Trump x Biden: sem “bala de prata”, último debate presidencial beneficia democrata, apontam analistas

Encontro foi bem mais civilizado que o anterior, ocorrido há três semanas, e foi moderado por jornalista negra, o que não ocorria desde 1992

Roberta Paduan

(Chip Somodevilla/Getty Images)

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O presidente Donald Trump e o candidato democrata Joe Biden se enfrentaram no segundo e último debate de campanha na noite dessa quinta-feira (22), em Nashville, no Tennessee. Sem revelações bombásticas, nem momentos memoráveis, o confronto não deve provocar reviravoltas na corrida eleitoral.

“Costumamos dizer que um candidato vence um debate quando ele consegue tirar votos de seu oponente ou quando ganha voto dos indecisos, e o debate dessa quinta não deve provocar nenhuma coisa nem outra”, afirma Michael López Stewart, diretor da Arko Advice, consultoria especializada em política.

Em uma hora e meia de debate, os dois candidatos foram chamados a discutir temas como combate à pandemia, questão racial, segurança nacional e mudanças climáticas, os mesmos discutidos no primeiro evento.

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“Os dois usaram argumentos conhecidos para defender suas posições. Ninguém invadiu o espaço que o outro já tinha conquistado, e isso não muda voto, especialmente em uma campanha polarizada como a atual”, afirmou Maurício Moura, professor da Universidade George Washington e presidente do instituto de pesquisa Ideia Big Data.

Ainda que não seja possível aferir o impacto do debate sobre os indecisos, o grupo tende a ser pouco relevante nessa eleição. Primeiro, porque os indecisos não passam de 5% nos estados com maior incidência, um dos menores índices da história. Segundo, porque boa parte deles acaba não indo às urnas.

A 12 dias das eleições, o cenário é desfavorável para Trump. Biden vem liderando as pesquisas de intenção de votos com 10 pontos percentuais de vantagem em relação a Trump (52,1% contra 42,2%), de acordo com a média das pesquisas nacionais compiladas pelo site FiveThirtyEight. Estatisticamente, o atual presidente tem 12% de chances de se reeleger, enquanto Biden venceria em 88 a cada 100 cenários avaliados.

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A grande novidade da noite foi a postura mais moderada de Trump. Depois de provocar caos no primeiro debate (ocorrido em 29 de setembro), ao interromper Biden mais de 70 vezes, o republicano foi mais respeitoso, seguindo os conselhos de seu gerente de campanha, Bill Stepien.

O comportamento de Trump no primeiro debate foi mal avaliado pelos eleitores, que o consideraram mal educado, agressivo e arrogante. A ideia, dessa vez, era que Trump deixasse Biden falar e torcer para que ele cometesse algum deslize, o que não aconteceu.

Apresar da moderação, Trump atacou Biden, chamando-o de corrupto e acusando sua família de ter enriquecido quando ele era vice-presidente de Barack Obama. O republicano alega que o filho do democrata conseguiu emprego e fez fortuna em uma empresa ucraniana de gás, graças à posição do pai no governo Obama, o que caracterizaria tráfico de influência.

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Prevendo os ataques, a equipe democrata treinou Biden exaustivamente para que ele mantivesse a calma e não esticasse a discussão sobre o assunto.

Biden levou vantagem na discussão relacionada à gestão da pandemia e a saúde. Enfatizou que 220 mil americanos perderam a vida e que outros 200 mil devem morrer por complicações de Covid-19. O ex-vice-presidente de Barack Obama também frisou que o republicano não tem um plano para a saúde. O tema é cada vez mais crítico para os americanos e foi com essa bandeira que os democratas ganharam a Câmara em 2018.

Trump tentou se defender, afirmando que seu governo evitou que muitos mais americanos morressem em razão da pandemia, a qual continua chamando de “praga chinesa”. Segundo ele, a estimativa era de 2,5 milhões de mortes nos Estados Unidos, mas seu governo teria impedido tragédia. O republicano repetiu que pretende acabar com o sistema de saúde conhecido como Obamacare. Disse que criará um sistema de saúde melhor e mais barato, mas não conseguiu explicar como.

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O democrata bateu na falta de “transparência” de Trump, termo que emergiu em pesquisas com eleitores indecisos. Afirmou que Trump já sabia da gravidade da pandemia em janeiro, mas escondeu a verdade da população. Também explorou a “falta de transparência” do presidente por nunca ter divulgado seu imposto de renda – informação tradicionalmente revelada pelos candidatos à Casa Branca.

O destaque da noite foi a moderadora Kristen Welker, jornalista da NBC News. Ela conseguiu conduzir o debate com mais tranquilidade, em grande parte por causa da postura mais moderada de Trump, que chegou a elogiá-la ao final do evento.

No início da semana, Trump havia criticado Welker, afirmando que ela é uma “democrata de esquerda radical”. Disse ainda que ela “não é boa” e que “há muito tempo vem gritando perguntas”, referindo-se ao trabalho da jornalista, que é correspondente na Casa Branca.

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Durante a semana, a equipe do republicano também criticou os temas do debate – combate à Covid-19, famílias americanas, questão racial, mudanças climáticas, segurança nacional e liderança – escolhidos por Welker, primeira mulher negra a comandar um debate presidencial desde a campanha de 1992.

Depois de surpreender o mundo ao se eleger em 2016, Trump está cada vez mais longe da vitória. Dessa vez, não pode mais se dar ao luxo de se vender como “outsider”, “não político” e apenas criticar seu oponente. Residente da Casa Branca há quase quatro anos, está experimentando a dificuldade de ter de prestar contas.

Se as eleições não fossem este ano, é possível que alcançasse o intento com facilidade, mas aconteceu o imponderável: 2020 veio com uma pandemia e a maior potência mundial tirou nota baixa na prova que envolveu uma questão de vida e morte. Ainda faltam 12 dias para 3 de novembro e é tempo bastante para o imponderável operar uma virada contra Biden. Ainda não foi dessa vez.

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Roberta Paduan

Jornalista colaboradora do InfoMoney