A ação brasileira que atraiu a atenção de Buffett virou a grande pedida para o volátil ano de 2018

Analistas do setor de seguros voltam as suas atenções para a IRB, que solta o seu balanço nesta quinta-feira 

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Investir em ações de seguradoras em tempos de queda na Selic não costuma ser recomendado: como a natureza do negócio destas empresas requer que elas possuam muito caixa – e caixa ‘’parado’’ na verdade está aplicado a algum ativo de renda fixa de alta liquidez -,  o retorno deste caixa tende a ser menor conforme os juros caem. Apesar de haver uma sinalização bastante clara de que o ciclo de corte de juros pode ter chegado ao fim no último Copom (Comitê de Política Monetária), que reduziu a Selic a 6,75% ao ano, há quem aposte em novos cortes ou em manutenção dos juros a níveis bastante baixos em meio aos dados de inflação, que devem seguir benignos. 
 
Associando isso ao fato de empresas como Porto Seguro (PSSA3) e SulAmérica (SULA11) terem disparado nas últimas semanas – alerta feito pelos analistas do BTG Pactual, inclusive – e pronto: a recomendação para não se expor ganha ainda mais força.  
 
Mas, para quem acompanha o mercado há um bom tempo, certamente já aprendeu que “não existe uma regra que dure pra sempre na bolsa”. E a IRB (IRBR3), ou Instituto Brasileiro de Resseguros, está aí para provar: a empresa, fundada em 1938 e hoje a principal de resseguros no Brasil, estreou na bolsa em 31 de julho de 2017 e ganhou neste ano a predileção de gestores e analistas – nos últimos dias, BTG Pactual,UBS, Credit Suisse e BB Investimentos recomendaram compra às ações. Os motivos vão desde a “segurança” que ela traz em um ano que promete tanta volatilidade até o possível interesse da Berkshire Hathaway, holding criada e comandada por ninguém menos que Warren Buffett, o maior investidor da história do mercado e atualmente 3º homem mais rico do mundo.
 
Os analistas vêm apontando uma visão positiva para a companhia, já de olho nos próximos passos após a verdadeira revolução que ela passou nos últimos anos.
 
IRB passou (conforme resumiu o Bradesco BBI em um dos primeiros relatórios de mercado após o IPO) de um monopólio estatal ineficiente para uma empresa de classe mundial nos últimos dez anos, tornando-se um player de primeira classe. “Nesse período, a empresa recuperou participação de mercado, melhorou sua eficiência e elevou rentabilidade patrimonial para 26% em 2016”, destacaram os analistas do banco em setembro. A combinação atrativa de crescimento, retorno e potencial de valorização atrai o mercado, ao mesmo tempo em que a sua posição no mercado brasileiro de resseguros – operação pela qual o segurador transfere a outro, total ou parcialmente, um risco assumido através da emissão de uma apólice ou um conjunto delas – pode fazer com que a companhia se beneficie do crescimento local ao mesmo tempo em que continua explorando oportunidades lá fora. 

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E, mesmo com a queda da Selic, que chegou à mínima histórica em dezembro, os analistas do BTG apontaram em nota a clientes alguns pontos para estarem bastante positivos no papel, principalmente no primeiro semestre. “Apesar da baixa de juros, ao que tudo indica, o mês de dezembro foi muito bom e, com isso, o quarto trimestre de 2017 deve fechar muito bem”, afirmam os analistas, ressaltando principalmente as receitas. Para eles, o primeiro trimestre deve ser muito forte do ponto de vista de receita. 
 
Um motivo importante para isso está nos prêmios, com o reconhecimento sendo diferente no resseguro – caso do IRB – versus o seguro. “Na seguradora, quando ela ganha novos contratos, reconhece tudo no prêmio emitido e vai diferindo os ganhos ao longo da vida da apólice no prêmio ganho. Em resseguro, entendemos que o prêmio emitido também é diferido (prêmio ganho tem um diferimento ainda mais longo), o que deve garantir uma receita forte novamente”, afirmam os analistas do banco.   
 
