Via Varejo divulgará resultados impactados por “tentativa de revolução” nesta quarta

Papel já chegou a despencar pela expectativa dos efeitos negativos de percalços na implementação de um novo sistema de vendas, mas saltou nos últimos pregões

Paula Zogbi

Publicidade

SÃO PAULO – Entre as primeiras empresas brasileiras a divulgar o balanço na temporada de resultados do terceiro trimestre de 2018, a Via Varejo (VVAR11) irá mostrar ao mercado, nesta quarta-feira (24), como sua tentativa de revolução tecnológica impactou suas contas.

Analistas do setor já disseram e repetiram: muito provavelmente, as margens da companhia virão deterioradas graças a uma série de percalços envolvendo a implementação de um novo sistema de vendas anunciado há cerca de dois meses.

Para a equipe de Research da XP Investimentos, a margem deve vir apertada mesmo com crescimento de vendas online de 13% e venda nas mesmas lojas de 5,4%. O BTG Pactual prevê Margem Ebitda de 3% e queda de R$ 93 milhões para a receita líquida da empresa. 

Continua depois da publicidade

Mas, na bolsa de valores, a empresa já pode ter chegado ao fundo do poço na precificação destes efeitos – e agora está no meio do movimento de rebote.

Após ser destaque em setembro e chegar a R$ 16,50, a ação da empresa chegou a despencar para R$ 13,35 entre o início de outubro e o dia 18 deste mês – uma queda de 19%.

Com a aproximação da divulgação dos resultados, porém, o papel virou para uma alta impressionante e praticamente zerou as perdas. No fechamento da última terça-feira, chegou a R$ 15,92 após subir quase 10% só naquele pregão e 8,52% na soma dos dois anteriores. Na abertura deste pregão, o papel subiu ainda mais e bateu R$ 16,32 pela manhã, mas já via queda no início da tarde, para R$ 15,88.

Aparentemente, os “caçadores de pechinchas” do mercado perceberam na queda da ação uma oportunidade para o longo prazo: o sistema não foi implementado com louvor ainda, mas seu potencial para os próximos meses é o mesmo – e a tese de investimento não muda.

O caminho tortuoso

Na primeira metade de setembro, diretores da Via Varejo disseram ao InfoMoney que aquele mês seria um momento-chave para o processo de transformação na companhia dentro da realidade omnicanal.

Estão completas desde então algumas das tecnologias consideradas essenciais para garantir a sobrevivência da varejista em um cenário muito mais conectado – entre elas, um sistema responsivo que facilita o fluxo de vendas: a ideia é estimular a compra em lojas físicas e online com atendimento totalmente personalizado através do uso de dados.

Mas a adaptação dos funcionários às novidades não será tão simples quanto parecia, e a Via Varejo descobriu isso da pior maneira.

Aproveite os ralis da temporada de resultados com corretagem ZERO. Abra sua conta na Clear clicando aqui. 

Esperava-se um incremento rápido nas vendas que não aconteceu, graças ao tempo de maturação das novas tecnologias dentro das quase mil lojas espalhadas pelo Brasil. Apesar da liberação do novo sistema de maneira universal, parte dos 50 mil colaboradores da empresa terá de trabalhar por mais algum tempo com o sistema antigo. Isso gera perda nas vendas e naturalmente deve achatar mais ainda os resultados no curto prazo.

Um analista que conversou com o InfoMoney no início de outubro apostou que a lentidão da implementação das novas tecnologias tem potencial de prejudicar também o quarto trimestre. “A empresa espera que a questão seja resolvida perto da Black Friday” – o que significa deixar de aproveitar o potencial da tecnologia nova em vendas ao longo de outubro e novembro, inclusive no dia das crianças.

A tese de sucesso

Ao mesmo tempo, uma demora para chegar aos resultados não anula o trabalho que foi feito até aqui. “A tese de investimentos é a implementação de uma mudança cultural na empresa, com o aumento do uso de tecnologia”, disse um gestor. “Há uma série de projetos relevantes sendo implementados ao longo deste ano e é compreensível instabilidades durante este processo. Em 2019 é quando realmente deveríamos ver o resultado destas iniciativas”, finaliza. 

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney