Publicidade
Errata: Diferentemente do informado em versão anterior deste texto, o ex-presidente Jair Bolsonaro não está entre os indiciados pela Polícia Federal (PF) no relatório sobre a chamada “Abin paralela”, encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A PF apontou a participação de Bolsonaro no esquema de espionagem ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), mas o ex-presidente não foi relacionado na lista de indiciados porque já responde pela mesma acusação no STF na ação da trama golpista.
No relatório final da investigação do caso, a PF apontou indícios da participação de Jair Bolsonaro na rede de espionagem ilegal da agência de inteligência. Segundo investigadores, o ex-presidente tinha conhecimento do esquema e era o principal beneficiário dele.
Continua depois da publicidade
Mas a corporação entendeu que caberá à Procuradoria-Geral da República (PGR) avaliar se o ex-presidente deverá responder pelo crime de organização criminosa em dois inquéritos diferentes, o da Abin paralela e o da trama golpista.
O texto foi corrigido para refletir com precisão as informações do relatório. Publicações anteriores que indicavam erroneamente o indiciamento de Bolsonaro foram atualizadas às 01h16 da quarta-feira, 18 de junho de 2025.
A investigação sobre uma estrutura paralela montada na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) cita três dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro. A PF mostra no documento que embasou o indiciamento que a agência atuou ilegalmente em favor do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e do vereador eleito de Balneário Camboriú (SC) Jair Renan (PL).
Bolsonaro não comentou as conclusões da PF e, em ocasiões anteriores, negou a existência de estrutura paralela na agência e a participação em espionagens ilegais. A Abin, por sua vez, tem afirmado estar “à disposição das autoridades” e ressaltou que os fatos investigados ocorreram em “gestões passadas”.
O uso do programa espião FirstMile foi revelado pelo GLOBO. A PF mostra que foram alvos da ferramenta autoridades dos poderes Judiciário e Legislativo, com o objetivo de obter vantagens políticas, além de um ex-presidenciável e jornalistas.
Segundo a PF, a rede paralela da Abin foi utilizada contra o senador da República Alessandro Vieira, que, ao tempo dos fatos, encaminhou requerimento para que o vereador Carlos Bolsonaro prestasse esclarecimentos na “CPI da COVID” e tivesse seus sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático quebrados pela Justiça.
Continua depois da publicidade
De acordo com a corporação, a estrutura paralela mandava marcar Carlos Bolsonaro em postagens nas redes sociais com Fake News que miravam adversários políticos. Em diálogos interceptados pela PF, membros da ‘estrutura clandestina’ combinaram de marcar o filho do presidente, por exemplo, em postagens que atacavam Vieira.
A CPI da Covid, instaurada em 2021, investigou a condução da resposta à pandemia de Covid-19 pelo governo Bolsonaro e propôs o indiciamento do então presidente por nove crimes.
A PF também identificou um áudio em que o ex-presidente, o então diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem (PL), e o então ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, foram registrados falando sobre a investigação envolvendo o senador Flávio Bolsonaro no caso da suposta “rachadinha”.
Continua depois da publicidade
Segundo a PF, eles estavam discutindo supostas irregularidades que teriam sido cometidas por auditores da Receita Federal na elaboração de um relatório de inteligência fiscal que originou o inquérito contra o filho 01 do presidente. O áudio tem 1h e 8 minutos de duração, é datado de 25 de agosto de 2020 e foi encontrado em um aparelho de Ramagem. Uma das advogadas de Flávio também estaria presente na reunião.
De acordo com as investigações, Ramagem disse na gravação que “seria necessário a instauração de procedimento administrativo” contra os auditores da Receita “com o objetivo de anular a investigação, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos”.
O relatório da PF mostra também que a estrutura paralela foi utilizada para produzir provas a favor do filho 04 do ex-presidente, o pré-candidato a vereador de Balneário Camboriú (SC) Jair Renan. Ele era alvo de um inquérito pela suspeita de tráfico de influência. Essa investigação foi arquivada um ano depois.
Continua depois da publicidade
Segundo a PF, as ações clandestinas “teriam sido determinadas pelo 01 conforme interlocução dos investigados”. O relatório não identifica especificamente quem seria o tal ’01’. A mensagem foi enviada por um integrante da “Abin paralela” após ele pedir o monitoramento de “carros em nome do filho Renan”.
“Veja quais carros estão em nome do filho Renan do PR (presidente). Veja da mãe dele tb. Msg do 01”, diz a mensagem interceptada.
“Os agentes também realizaram pesquisas envolvendo o inquérito policial instaurado contra Renan Bolsonaro, possivelmente a pedido do então do Presidente da República Jair Messias Bolsonaro”, escreveu a Procuradoria-Geral da República (PGR) em relação ao diálogo captado pela PF.
Continua depois da publicidade
Em março de 2021, a PF abriu um inquérito para investigar se o filho 04 do então presidente estava atuando para marcar reuniões e abrir portas no governo federal para empresas privadas. O caso começou a ser apurado na Procuradoria da República do Distrito Federal (PR-DF), após representação de parlamentares da oposição. Depois, a Procuradoria remeteu o caso para a PF entrar na apuração.