A expectativa ainda de muitos agentes do mercado é de que o IRB ganhou uma série de novos contratos, com validade a partir do dia 1 de janeiro. Assim, analistas como do Credit e do BTG avaliam que o quarto trimestre, cujos números serão revelados nesta quinta-feira (8) após o fechamento do mercado, deve ser bastante positivo. Segundo os analistas do BTG, a receita líquida pode vir bem acima do que os próprios analistas do banco e o consenso têm nos próximos trimestres, tornando-se possível para a empresa entregar o R$ 1 bilhão de lucro “prometidos” desde o IPO (no ano). Assim, vale ficar de olho no dia 8 de fevereiro, quando a companhia apresentará seus números dos últimos três meses do ano passado.
 
No caso do Credit,  a expectativa é de que a companhia reporte um lucro líquido de R$ 246 milhões no quarto trimestre, o que equivale a 28,4% de ROE (Return on Equity, calculado pela divisão do lucro líquido pelo patrimônio líquido) e que é 13% acima do consenso, com uma taxa de perdas um pouco melhor na operação local consolidada. 
 
Além do resultado, os analistas do banco suíço apontam outros catalisadores da companhia. O guidance de 2018 deve ser forte e levar o consenso a revisar os números para cima, em meio a indicações de que a companhia está ganhando novos contratos de outros emissores. Outros catalisadores também são a potencial melhora da governança corporativa com a indicação de pelo menos um representante dos minoritários no Conselho em março. “Os representantes dos minoritários são particularmente importantes no caso de uma empresa cujo presidente é nomeado pelo Tesouro Nacional e que tem três clientes importantes (BB Seguridade, Bradesco e Itaú Unibanco) como acionistas controladores”, aponta o Credit. 
 
Berkshire de olho na ação
Por último, mas não menos importante, está a intensificação das negociações em outubro com Berkshire Hathaway, quando os acionistas controladores poderão vender as ações do acordo de acionistas.
 

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A tese é reforçada com a matéria do Dow Jones Newswires do último dia 11 de janeiro, que apontou que Ajit Jain, que em tese defende comprar uma fatia no IRB, está entre os dois principais cotados para assumir a posição de Warren Buffett como executivo-chefe na Berkshire Hathaway. Na primeira quinzena de janeiro, ele foi promovido de diretor de operações de resseguros da empresa para vice-presidente de operações de seguros. E, com isso, as especulações aumentam sobre se a companhia do Oráculo de Omaha entrará nos papéis. Desta forma, outubro será um mês-chave, quando os acionistas controladores poderão vender as ações do acordo de acionistas. 
 
Perfil defensivo em um ano volátil

O Credit Suisse classifica o IRB como um papel de “perfil defensivo que um ano volátil como esse exige”. Por isso o banco avalia a compra como uma proteção de baixo custo: “acreditamos que o negócio do IRB não é substancialmente sensível ao ambiente econômico e político brasileiro, especialmente porque o Brasil é um país não catastrófico”. O único catalisador de macro relevante que impacta os resultados no curto prazo consiste em problemas em colheita, devido à grande exposição ao segmento agrícola. Além disso, a estratégia de internacionalização, que tem sido bem sucedida em termos de crescimento e rentabilidade, contribui para a resiliência do IRB para a economia local. 

Em meio a todo esse cenário, as ações do IRB entraram na Carteira InfoMoney de fevereiro, com uma participação de 6,5%.  A carteira já estava disponível aos alunos do curso “Como Montar uma Carteira de Ações Vencedora” desde 1 de fevereiro (não conhece o curso? Clique aqui!). Para o público em geral, a carteira ficou disponível para download nesta quinta-feira (8) na página do guia Onde Investir 2018. Confira o portfólio completo clicando aqui. 
 
 
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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.