“Meta de inflação é o pior sistema para o BC, exceto todos os outros”

O BC errou ou acertou mantendo a taxa de juros em 2%? Quem entende responde.

Renato Santiago

“As metas de inflação são o pior sistema de gestão de um Banco Central. Exceto todos os outros”.

A opinião acima, inspirada em uma famosa frase de Winston Churchill sobre a democracia, é de Marcos Mollica, gestor da Opportunity e convidado do episódio 75 do Stock Pickers (para ouvir, é só clicar no play acima).

Jamais saberemos o que Churchill diria sobre como os bancos centrais, inclusive o do Brasil, são administrados. Mas sabemos que hoje as decisões dele são tão divisivas e geram tantos comentários quanto as questões políticas que o levaram à célebre frase pariodiada por Mollica. (“A democracia é o pior sistema de governo, exceto todos os outros”, disse Churchill).

Sim, vamos falar de juros de novo (já falamos sobre o assunto aqui e aqui), pois continuamos tentando decifrar o embate entre uma parte significativa do mercado financeiro e o Banco Central. Junto a Mollica nesse episódio temos Ricardo Denadai, da Ace Capital.

O debate

No centro da discórdia está a Selic. 

Na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), encerrada em 27 de outubro, os conselheiros decidiram manter a taxa básica de juros do país em 2% ao ano, enxergando que a inflação, mesmo em alta, é causada em grande parte pelo auxílio emergencial desembolsado pelo governo e que, enquanto ela estiver na meta, não haverá mudanças — afinal, seu sistema é esse, o de metas de inflação.

Na outra ponta da polêmica, grande parte do mercado financeiro se mostrou surpresa: como o Banco Central não está preocupado com a inflação, ainda mais com o governo dando sinais de que o teto de gastos pode ser furado ou desrespeitado com um puxadinho? Para essa parte do mercado, já seria hora de aumentar os juros preventivamente, evitando que a inflação aumente no futuro.

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Para Mollica, grande parte da polêmica acabou depois que a ata da reunião foi publicada nesta semana. “O Banco Central deixou claro que enquanto a trajetória da dívida não mudar, não vai mudar a Selic. Isso ainda não estava claro”, diz o gestor da Opportunity. 

Em outras palavras: enquanto o governo não começar a efetivamente gastar acima do teto de gastos e tirar a inflação da meta, os juros não sobem. 

Para ele, o BC está certo. “Aumentar juros pode prejudicar muito a economia. Aumentar os juros antes que o fiscal se deteriore é como começar a quimioterapia antes do diagnóstico de câncer”, diz Mollica.

Denadai aponta ainda outra variável como um sintoma de que os juros não deveriam subir. “O desemprego já era alto antes da pandemia. Não vemos como a demanda, e consequentemente os preços, aumentarem com tanto desemprego”, explica o gestor da Ace. 

Para ouvir, é só clicar no play.

Renato Santiago

Renato Santiago é jornalista, coordenador de conteúdo e educação do InfoMoney