Bancos estão muito baratos na Bolsa; mas qual é o melhor para investir?

Cada banco da supre as necessidades de um perfil de investidor diferente, disseram especialistas em painel mediado por Thiago Salomão, do Stock Pickers

Paula Zogbi

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Bancos certamente sofrerão com a competição no longo prazo, mas o consenso hoje é que eles estão baratos na bolsa… Bem baratos.

Essa foi a conclusão da live realizada hoje no evento “Preparando Para a Retomada”, da XP Investimentos. A live foi mediada pelo Thiago Salomão, apresentador do Stock Pickers, e contou com Marcel Campos (analista de bancos da XP), Fernando Sampaio (sócio e analista do setor na Brasil Capital) e Lucas Akira (analista de ações da Absolute Investimentos).

O estresse do coronavírus derrubou os preços das ações de bancos para muito aquém do justo, distorção que se tornou ainda mais enfática com a nova queda da taxa de juros, aponta Akira. “Ajustando o valuation de hoje pelo juro atual, os bancos estão negociando 40% abaixo do que negociavam no passado, na média. Eu realmente acho que isso é muito barato”, disse o analista da Absolute, gestora que possui R$ 2,5 bilhões dos R$ 16 bilhões de ativos sob gestão na estratégia de ações.

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A saber: enquanto o Ibovespa cai cerca de 15% em 2020 até agora, bancos acumulam perdas na faixa de 30% de valor de mercado.  

BB e Itaúsa são favoritos

“Todos os bancos estão muito baratos”, mas as preferências dos convidados no setor ficaram com Banco do Brasil e a Itausa (holding de investimentos do Itaú). Campos e Akira defenderam o BB, que está com o preço mais descontado comparativamente. Além do valuation atrativo, o BB tem a vantagem de um ativo muito protegido, com um terço da carteira de crédito no segmento agropecuário, um dos que menos sofrem impactos da crise, e 10% em crédito consignado, que tem menor risco de inadimplência, diz Campos, da XP.

“É uma parcela descontada diretamente da folha do pensionista ou subsidiário e muitos [tomadores] são funcionários públicos: é basicamente risco-país”, explica. Fora isso, a parcela da carteira em pequenas e médias empresas (as mais afetadas pela crise), diminuiu.

Já Sampaio, da Brasil Capital, defende que Itaú está um pouco mais caro que os competidores, mas “muito barato se ajustado pela XP”, e que a holding Itausa está com um desconto maior ainda.

Um banco privado para cada perfil

Se todos os bancos estão atraentes, os especialistas defendem que a tese para cada um deles depende principalmente do que busca o investidor.

O Itaú funciona bem para quem busca um histórico resiliente em resultados, e é visto por Sampaio como destaque na área digital por ora. Dos três, também é o que tem grande participação na América Latina, principalmente em crédito para PMEs.

No Bradesco, o primeiro diferencial é que 30% do resultado vem da área de Seguros, mais resiliente, explica Sampaio. Fora isso, é o banco que tem maior exposição à economia real, com mais agências espalhadas pelo interior do país. “Quando a economia voltar, deve ser o banco a se beneficiar mais”, diz Akira.

Por fim, o Santander não tem seguradora e muito da carteira de crédito é veicular (o que já foi visto como um problema maior), mas foi classificado como o que tem maior potencial de crescimento graças à mudança recente de gestão, sob o comando de Sergio Rial. Campos destaca que o desconto do banco em relação aos pares está em 40% e Sampaio classifica o trabalho de crescimento de carteira como “excepcional, com trabalho muito bom em ganho de alavancagem”.

Desafios

Mas não há só pontos positivos para os bancos. Para os convidados, antes da crise os reveses do setor eram a regulação, que vinha abrindo mais espaço para players menores; a competição, com o boom de fintechs e “neobanks” no país e a macroeconomia. Todos eles estão “muito vivos”, disse Campos, mas, por um lado, a competição diminuiu no curto e médio prazo com a diminuição do dinheiro de financiamento para as fintechs, e, por outro, o coronavírus trouxe novos desafios.

“O juro nunca foi tão baixo, e isso tende a afetar a margem financeira dos bancos”, cita, e “o custo de crédito tende a aumentar bem, o que afeta principalmente o curto prazo: os lucros devem ser abaixo da média em 2020 e 2021”. Sampaio complementa

Também tramitam no Congresso projetos de lei que podem aumentar a tributação dos bancos (um deles aumenta de 20% para 50% a alíquota da CSLL, tributo que financia a seguridade social) e limitar os juros cobrados em linhas de crédito relevantes, como cheque especial e cartão de crédito, para 20% ao ano. Tudo isso pode afetar fortemente as margens das empresas, e os investidores fugiram desse risco.

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney