Por que os deputados salvarão Michel Temer (mesmo com o risco de serem cobrados nas eleições)?

Plenário da Câmara se prepara para rejeitar a abertura de processo penal contra o presidente e seu afastamento do cargo

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Não é surpresa para ninguém que o plenário da Câmara dos Deputados deverá rejeitar, ainda nesta quarta-feira (25), a abertura de processo penal contra o presidente Michel Temer no Supremo Tribunal Federal. A despeito do nível recorde de impopularidade do peemedebista, os parlamentares mostram indisposição em entrar em uma nova aventura a menos de um ano de novas eleições, por mais que isso signifique uma postura negativa em termos de imagem de no mínimo 171 deputados perante o eleitorado.

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Mas o que explica a disposição dos deputados em salvar o peemedebista pela segunda vez? Deixando um pouco de lado o aspecto jurídico, que tende a ser sobreposto pela avaliação política pelos próprios parlamentares, há um entendimento de que, ao contrário da situação que culminou na queda da ex-presidente Dilma Rousseff, não se construiu nenhuma alternativa sólida a Michel Temer.

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Como o próprio ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, lembrou recentemente em uma lição endereçada ao ex-procurador-geral Rodrigo Janot, presidente da República não se tira, coloca-se. Ou seja: para o comandante do Executivo cair, normalmente é preciso que haja um plano B bem desenhado. Foi o que aconteceu no ano passado, quando Temer consolidou a imagem de alternativa viável à instabilidade associada a Dilma.

Mesmo impopular, o peemedebista mantém simpatia de parcela suficiente dos deputados para não experimentar riscos na tramitação da segunda denúncia apresentada contra si pela PGR. Nem no momento mais turbulento, quando o nome de Rodrigo Maia (DEM-RJ) despontava como potencial sucessor, o presidente perdeu o patamar de 171 deputados. Naquele conturbado período, os articuladores do Planalto fizeram um bom trabalho de corpo a corpo e conseguiram, mediante as mais diversas ofertas, contornarem o terremoto causado pela colaboração premiada dos executivos da JBS.

Nesta etapa, o cálculo dos deputados dá cada vez maior peso às eleições do ano que vem. Muitos deles tentarão ser reconduzidos ao cargo que ocupam — isso se não buscarem voos mais altos –, muitas vezes com a preocupação adicional de manter o foro privilegiado, em meio às turbulências das investigações e denúncias. Curiosamente, alguma proximidade do governo pode fazer sentido a alguns parlamentares.

Em contraste com a toxicidade da impopularidade do presidente, a liberação de recursos para emendas obrigatórias parlamentares pode ajudar muitos na corrida às urnas. Graças a uma modificação promovida nos tempos de gestão Eduardo Cunha, as emendas individuais de deputados e senadores são obrigatórias, mas ainda dependem de decisão do governo para liberação dos recursos. Estrategicamente, os presidentes têm jogado com esse mecanismo em busca de apoio em momentos sensíveis. Assim como no caso de distribuição de cargos em setores estratégicos para muitos parlamentares.

Em uma eleição de poucos recursos, por conta da manutenção da proibição do financiamento empresarial de campanha, e ampla dependência da decisão das cúpulas partidárias sobre sua distribuição, muitos deputados avaliam que a relação custo/benefício do apoio a Michel Temer pode valer a pena nessas condições. Nem que essa ajuda seja apenas a presença em plenário para um voto contrário ao governo. Mais do que nunca, o acesso à máquina pode ser decisivo.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.