Valdemar Costa Neto diz que projetos para contestar eleições circularam entre aliados de Bolsonaro

Declaração do presidente do PL foi dada em entrevista ao jornal O Globo

Luís Filipe Pereira

Publicidade

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou que, assim como a minuta de um decreto encontrado na casa de Anderson Torres, em Brasília, outros projetos para contestar o resultado das eleições e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), circularam entre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A afirmação foi dada em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta sexta-feira (27).

“Tinha gente que colocava no meu bolso, dizendo que era como tirar o Lula do governo. Advogados me mandavam como fazer utilizando o artigo 142 (da Constituição), mas tudo fora da lei. Tive o cuidado de triturar. Vi que não tinha condições, e o Bolsonaro não quis fazer nada fora da lei. A pressão em cima dele foi uma barbaridade. Como o pessoal acha que ele é muito valente, meio alterado, meio louco, achava que ele podia dar o golpe. Aquela proposta
que tinha na casa do ministro da Justiça, isso tinha na casa de todo mundo”, disse.

Interpretado como argumento por bolsonaristas radicais que defendem uma possível intervenção militar no país, o artigo 142 da Carta Magna é o dispositivo constitucional que estabelece as atribuições das três Forças. Ele diz: “As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.

Continua depois da publicidade

Segundo Costa Neto, o silêncio de Bolsonaro diante dos pedidos de intervenção militar se deve ao “baque” sofrido após a derrota no segundo turno. “Isso pode ter sido um erro meu, dos políticos, que não o preparamos para uma possível derrota. Nunca tocamos nesse assunto, não passou isso pela cabeça dele”, destacou.

“Quando eu o vi após uma semana, eu achei que ele ia morrer. O cara estava desintegrando. Passaram três ou quatro semanas, e vi que ele melhorou. Perguntei o que era, e ele disse que estava comendo, porque ele ficava quatro ou cinco dias sem comer nada. O mundo dele virou de ponta-cabeça”, lembrou.

Costa Neto disse ter recebido uma mensagem gravada de Bolsonaro, sinalizando que retornaria ao Brasil no fim do mês. O ex-presidente da República está nos Estados Unidos desde a última semana de 2022, em uma viagem para não passar a faixa presidencial a Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Continua depois da publicidade

O presidente nacional do PL também disse não acreditar que o ex-chefe do Executivo tenha cometido qualquer crime, e, por isso, não via chance se tornar inelegível. Por outro lado, crê em um papel de liderança a ser exercido por Jair Bolsonaro junto aos parlamentares da sigla nos próximos anos.

“O pessoal é muito extrema-direita. Com ele aqui, eu estou no céu. Eles ouvem Bolsonaro. Não vão me ouvir”, definiu.

Eleições no Senado e na Câmara

Sobre as eleições para a presidência do Senado Federal, Costa Neto projeta a candidatura de Rogério Marinho (PL-RN) com grande possibilidade de ganhar a disputa.

Continua depois da publicidade

Segundo ele, o ex-ministro do Desenvolvimento Regional de Bolsonaro já teria garantido 35 votos de parlamentares e deve brigar voto a voto com o atual presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

“Nós queremos estabilidade, não queremos brigar com ninguém, não queremos impeachment (de ministro do STF). Temos que ter equilíbrio, mas não tem revanche”, disse

Nas eleições da Câmara dos Deputados, Costa Neto confirmou o apoio à candidatura de Arthur Lira (PP-AL) e disse que não vai tolerar a participação ou engajamento de partidários que eventualmente apoiem outra candidatura. “Se alguém sair para disputar com o Lira, nós vamos ser obrigados a expulsar do partido”.