“Reforma ministerial trouxe um cenário ainda pior para Dilma no Congresso”, diz analista

Para Manhanelli, a saída passa por novas negociações com as frentes que nascem após a reforma para que a governabilidade seja reconstruída

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Depois de ter buscado, sem sucesso, alternativas para governar com menor dependência do PMDB, a presidente Dilma Rousseff cedeu posição importante em seu ministério ao principal partido da base em busca de maior governabilidade. Mesmo com a redução de 39 para 31 pastas na Esplanada, a legenda ganhou ainda mais postos em troca de apoio no Congresso Nacional. No entanto, o que parecia solução enfim alcançada – a despeito do atraso diagnosticado pelo próprio antecessor e mentor político, Lula – caminha para se tornar um novo pesadelo para a presidente.

Passados cinco dias do anúncio dos novos comandantes dos ministérios, a tão sonhada governabilidade pode estar ainda mais distante do que antes. Nos bastidores da Câmara, o maior bloco da casa, formado por PMDB (65), PP (39), PTB (25), PSC (13), PHS (5) e PEN (2), ameaça ruir. O descontentamento de muitas siglas aliadas com a centralização do PMDB na condução das negociações sobre a nova composição do ministério de Dilma e a falta de diálogo alcançou níveis mais elevados. Ao que tudo indica, PP, PTB, PSC e PHS formarão um novo bloco, com 82 deputados. Ainda não se sabe de qual partido seria a liderança do grupo – que, caso de fato construído, será o maior da casa.

Uma mudança na correlação de forças da Câmara representaria novos problemas para o governo. As principais siglas que compõem o bloco majoritário da base já apresentam comportamentos oposicionistas em diversas votações – ocorrência visível, sobretudo no caso de PP e PTB, que detêm participação de 78,05% no grupo. Para o analista político e presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos (ABCOP) Carlos Manhanelli, o cenário que começa a despontar é o de fortalecimento de siglas que antes se encontravam em segundo plano. Juntas, elas tendem a fazer maior oposição ao Executivo para que suas demandas também sejam ouvidas. Sem o controle do grande bloco, restaria ao PMDB uma dobradinha com o frágil PEN, que conta com apenas dois assentos na Câmara. Ainda nos bastidores, PSD e PR conversam para montar outro bloco, capaz de fazer frente ao principal aliado do governo. As duas siglas também não se comportam com satisfação no Legislativo. No caso do primeiro, as coisas podem se agravar com a extinção da pasta da micro e pequenas empresa, comandada até a semana passada por Guilherme Afif Domingos. Por abrigar políticos antes opositores que viam no governismo boas oportunidades, o PSD conta com nomes com os quais o governo dificilmente pode contar neste momento de crise.

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“Para a política, a reforma trouxe um cenário pior do que o que tínhamos antes. Dilma fez uma reforma baseada na opinião pública, e não na acomodação política. É consequência natural da mexida dos ministérios. Houve uma diminuição dos ministérios e menor acomodação das forças políticas no Executivo nacional, e isso repercutiu no Congresso”, observou o especialista. O corte do número de pastas, cargos comissionados, gastos de custeio e salários no alto escalão Executivo atendeu a anseios populares por ajustes do lado do governo, bandeira defendida de maneira oportuna pelo PMDB. Com a diminuição do número de ministérios e o crescimento de sua participação no Executivo, o partido desarmou focos de concorrência para tornar-se indispensável. Tal movimentação teve como principal articulador o líder do PMDB e do blocão atualmente, Leonardo Picciani (PMDB-RJ) – hoje alvo de uma série de críticas e cuja permanência no posto começa a ficar em risco. Filho do tradicional político carioca Jorge Picciani, é atribuída a ele uma tentativa de voo solo, mais distante de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Nem mesmo o PMDB como partido indica ter comprado a ideia da reforma como se supõe. A indicação de um nome do baixo clero fluminense para a pasta da Ciência e Tecnologia aponta para fragilidades em termos de representatividade e conquista de apoio no parlamento por parte do governo. “O governo ainda não aprendeu que o PMDB não é um só. O partido tem repartições. Ele segue bem o que o nome ‘partido’ sugere”, critica Manhanelli. Agora, Picciani corre sérios riscos de não ser capaz de entregar o apoio que prometeu ao governo.

E a Dilma, o que restaria se o cenário negativo se confirmar? Para Manhanelli, a saída passa por novas negociações com as frentes que nascem após a reforma para que a governabilidade seja reconstruída. Enquanto nada disso toma corpo, as atenções seguem em torno dos primeiros testes da reforma ministerial no Congresso: 1) manutenção dos vetos presidenciais; 2) CPMF; 3) impeachment. No primeiro, Eduardo Cunha venceu a queda de braço por dois dias seguidos, ao esvaziar a sessão mista de votação. Mesmo enfraquecido pelo avançar de investigações que apontam para seu envolvimento em ilícitos da Lava Jato, o presidente da Câmara mostra que ainda é o mais poderoso na casa.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.