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A crise política voltou, mas otimismo com bancos brasileiros continua – e Deutsche destaca preferidos

Mesmo com a perspectiva de que as reformas econômicas serão adiadas e impactarão confiança, analistas seguem vendo melhora do ambiente operacional e, após visita na América Latina, destacaram preferência pelo Brasil em relação ao México
Por  Lara Rizério
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

SÃO PAULO – A crise política deflagrada pela delação da JBS representa mais um baque para a atividade econômica e deve dificultar a retomada após dois anos de intensa recessão. Esse processo aumenta a aversão ao risco dos mercados e um dos setores que vem sendo afetado é o financeiro , que vinha mostrando recuperação de olho nas perspectivas positivas para a retomada econômica. 

Mas, para o Deutsche Bank, que fez uma visita de campo ao Brasil e a outros países latinos recentemente, o setor financeiro brasileiro segue como uma maior oportunidade no Brasil, destacando a sua preferência no setor em relação aos ativos mexicanos e apontando a melhora do ambiente operacional. Durante o encontro com representantes de bancos como o ABC Brasil, Banco do Brasil, Cielo, BTG Pactual, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander Brasil, um dos comentários recorrentes foi sobre a diluição da agenda de reformas econômicas em meio à crise. Porém, as empresas com quem os analistas se encontraram parecem concordar que ainda há consenso para que as reformas sejam aprovadas, embora com um ritmo provavelmente mais lento e potencialmente mais diluído.

Apesar dos temores com a crise, os analistas Ignacio Ulargui e Tito Labarta apontam que os padrões de empréstimos já restritos dos bancos nos últimos anos devem manter a qualidade de ativos sob controle; além disso, as provisões ainda podem diminuir, o que guia a visão positiva. 

Neste contexto, eles seguem vendo um crescimento mais forte do lucro no Banco do Brasil (BBAS3) – alta de 24% este ano na comparação com o período anterior – e Santander Brasil (SANB11) – alta de 26% este ano, em comparação com o crescimento do lucro entre 11% e 12% para o Bradesco e Itaú Unibanco (ITUB4). 

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Além disso, os bancos continuam a se concentrar na receita de taxas e no controle de custos para compensar o fraco crescimento do crédito. Soma-se a isso o corte de juros mais lento do que o esperado sinalizado em comunicado da decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) na última semana, que pode beneficiar as NIMs (Margem Financeira) dessas instituições.

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Já no caso do México, os analistas apontam que a situação está mais positiva, mas que já se reflete plenamente no valuation das instituições do país. Eles destacam que, enquanto a grande maioria dos bancos mexicanos negocia a um múltiplo de 13,6 vezes o preço sobre o lucro esperado em 2017, os bancos da América Latina são negociados a um múltiplo de 11,4 vezes. Já os bancos brasileiros, a um múltiplo de 8,6 vezes. 

Os bancos preferidos

O Deutsche Bank mantém recomendação de compra para o Banco do Brasil, destacando-o como top pick do setor no Brasil e com preço-alvo de R$ 39,00, enquanto Itaú e Bradesco têm recomendação de manutenção com preços-alvo de US$ 11,00 e US$ 9,00 por ADR (American Depositary Receipt), respectivamente.

Já sobre o Santander Brasil (SANB11), a recomendação é de manutenção com preço-alvo de US$ 8,00. Porém, neste caso, eles recomendam a compra dos papéis do Santander espanhol, apostando justamente que o banco vai continuar se beneficiando da virada nas operações brasileiras em meio ao ganho de participação no mercado em empréstimos e expansão de margens. 

Em conversa com o Banco do Brasil, os analistas do Deutsche Bank destacaram alguns pontos como a não preocupação com o recente aumento dos índices de inadimplência no último trimestre, ressaltando que a deterioração da qualidade de crédito foi esperada e deve melhorar ao longo do ano. Eles ressaltaram que a inadimplência no setor agrícola também se deteriorou no trimestre devido a secas em certas partes do país, o que afetou os custos de produção. “No entanto, isso deve se normalizar nos próximos trimestres, como aconteceu no ano passado, particularmente porque tem sido um bom ano para a colheita”, aponta o Deutsche.

Já o desempenho mais fraco do crescimento do crédito é compensado com melhores margens, já que a pressão competitiva é mais branda do que no passado.  Por fim, o Deutsche aponta que a administração do BB está focada na redução dos custos e fará o que for possível para mantê-los sob controle. 

No caso do Bradesco, o grande desafio fica com o aumento das receitas em meio aos menores volumes. A expectativa do banco é de que a carteira de empréstimos registre avanço de 1% em 2017, mas os analistas do Deutsche veem queda. Enquanto isso, o catalisador para possíveis surpresas nos lucros pode vir de menores provisões, enquanto o desempenho no segmento de custos foi uma surpresa positiva no primeiro trimestre de 2017. 

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Já no caso do Itaú, o banco ainda vê uma paisagem competitiva relativamente benigna que deve continuar nos próximos trimestres. As restrições de capital dos bancos do setor público ajudaram a trazer a racionalização de preços para o mercado. Já o segmento mais competitivo é o de empréstimos automotivo, onde o Santander é mais agressivo do que outros pares. Assim como seus pares, o controle dos custos continua. O Santander, por sua vez, está mais otimista com relação ao crescimento dos empréstimos do que os seus pares, enquanto também vê margens de expansão. 

Desta forma, se os bancos eram uma boa opção num cenário de retomada, analistas de mercado seguem vendo boa oportunidade para o setor mesmo em meio ao momento de maior turbulência – e um grande motivo para tanto são as próprias medidas adotadas pelas instituições nos últimos meses. 

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Lara Rizério Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.

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