Via Varejo despenca 23% em 2 dias após ser destaque em setembro: o que aconteceu?

Empresa traçava movimento de alta quase constante desde o lançamento de novas tecnologias ‘omnichannel’, mas nem tudo correu conforme o planejado  

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Após subir 22% em 15 dias, as ações da Via Varejo fecharam em queda de 9,47% na última sexta-feira (28) e desabaram mais 14,88% nesta segunda. O preço voltou ao patamar de 11 de setembro, antes de a varejista divulgar novidades que a fariam saltar 10,8% em apenas um pregão e criar uma onda de otimismo sobre o negócio.

Para analistas, a queda abrupta da ação tem relação direta com a expectativa de resultados deteriorados para o terceiro trimestre. Como o balanço relativo a este período será divulgado pela empresa no dia 24 deste mês, a tendência observada pelo mercado é negativa no curto prazo.  

De acordo com Betina Roxo, especialista em varejo na XP Research, este já é um período traz dificuldades para o setor pelo ambiente promocionado: os preços mais baixos devem pressionar as margens em um trimestre com poucas datas comemorativas. Isso vale tanto para Via Varejo como concorrentes.

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Mas o sazonal não explica por si só a força do baque sofrido pela VVAR11 nos últimos dois dias. Comparativamente, o concorrente Magazine Luiza apresentou queda consideravelmente mais amena na sexta-feira (1,35%) e alta leve de 0,11% na tarde de segunda.

Segundo fontes do InfoMoney, o movimento da dona da Casas Bahia tem relação com uma dificuldade da empresa em implementar a tão esperada inovação construída ao longo dos últimos meses. Esta quebra de expectativa é provavelmente o principal driver negativo para a empresa do Grupo Pão de Açúcar nos últimos dois dias. 

Pressa é inimiga da viabilidade

Na primeira metade de setembro, diretores da Via Varejo disseram ao InfoMoney que aquele mês seria um momento-chave para o processo de transformação na companhia dentro da realidade omnicanal. Estão completas desde então algumas das tecnologias consideradas essenciais para garantir a sobrevivência da varejista em um cenário muito mais conectado – entre elas, um sistema responsivo que facilita o fluxo de vendas: a ideia é estimular a compra em lojas físicas e online com atendimento totalmente personalizado através do uso de dados.

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Quase um mês depois da implementação deste novo sistema em 100% das lojas, a empresa descobriu da pior maneira que a adaptação dos funcionários às novidades não será tão simples quanto parecia.

Basicamente, esperava-se um incremento rápido nas vendas que não aconteceu, graças ao tempo de maturação das novas tecnologias dentro das quase mil lojas espalhadas pelo Brasil. Apesar da liberação do novo sistema de maneira universal, parte dos 50 mil colaboradores da empresa terá de trabalhar por mais algum tempo com o sistema antigo. Isso gera perda nas vendas e naturalmente deve achatar mais ainda os resultados no curto prazo.

Além dos efeitos negativos já sofridos, um analista que não quis se identificar apostou que a velocidade da implementação das novas tecnologias tem potencial de prejudicar também o quarto trimestre. “A empresa espera que a questão seja resolvida perto da Black Friday” – o que significa deixar de aproveitar o potencial da tecnologia nova em vendas ao longo de outubro e novembro, inclusive no dia das crianças.

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Ao mesmo tempo, uma demora para chegar aos resultados não anula o trabalho que foi feito até aqui. “A tese de investimentos é a implementação de uma mudança cultural na empresa, com o aumento do uso de tecnologia”, disse um gestor. “Há uma série de projetos relevantes sendo implementados ao longo deste ano e é compreensível instabilidades durante este processo. Em 2019 é quando realmente deveríamos ver o resultado destas iniciativas”, finaliza. 

Casino

Em outra frente, jornais franceses noticiaram que o grupo Casino teria contratado um banco para buscar interessados na compra do Grupo Pão de Açúcar, o que também pode ter impactado a ação em menor escala. Pouco depois da notícia, o Casino negou a informação, mas o ambiente de possível venda traz incertezas para o investidor.

“Estes dois fatores não mudam a visão de longo prazo para a companhia, que está bem posicionada para vendas multicanal, e certamente seria uma excelente porta de entrada para um player estrangeiro interessado em desenvolver atividades no Brasil”, disse um outro gestor.

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney