Sucesso do “Fora, Temer” depende de acordo com o próprio presidente

Quadro do peemedebista é grave, mas o tempo e as incertezas jogam a seu favor e empurram a solução para um "acordo com os Russos"

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A despeito da baixa popularidade, da crescente pressão pela sua saída e de sucessivos equívocos cometidos nas últimas semanas, a queda do presidente Michel Temer ainda não pode ser tratada como favas contadas. Embora o apoio ao atual governo dentro de sua própria coalizão esteja sendo posto à prova e não tenha dado sinais claros de solidez, as negociações suprapartidárias nos bastidores ainda não parecem ter chegado ao ponto de garantir que o desfecho da história será um dos diversos caminhos possíveis no que se tem chamado de “pós-Temer”. O quadro do peemedebista é grave, mas o tempo e as incertezas jogam a seu favor.

Enquanto nenhuma alternativa clara desponta no horizonte com a promessa de um cenário mais favorável aos setores da coalizão que derrubou Dilma Rousseff com a aposta no que passou a ser chamado de “solução Michel”, o presidente usa suas armas (literalmente) para se manter no posto. Quanto mais tempo levar para que as lideranças dos diversos espectros políticos consigam chegar a um novo estado de equilíbrio em torno de um acordo suprapartidário, melhor para o peemedebista.

Conforme tem apontado a imprensa, as articulações para a substituição de Michel Temer evoluíram nos últimos dias, sobretudo entre as três principais forças políticas do país — PMDB, na figura de José Sarney, PSDB, de Fernando Henrique Cardoso, e PT, de Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a Folha de S. Paulo, as conversas estão pulverizadas, com caminhos distintos traçados para o desfecho da crise, mas os esforços são para que os diálogos não ganhem caráter partidário.

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O cenário que alimenta maior consenso é o de que o melhor caminho para a saída de Temer seria a cassação da chapa via TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em comparação com a grande dor de cabeça que poderia ser um novo processo de impeachment e em meio à indisposição do peemedebista de renunciar ao cargo. Afinal de contas, qual seria o bônus do presidente por renunciar, se ele perderia o foro privilegiado e poderia ter seus processos julgados na primeira instância, além de ficar com a imagem profundamente manchada pelo episódio envolvendo diálogos com o empresário investigado Joesley Batista?

Porém, nem mesmo a saída via TSE, além de contar com a boa vontade dos ministros, é garantia de uma transição rápida e simples. Muito pelo contrário: se derrotada, a chapa pode recorrer da decisão em processo que pode acabar até mesmo no Supremo Tribunal Federal. Como dissemos, neste caso, o tempo é aliado de Michel Temer e justifica os esforços do governo por, novamente, protelar o julgamento. Essa foi a estratégia usada pelo Planalto no início do ano, antes da saída dos ministros Henrique Neves e Luciana Lóssio. Se, no Congresso, a estratégia é fazer o possível e impossível para dar ares de normalidade e retomar a tramitação da agenda de reformas, no Judiciário, a procrastinação é a palavra da vez.

Se até a saída avaliada como mais simples e favorável é tão complexa e pode levar um tempo hoje escasso, é difícil imaginar neste momento um desfecho para a situação cuja costura não envolva também o atual presidente. Tal conjuntura está presente no discurso do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), tido atualmente como um dos principais adversários das reformas do governo. “O melhor era (sic) que nós conversássemos com o presidente para que ele entenda seu papel histórico a cumprir, façamos uma transição negociada, rápida, elejamos um presidente da República e um vice-presidente da República, garantindo eleições gerais em 2018, com assembleia nacional constituinte”, afirmou em sessão que discutia a reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, na última terça-feira (23).

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Como se nota, o cenário ainda está nebuloso, mas os prazos das possibilidades envolvendo a saída de Michel Temer favorecem um desfecho via acordo entre líderes. Embora muitos ainda apontem as eleições diretas como um jogo ainda em disputa, a situação tende a se construir via pleito indireto. Dificilmente uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição), com necessidade de aprovação em dois turnos em cada casa, com quórum de 3/5, tramitaria tão rapidamente. Seria necessária a construção de um consenso improvável entre os parlamentares e muita vontade política.

Ainda há muito jogo a ser jogado e Michel Temer continua sendo peça importante nesse xadrez.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.