Como ocorreu a fraude no cartão de vacinação de Bolsonaro, segundo relatório da PF

Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ) pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema público

Agência Brasil

(Andressa Anholete/Getty Images)

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O relatório final da Polícia Federal (PF) sobre a falsificação do certificado de vacinação contra Covid-19 do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) descreve como um esquema montado por Mauro César Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República, proporcionou certidões fraudadas a ao menos nove pessoas.

A PF chegou às conclusões após colher depoimentos e apurar uma série de provas, incluindo mensagens em aplicativos de celular, registros de login em sistemas do Ministério da Saúde e dados de geolocalização dos investigados.

O sigilo sobre o relatório final foi levantado nesta terça-feira (19), por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do inquérito na Corte. A PF indiciou o ex-presidente, Cid e o deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ) pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema público.

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Segundo a PF, o esquema começou em novembro de 2021, quando Cid pediu ao sargento do Exército Luis Marcos dos Reis, seu colega na Ajudância de Ordens da Presidência, que o auxiliasse a conseguir um cartão de vacinação forjado para sua esposa, Gabriela Santiago Cid.

Reis acionou, então, seu sobrinho, o médico Farley Vinicius de Alcântara, que obteve um cartão de vacinação da Secretaria de Saúde do estado de Goiás, preenchido com duas doses da vacina contra a Covid-19, em nome de Gabriela. Ela admitiu aos investigadores que não tomou o imunizante.

Os dados da vacina (data, lote, fabricante, aplicador) foram retirados de um cartão de vacinação de uma enfermeira que teria sido vacinada na cidade de Cabeceiras (GO), segundo mensagens extraídas do serviço de nuvem em que Cid armazenou suas mensagens de WhatsApp.

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Esse primeiro cartão de vacinação forjado foi produzido com anotações manuscritas e assinado por Alcântara, médico e sobrinho de Reis. Por meio de dados de geolocalização, a PF mostrou que o celular pessoal de Gabriela Cid estava em uso em Brasília no dia em que ela supostamente tomou a vacina em Cabeceiras.

Segundo os dados do cartão falso, Gabriela teria tomado uma dose de vacina em 17 de agosto de 2021, do lote FF2591, e outra em 9 de novembro de 2021, do lote TG3529.

Inquirido, o médico reconheceu como autêntica sua assinatura e carimbo no documento, mas disse não saber se as doses foram de fato aplicadas. Para a PF, ele sabia da falsificação, ao ter copiado as informações de um outro cartão de vacinação. Na época dos fatos, ele trabalhava como plantonista no hospital de Cabeceiras.

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Certificados falsos

De posse do cartão de vacinação falsificado, Cid contou ter procurado o segundo-sargento do Exército Eduardo Crespo Alves, em 23 de novembro de 2021, para que ele auxiliasse a inserir os dados do documento no sistema ConecteSUS, de modo a ser possível emitir o certificado de vacinação para Covid-19.

A manobra, contudo, não deu certo, pois a tentativa de inserir os dados no sistema foi feita do Rio de Janeiro, enquanto os lotes das vacinas que constavam no cartão foram distribuídos para Goiás. As investigações apontam que Crespo não sabia da falsidade do documento, e o procedimento foi tentado depois por outro militar, chamado Paulo Sérgio da Costa Ferreira, também sem sucesso.

A tentativa de inserção dos dados falsos no ConecteSUS teria sido feita por meio da prefeitura de São Gonçalo (RJ), com o cadastro de uma pessoa chamada Sonia, mas esta teria “rateado” ao saber da ilegalidade da manobra, segundo as investigações.

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A inserção dos dados falsos no ConecteSUS somente teria dado certo após o ex-major do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros ser acionado e conseguir realizar o procedimento no município de Duque de Caxias (RJ), com novos dados de vacina, provenientes de novo cartão falso de vacinação. Para a polícia, o registro das vacinas foi feito pelo secretário de governo da cidade, João Carlos Brecha.

Em seu depoimento, Brecha disse desconhecer Ailton Barros e negou a inserção dos dados falsos no ConecteSUS, mas a PF conseguiu identificar que o login no sistema responsável por registrar as informações foi feito em seu computador, por meio de um modem instalado em sua residência, em Niterói (RJ).

Uma vez que o esquema deu certo para Gabriela Cid, foram posteriormente inseridos registros de vacinação falsos para as três filhas de Cid e para o então presidente da República e sua filha, Laura Bolsonaro. Max Guilherme Machado de Moura e Sergio Rocha Cordeiro, auxiliares do ex-presidente, também se beneficiaram, segundo as investigações, e oúltimo a ter seus dados falsos incluídos no ConecteSUS foi o deputado Gutemberg Reis (MDB-RJ). Todas as inserções foram feitas por Brecha, segundo a PF.

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