem está obrigado a fazer o ajuste precisa declarar os recursos mantidos na caderneta a partir de R$ 140.

Leia também:
• Como declarar a Poupança no Imposto de Renda

Liquidez

A facilidade para resgatar uma aplicação é um dos principais atrativos da poupança. Essa é uma tradução possível para o conceito de liquidez – que, no caso da caderneta, é elevada. Ao solicitar um resgate, os recursos caem na conta corrente no mesmo momento, de maneira simples e nada burocrática.

Na prática, costuma-se dizer que a poupança tem liquidez diária, exatamente porque os resgates podem ser realizados a qualquer momento, sem complicação.

É uma situação muito diferente de alguns fundos multimercados, que podem prever já no regulamento um prazo de semanas entre a solicitação e a efetivação de um saque, ou mesmo do investimento em certos tipos de ações menos negociadas no pregão. Nesses casos, o nível de liquidez é baixo.

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Aniversário da poupança

Embora tenha liquidez diária, a rentabilização do investimento na poupança funciona de um jeito diferente. A remuneração da caderneta é creditada mensalmente apenas na sua data de “aniversário”, que é o dia do mês em que o depósito foi feito. Assim, uma aplicação realizada no dia 10 de um determinado mês só fará jus à remuneração exatamente no dia 10 do mês seguinte. Se resgatar o dinheiro no dia 9, perde-se todo o retorno do período.

Esse modelo de remuneração é muito diferente do adotado em outros produtos de renda fixa. Nos fundos ou nos CDBs, por exemplo, a rentabilidade costuma ser apresentada como uma taxa mensal ou anual, mas ela é creditada todos os dias para o investidor. Mesmo que resgate o dinheiro no meio do mês, ele recebe a remuneração proporcional ao período em que manteve a aplicação.

Garantias

A poupança conta com a proteção do FGC – o Fundo Garantidor de Créditos, mantido pelas instituições financeiras. O FGC assegura que, em caso de calote ou quebra do banco, quem tem dinheiro aplicado na caderneta receberá de volta até R$ 250 mil.

Importante lembrar que a garantia do FGC é por CPF e por instituição financeira. Portanto, se um investidor tiver uma poupança e também aplicações em CDBs de um banco que apresentar problemas, a garantia de R$ 250 mil valerá para todas elas somadas.

Destino dos recursos aplicados

A poupança oferece um rendimento aos investidores e também tem um papel social. É que 65% dos recursos aplicados na caderneta precisam ser obrigatoriamente destinados ao mercado imobiliário. Ou seja, a maior parte do dinheiro que você guarda na poupança só pode ser usado pelos bancos para conceder financiamentos a quem quer comprar um imóvel próprio.

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Qual é o Rendimento da Poupança?

A regra de rendimento da poupança foi a mesma durante tanto tempo que muita gente ainda não sabe que ela mudou alguns anos atrás. Ela já oferecia juros de 6% ao ano quando foi criada, no século 19, pelo imperador Dom Pedro II. Por isso, ainda há quem acredite que a remuneração é sempre de 0,5% ao mês, mais a variação da Taxa Referencial (TR).

Só que não é bem assim. As regras de remuneração da caderneta mudaram em 2012. Elas valem para todos os bancos, o que significa que você receberá sempre o mesmo na poupança, não importa onde. Desde então, foi estabelecido um gatilho que altera o rendimento conforme o patamar em que se encontra a Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira. Basicamente, funciona assim:

Se a Selic estiver acima de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança será de 0,5% ao mês mais a variação da TR;

Se a Selic estiver igual a ou abaixo de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança será equivalente a 70% da Selic mais a variação da TR.

Essa regra vale para os depósitos feitos a partir do dia 4 de maio de 2012, quando as novas regras passaram a valer. Quem mantém poupanças anteriores a essa data continua recebendo rendimentos como antigamente: 0,5% ao mês mais a variação da TR.

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A Selic alcançou 8,5% ao ano pela primeira vez em maio de 2012 e permaneceu abaixo desse patamar até agosto de 2013, quando os juros voltaram a subir. A partir de setembro de 2017 a barreira dos 8,5% ao ano foi novamente rompida, fazendo o rendimento da poupança despencar.

A rentabilidade da caderneta também está sendo prejudicada pela TR. A Taxa Referencial é calculada a partir das médias das taxas dos CDBs prefixados, emitidos por 30 instituições financeiras. Só que mudanças recentes na fórmula posicionaram a TR em zero desde setembro de 2017.

Como a inflação afeta a caderneta e o seu bolso

A poupança está rendendo menos a cada ano. Isso é um problema para os investidores que mantêm todos os recursos aplicados na caderneta. E não é apenas uma questão de ganhar menos do que já se ganhou no passado. A redução da rentabilidade da poupança pode acabar levando a uma perda real de poder de compra.

Vamos entender as razões. Os preços dos produtos e serviços na economia oscilam com o tempo – e o resultado disso é a inflação, que corrói o valor do dinheiro. Proteger as economias da inflação, aliás, é uma das razões para as pessoas investirem no mercado financeiro.

O problema é que investimentos como a poupança estão oferecendo rendimentos tão baixos que estão cada vez mais próximos da inflação – em alguns momentos, até abaixo dela. Veja como foi a remuneração da caderneta nos últimos anos, em comparação com a inflação medida pelo IPCA:

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AnoRendimento da PoupançaInflação (IPCA)
20184,62%4,20%
20176,61%3,26%
20168,30%7,31%
20158,07%11,54%
20147,07%7,39%

Fonte: Abecip e Banco Central

Quando isso acontece, dizemos que o rendimento real da poupança – ou seja, o retorno descontada a inflação – está baixo ou até negativo, em alguns casos.

Se essa situação se prolonga por muito tempo, o investidor tende a perder poder de compra, ou seja, não conseguirá manter o mesmo padrão de consumo no futuro, porque seu dinheiro valerá amanhã menos do que vale hoje.

Em outras palavras, o investidor perde dinheiro com a poupança.

Vale a pena investir na Poupança?

Por muito tempo, a poupança foi a única opção de investimento para uma enorme parcela da população. Em geral, os produtos financeiros não estavam ao alcance dos brasileiros. Nas últimas duas décadas, no entanto, o mercado se modernizou – e essa situação mudou bastante.

A poupança continua sendo uma aplicação sem burocracia. Não exige uma grande reflexão – basta transferir os recursos da conta corrente para a caderneta. Por não prever aplicação mínima, é uma alternativa para quem tem pouco dinheiro para investir. E como não envolve custos e tem garantia do FGC, pode ser uma opção para quem está começando a se organizar financeiramente.

A rentabilidade, no entanto, é muito baixa – e o ganho real, próximo de zero ou até negativo. Isso deve ser considerada na hora de avaliar onde investir. Algumas outras aplicações de renda fixa com risco equivalente ao da caderneta oferecem uma remuneração mais alta e, portanto, mais chance de preservar o poder de compra no futuro.

Quatro investimentos mais rentáveis que a Poupança

Existem diversos outros investimentos de renda fixa que podem render mais do que a poupança. Ainda que envolvam riscos diferentes, eles podem ser atenuados. Selecionamos quatro opções para os investidores que desejam conhecer alternativas: CDBs, LCIs e LCAs, títulos públicos e fundos de renda fixa.

Veja a diferença de rentabilidade entre eles e a poupança em 2018:

ProdutoRentabilidade em 2018 Rentabilidade em 2019
(até outubro)  
Poupança4,62%3,33%
CDB
(100% do CDI)
6,40%5,17%
LCI ou LCA
(90% do CDI)
5,74%4,64%
Título público
(Tesouro Selic 2023 )
6,21%5,14%
Fundo de Renda Fixa
(Renda Fixa Simples )
5,39%4,30%

Fontes: Banco Central, Tesouro Nacional, Anbima, Abecip

Quer entender as razões para esse desempenho? Confira as características de cada um deles abaixo:

CDBs

Os Certificados de Depósito Bancário são títulos emitidos pelos bancos para levantar dinheiro e financiar suas atividades de crédito. Quem compra um CDB faz uma espécie de “empréstimo” à instituição financeira, em troca de uma remuneração. Uma diferença para a poupança é que a rentabilidade dessa aplicação é creditada diariamente – e não apenas mensalmente, na data de “aniversário”.

Os CDBs mais comuns são pós-fixados e oferecem como remuneração um percentual de algum índice de referência de renda fixa – como a própria Selic ou a taxa do CDI (Certificado de Depósito Interfinanceiro). Em alguns bancos, essa rentabilidade pode ser tão baixa quanto a da poupança (de 70% do CDI, por exemplo). Mas há outros que, para atrair investidores, podem oferecer bem mais de 100% do CDI.

Assim como a poupança, os CDBs também contam com a cobertura do FGC. Mas diferentemente dela, seus rendimentos não são isentos de Imposto de Renda. A tributação varia de 15% a 22,5%, dependendo do tempo em que a aplicação foi mantida. Quanto maior o período do investimento, menor a alíquota aplicada.

LCI e LCA

As letras de crédito – seja imobiliário (LCI) ou do agronegócio (LCA) – funcionam em uma lógica muito parecida com a dos CDBs. A principal diferença é que as instituições financeiras que as emitem devem ter alguma atividade de crédito relacionada a um desses dois setores.

Também nesse caso, as letras mais comuns são as pós-fixadas. Normalmente, no entanto, elas oferecem uma remuneração um pouco menor que a dos CDBs. É um pouco mais raro, por exemplo, encontrar opções que paguem mais do que 100% do CDI.

Há uma razão para isso: as LCIs e LCAs são isentas de Imposto de Renda para pessoas físicas, assim como a poupança. Como essa é uma vantagem grande para os investidores, as instituições financeiras conseguem negociar rentabilidades menores e, ainda assim, manter a atratividade desses produtos. As letras também contam com a cobertura do FGC.

Títulos públicos

Se quem compra um CDB empresta dinheiro para o banco, quem aplica em títulos públicos empresta dinheiro para o governo em troca de uma remuneração baseada em juros. Com esses recursos, a máquina pública funciona: eles servem para fazer investimentos e manter os serviços em funcionamento.

Os títulos púbicos são considerados os investimentos mais seguros do Brasil. Afinal, quem os emite é a mesma grande entidade que imprime o dinheiro do país. Por isso, mesmo sem contar com a garantia do FGC, esses papéis são considerados confiáveis pelos investidores.

Os investidores podem comprar títulos públicos pelo Tesouro Direto, um sistema criado pelo governo em 2002 para facilitar as aplicações das pessoas físicas. Há papéis prefixados e atrelados à inflação, mas os que mais se assemelham à poupança são os pós-fixados, que pagam a taxa Selic – em algumas épocas com um pequeno acréscimo, em outras, com um pequeno desconto.

Há duas diferenças fundamentais entre os títulos públicos e a poupança. A primeira, existem taxas. É preciso pagar uma tarifa de custódia à B3 (a bolsa de valores é quem organiza o sistema). Além dela, há também a opcional taxa de administração cobrada pelas instituições que ajudam os investidores a realizar as aplicações – que podem ser bancos, corretoras ou distribuidoras. Muitas delas isentam as pessoas desse custo, mas isso não é uma regra.

A segunda diferença é o fato de que os títulos públicos têm seus rendimentos tributados. As alíquotas são as mesmas aplicadas aos CDBs (15% a 22,5%, dependendo do período de aplicação).

Fundos de renda fixa

Fundos que investem em papéis que pagam juros – como títulos públicos, CDBs, letras de crédito e tantos outros – são chamados de fundos de renda fixa. Eles são opções muito comuns nos bancos e outras instituições financeiras e podem render mais do que a poupança também, dependendo de sua gestão.

As principais diferenças são: os fundos de renda fixa não contam com garantia do FGC; eles envolvem custos, com a cobrança de taxa de administração; e há incidência de Imposto de Renda sobre os rendimentos oferecidos aos investidores.