Redução da Selic agrada comércio e indústria, mas ambos querem novas quedas

Já os representantes da classe trabalhadora avalia que o governo atua na contramão da produção e da geração de empregos

Viviam Klanfer Nunes

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SÃO PAULO – A decisão do Copom de reduzir a taxa básica de juros, a Selic, em 0,5 pontos percentual, passando de 12,50% ao ano para 12% ao ano, foi relativamente bem avaliada pelos segmentos da economia brasileira. Tanto os principais representantes do comércio quanto da indústria comemoraram a decisão, mas frisaram que a taxa deve continuar caindo nas próximas reuniões.

Já os representantes da classe trabalhadora foram mais críticos quanto a decisão, avaliando que a redução poderia ter sido muito mais intensa.

Indústria: Fiesp quer redução mais intensa
Um dos principais representantes da indústria a aprovar a redução da taxa Selic foi a CNI (Confederação Nacional da Indústria), que viu na decisão um “importante passo dado pelo Copom para enfrentar as dificuldades que a economia brasileira começa a sentir com a nova fase da crise mundial”, segundo nota oficial enviada à imprensa.

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A CNI ainda lembrou que esse novo ciclo de flexibilização monetária ocorre em conjunto ao uso mais intenso da política fiscal. Na sua visão, essa nova “postura no equilíbrio da utilização das políticas monetária e fiscal é uma necessidade, pois torna possível reduzir os juros e manter a estabilidade econômica”, afirmou a CNI.

A confederação avalia como “absolutamente necessário” esse novo mix de política adotado pelo governo, apesar de avaliar que exigirá maior esforço no controle dos gastos. “Como já há aumento de despesas assumidas para 2012, é fundamental conter a expansão dos demais dispêndios, sob pena do aumento dos gastos acima do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) dificultar a redução mais rápida dos juros”.

Outro importante representante do setor industrial, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), viu na redução de 0,50 ponto percentual da taxa Selic uma postura muito tímida diante do complicado quadro econômico, doméstico e internacional, que está se configurando.

O presidente da Federação, João Guilherme Ometto, afirmou que “só uma forte redução de juros pode fazer com que o País mantenha o ritmo de crescimento, sem comprometer o controle dos preços. Hoje ainda temos no Brasil o que o resto do mundo não tem, a demanda interna. Ao manter os juros elevados, o Copom acaba retraindo o consumo e trazendo para o Brasil os efeitos da crise internacional”.

Comércio: decisão aprovada, mas esperam mais.
Os representantes do comércio no Brasil comemoraram a redução da Selic, mas ainda esperam que o Copom realize novos cortes nas próximas reuniões. Nesse sentido, a Fecomercio-SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo) avaliou a decisão do Copom como ‘razoável’ para este momento, sublinhando sua expectativa de que nos próximos meses ocorra uma evolução da queda da taxa Selic.

“O País continua com a maior taxa real de juros e a terceira maior taxa nominal de juros do mundo”, pontuou a Fecomercio, ainda afirmando que suas projeções quanto ao crescimento do PIB são menores do que as oficiais, reflexo principalmente dos efeitos da alta taxas de juros sobre o financiamento, o consumo e da valorização cambial excessiva, que “não chega a provocar uma desindustrialização, mas retira competitividade dos manufaturados nacionais”.

Para a CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas), a posição do Banco Central na condução da política monetária sinaliza um horizonte positivo quanto ao crescimento econômico do Brasil. Ainda, complementa que a decisão vai de encontro com outros importantes setores do governo, como os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento que, além da própria presidente Dilma Rousseff, seguiam firmes na defesa a uma redução gradual da Selic.

A CNDL ainda pontuou que a decisão era justamente a resposta que o Brasil esperava do governo, e “a postura do Banco Central nesse momento é motivo de orgulho para o movimento lojista, que espera sempre poder contribuir com o desenvolvimento do País”.

O presidente da Confederação, Roque Pellizzaro Junior, ainda observou que decidir a taxa de juros olhando apenas a inflação corrente sempre foi um erro, “principalmente porque o que se vê hoje é que a pressão mais forte se concentra nos alimentos e nos serviços, e ninguém compra bife ou corta cabelo no crediário”.

Sindicato: ‘governo atua na contramão da produção e da geração de empregos’
Para os representantes dos trabalhadores, a redução na taxa foi uma ação correta, porém, muito tímida. De acordo com o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, ainda há espaço para reduzir mais intensamente a taxa Selic, principalmente por conta do ajuste fiscal anunciado recentemente pelo governo.

“Mais uma vez o Banco Central mostrando-se surdo aos apelos da classe trabalhadora, frustra os nossos anseios por uma sociedade mais justa e igualitária”, afirmou Silva, ainda pontuando que a Força Sindical não vai desistir de realizar protestos para pressionar o governo, que, segundo sua avaliação, parece estar atuando na contramão da produção e da geração de empregos.

Mercado financeiro: decisão correta
O presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo, Keyler Carvalho Rocha, avaliou como correta a postura do Copom ao cortar a taxa Selic. Ainda avaliou que o “corte de 0,50 pp vai ao encontro do que já está sendo verificado hoje em relação aos juros futuros, que já estão mais baixos”.

Rocha ainda afirmou que o início de um ciclo de cortes dos juros básicos reduz o peso da dívida interna para o governo, que é significativa. Por fim, disse que “a decisão do Copom, iniciando agora o ciclo de cortes dos juros, aliada aos compromissos fiscais do Governo, constituem o cenário que consideramos ideal para o País”.

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