Petróleo: ex-diretor da ANP vê ‘ciclo virtuoso’ para empresas privadas

Para Décio Oddone, que atuou na Petrobras por 30 anos, a consolidação da indústria deve levar investidor a buscar companhias com portfólio equilibrado

MoneyLab

(Crédito: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Oportunidades exploratórias, descobertas em duas décadas de leilões que podem ser desenvolvidas e adquiridas, venda de ativos maduros por parte da Petrobras — movimento para mitigar a dívida da estatal que permite às empresas independentes a aquisição de ativos já em produção e muda por completo as condições de financiabilidade dessas companhias. Vivemos um segundo ciclo de oportunidades para empresas privadas de exploração do petróleo no Brasil. Um ciclo virtuoso.

A análise é de Décio Oddone, ex-diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), posto que assumiu depois de trinta anos na Petrobras. “Nossa indústria está mais consolidada, mais atenta às regras”, disse Oddone, em palestra aos alunos do MBA Ações e Stock Picking, da Xpeed School em parceria com o Ibmec.

O Brasil é hoje uma potência petrolífera. No fim dos anos 1970, o país produzia 200 mil barris por dia, enquanto o México produzia 3,5 milhões, patamar atingido pela Venezuela nos anos 1990. Agora, o México produz 1,5 milhão de barris, a Venezuela menos de 500 mil e o Brasil, algo próximo a 4 milhões, graças à abertura do mercado e à descoberta do pré-sal.

Portfólio equilibrado: bom investimento

Para surfar nesse bom momento do setor, um analista deve selecionar uma companhia por diversos aspectos. Apesar de ser a principal premissa, o preço do barril é uma commodity que não se pode controlar, que envolve questões geopolíticas e que deve dar espaço à qualidade do portfólio da empresa. Assim como à qualidade da gestão do custo operacional, algo crítico na exploração e produção, e à experiência do time gerencial, que se reflete no restante.

“Em companhias que têm projetos em andamento, deve-se analisar também a qualidade das entregas: se o projeto sai no prazo, por exemplo, é importante, porque um desvio em um projeto pode comer muito valor de uma empresa de exploração e produção”, afirmou Oddone.

O portfólio é ponto essencial. “O ideal é ter um portfólio equilibrado: geração de produção, desenvolvimento, fluxo de caixa, ebitda e exploração”, disse Oddone, citando a Petrobras como exemplo. “A exploração é um jogo arriscado. Na média, entre quinze e vinte poços, em cem, dão resultado. Portanto, demanda resiliência para investir por anos até obter retorno.”

Valuation da Enauta

A receita do equilíbrio é a mesma que Oddone planeja aplicar na Enauta, da qual é hoje CEO. “A Enauta é uma sobrevivente daquele primeiro ciclo de empresas que abriram capital no início da década passada. Levantou US$ 900 milhões no IPO, em 2011, e, com uma gestão financeira conservadora e eficiente, não gastou os recursos em exploração. Teve sucesso na descoberta de Carcará e hoje tem um caixa positivo de R$ 2 bilhões”, afirmou o executivo.

“Nosso objetivo agora é criar um portfólio equilibrado. Adquirir ativos em produção, que gerem caixa, e que permitam que a gente tenha uma empresa diversificada, com solidez, crescimento através do desenvolvimento de campos já descobertos e aposta seletiva em exploração para multiplicar o valor. Se você tem um portfólio concentrado em uma única etapa da cadeia de exploração e produção, limita as suas possibilidades de crescimento. Se aposta apenas na exploração, coloca em risco o futuro da companhia.”

Indicadores macro-econômicos: distribuição

Segundo o ex-diretor da ANP, indicadores macro-econômicos podem ser levados em conta na análise do mercado, mas a depender do segmento que se está olhando. Quando se trata de empresas de produção de petróleo, os índices domésticos de consumo e inflação têm pouca influência, porque o petróleo é uma commodity cujo preço é dado no mercado externo.

Já no caso das empresas de distribuição, há uma correlação muito maior com a economia. Se o PIB está crescendo, a demanda por gasolina sobe, por exemplo. A dinâmica é mais próxima do varejo.

Pandemia: preços podem subir até 2025

Décio Oddone vê uma “forte redução” nos investimentos devido à crise da pandemia. Esse freio na indústria pode ter, de acordo com ele, consequência em 2024 e 2025 na oferta de petróleo.

“O mundo consumia 100 milhões de barris por dia. O que a gente viu na pandemia foi uma queda brutal na demanda, um quinto disso desapareceu. Hoje, estamos em níveis próximos aos de antes, 90 milhões de barris por dia. Quão rápido a gente vai voltar aos níveis pré-pandemia, é difícil dizer com precisão”, afirmou.

“Tem muita empresa deixando de investir, acreditando que essa demanda não vem mais. Como o declínio natural das reservas é da ordem de 3% a 5% por ano, você naturalmente tem de ter investimentos para repor a produção perdida. Se esse investimento não vier, você pode ter sim uma crise pontual de demanda e oferta que vai fazer o preço subir por certo tempo.”

Fontes renováveis: petróleo pode se dar bem

“Vamos ter uma indústria cada vez mais diversa. Vamos conviver com petróleo e gás natural por décadas, em porcentagem menor, em gradual substituição por fontes renováveis, principalmente pela eletrificação dos veículos”, afirmou Décio.

“Quando o preço de um carro elétrico estiver no nível de um veículo a combustão, será outro o mercado. Isso é má notícia para o petróleo? Não necessariamente. Passaremos a ter problema não de demanda, mas de oferta. Isso pode ser uma alavanca de geração de valor para empresas que estejam produzindo petróleo nos próximos anos.”

O evento

Décio Oddone participou como professor convidado do MBA Ações e Stock Picking, curso que tem a duração de um ano, oferecido pela Xpeed School em parceria com o Ibmec. Por uma hora e meia, o executivo falou a cerca de 100 alunos, fez uma palestra que abarcou desde os primórdios do setor energético até os desafios e tendências atuais. Ao final, também respondeu a perguntas da turma. O MBA está com matrículas abertas só até o final do dia de hoje. Corre!

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