Incertezas sobre substituto e ameaça a reformas mantêm Michel Temer temporariamente como presidente

Respeitadas diferenças entre as situações, o momento atual lembra, em alguns aspectos, a conjuntura antes de o impeachment de Dilma ser dado como fato consumado em Brasília

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O horizonte de incertezas e o tempo concedido pelo Supremo Tribunal Federal ao adiar julgamento de pedido de suspensão de inquérito dão oxigênio ao presidente Michel Temer, cujo governo respira por aparelhos desde a revelação da delação de executivos da JBS (JBSS3) e a divulgação de áudio de conversa mantida pelo peemedebista com o empresário Joesley Batista. Recuperar a força perdida desde então é tido no mundo político como cenário quase impossível, mas o peemedebista se esforça em reorganizar sua base de apoio para mostrar que tem condições de seguir governando o país.

Enquanto nenhuma alternativa clara desponta no horizonte com a promessa de um cenário mais favorável aos setores da coalizão que derrubou Dilma Rousseff com a aposta no que passou a ser chamado de “solução Michel”, o presidente atua para dar alguma demonstração de que a agenda de reformas segue caminhando no Congresso, a despeito do terremoto político gerado. Engajado com a causa, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem prometido pautar em plenário a votação do substitutivo da reforma da Previdência, de autoria de Arthur Maia (PPS-BA), na primeira quinzena de junho.

Respeitadas diferenças entre as situações, o momento atual lembra, em alguns aspectos, a conjuntura antes de o impeachment de Dilma ser dado como fato consumado em Brasília. Naquele momento, o peemedebista ainda estava a construir a imagem e os acordos políticos que lhe confeririam o status de melhor alternativa para a superação das crises em curso.

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Hoje, o mercado e os parlamentares cada vez menos creem que tal narrativa segue viva. Do lado da sociedade civil, os índices de reprovação do governo só agravam um cenário que nunca foi favorável nas ruas desde sua posse. Enquanto o ambiente se deteriora, o governo abre ofensiva na guerra de narrativas contra os termos das delações e gravação dos áudios, mas deixa em segundo plano o real conteúdo das acusações, que vão desde o crime de obstrução de Justiça e prevaricação até corrupção passiva e organização criminosa.

Ontem, a defesa do presidente desistiu de pedir no Supremo Tribunal Federal a suspensão do inquérito aberto contra ele, em uma ação entendida como um sinal de preocupação com os riscos de uma derrota, considerando-se também que o episódio era avaliado por aliados como um termômetro de força de Temer no meio jurídico. Uma derrota nessa situação teria muito mais a prejudicar o governo do que uma vitória a beneficiá-lo.

É em um campo de incerteza sobre o quadro que se desenharia sem Michel Temer que se explica a postura errática do PSDB, principal fiador do governo em exercício e das reformas econômicas por ele propostas. Importantes nomes tucanos reconhecem a dificuldade de o peemedebista sobreviver no cargo, mas ao mesmo tempo se mantém no campo de apoio enquanto uma transição não se desenha, sob risco de provocar profunda reversão de expectativas e agravar o quadro econômico. No entanto, superadas as incertezas o cenário para o atual presidente pode ficar definitivamente insustentável caso não seja capaz de reorganizar a sustentação de seu governo.

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Conta o jornalista Kennedy Alencar que cresceu entre os tucanos a preferência pelo nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a ser apresentado em eventual eleição indireta. FHC, porém, tem dito publicamente que não deseja retornar ao cargo, mas há quem esteja engajado em convencê-lo do contrário. Se o plano falhar, os nomes do senador Tasso Jereissati — atual presidente da sigla com o afastamento de Aécio Neves (MG) –e do ex-ministro do STF Nelson Jobim também agradam.

Uma solução dificilmente aceita pelos tucanos seria eleição direta com a manutenção das regras de desincompatibilização, que deixariam fora do páreo o prefeito João Doria e o governador Geraldo Alckmin.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.