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Errata: Diferentemente do informado em versão anterior deste texto, o ex-presidente Jair Bolsonaro não está entre os indiciados pela Polícia Federal (PF) no relatório sobre a chamada “Abin paralela”, encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A PF apontou a participação de Bolsonaro no esquema de espionagem ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), mas o ex-presidente não foi relacionado na lista de indiciados porque já responde pela mesma acusação no STF na ação da trama golpista.
No relatório final da investigação do caso, a PF apontou indícios da participação de Jair Bolsonaro na rede de espionagem ilegal da agência de inteligência. Segundo investigadores, o ex-presidente tinha conhecimento do esquema e era o principal beneficiário dele.
Mas a corporação entendeu que caberá à Procuradoria-Geral da República (PGR) avaliar se o ex-presidente deverá responder pelo crime de organização criminosa em dois inquéritos diferentes, o da Abin paralela e o da trama golpista.
O texto foi corrigido para refletir com precisão as informações do relatório. Publicações anteriores que indicavam erroneamente o indiciamento de Bolsonaro foram atualizadas às 01h16 da quarta-feira, 18 de junho de 2025.
A Polícia Federal concluiu e enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o relatório do inquérito sobre o uso ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro — o caso ficou conhecido como “Abin Paralela”. O documento aponta que a estrutura clandestina foi comandada pelo deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor do órgão, por ordem do então presidente Jair Bolsonaro (PL).
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Entre os indiciados estão Ramagem e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ). O relatório da PF afirma que a rede ilegal atuava para produzir dossiês, disseminar notícias falsas e monitorar adversários políticos, membros do Judiciário, servidores públicos, jornalistas e até cidadãos comuns. A coleta de dados era feita por meio da ferramenta de geolocalização “First Mile”, que rastreava celulares via antenas de rede.
O nome do ex-presidente não conta na lista de indicados, ao contrário do que foi relatado mais cedo na terça-feira (17) por integrantes da PF e do que publicou o InfoMoney. O relatório atribui a Jair Bolsonaro indícios de conduta criminosa, mas aponta que, por já ter sido indiciado em outro inquérito sob suspeita de organização criminosa, não poderia ser alvo de indiciamento novamente por esse crime. A corporação entendeu que caberá à Procuradoria-Geral da República (PGR) avaliar se o ex-presidente deverá responder pelo crime de organização criminosa em dois inquéritos diferentes, o da Abin paralela e o da trama golpista.
O relatório foi encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. Caberá à PGR decidir se apresentará denúncia contra os indiciados.
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Espionagem de autoridades e militantes
A lista de monitorados inclui os ministros do STF Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Luiz Fux e Dias Toffoli; o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); o ex-presidente da Casa Rodrigo Maia; o ex-governador de São Paulo João Doria; além do ex-deputado Jean Wyllys. A PF aponta que a estrutura foi “aparelhada” para favorecer interesses políticos de Bolsonaro, com foco na manutenção de poder e ataque ao sistema eleitoral.
Adversários políticos, servidores ambientais, líderes de caminhoneiros e até um servidor do Supremo atuante na área de tecnologia estão entre os alvos. O Ibama também foi atingido: Hugo Loss, ex-coordenador de fiscalização, foi monitorado após ações contra garimpos ilegais na Amazônia. A PF destaca ainda o uso do sistema para rastrear caminhoneiros críticos ao governo e lideranças envolvidas em manifestações.
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Conexões com o plano de golpe
A PF dedicou parte do relatório à conexão entre a estrutura da Abin paralela e a tentativa de golpe de Estado que tramava a permanência de Bolsonaro na Presidência após as eleições de 2022.
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Documentos apreendidos revelam que Ramagem orientava Bolsonaro a adotar uma postura mais agressiva contra o Judiciário e as urnas eletrônicas. O material foi localizado em arquivos de e-mail do ex-diretor da agência.
A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a tentativa de golpe também menciona a existência dessa rede informal de inteligência como parte da engrenagem para desacreditar o processo eleitoral e criar um ambiente de instabilidade institucional.
Monitoramento durante eleições e o “cercamento”
Um dos indícios mais graves diz respeito à intensificação dos acessos ao sistema durante as eleições municipais de 2020, apontando possível uso político da ferramenta para espionagem. A PF também identificou a adoção da tática conhecida como “cercamento”, em que alvos eram rastreados ao transitar por determinadas áreas — inclusive nas imediações do Tribunal de Justiça do Distrito Federal.
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Mapeamentos realizados pelo sistema identificaram movimentações em zonas nobres de Brasília e bairros da zona sul do Rio de Janeiro. Embora a justificativa formal fosse o combate ao crime organizado, não há evidências de uso real nesse contexto. A PF suspeita que o objetivo era vigiar juízes, advogados e diplomatas.