PEC dos Auxílios tem peso eleitoral ‘modesto’ para Bolsonaro, diz Eurasia

Diretor da consultoria de risco político diz que um dos fatores que jogam contra o presidente é o timing de aprovação das medidas, muito em cima do 1° turno

Anderson Figo

(Foto: Alan Santos/PR)

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A chamada “PEC dos Auxílios”, que cria benefícios sociais e amplia programas já existentes, deve ter impacto eleitoral “modesto” para o presidente Jair Bolsonaro (PL). Esta é a visão de Christopher Garman, diretor-executivo da consultoria internacional de risco político Eurasia para as Américas.

O texto, aprovado ontem (30) no Senado, amplia de R$ 400 para R$ 600 por mês o valor do Auxílio Brasil e zera a fila de beneficiários do programa (1,6 milhão de famílias). A proposta também amplia o valor pago com o auxílio-gás e institui o “voucher caminhoneiro” para transportadores autônomos, no valor de R$ 1 mil mensais. As medidas valem até o fim de 2022.

Em relatório, Garman destaca que “os brasileiros que recebem o benefício [Auxílio Brasil] são mais leais ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com um alto percentual dizendo que já decidiu seu voto”. Lula tem vantagem de 19 pontos percentuais em simulação de primeiro turno do Datafolha sobre Bolsonaro.

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Segundo o levantamento, Lula é o candidato escolhido por 63% dos entrevistados com renda familiar mensal de até 2 salários mínimos — ou seja, eleitores que se enquadram no perfil dos programas sociais do governo —, em cenário estimulado de primeiro turno, enquanto 23% escolhem Bolsonaro.

“Além disso, após a aprovação do Auxílio Emergencial de 2021, houve uma defasagem de três meses entre o lançamento de um novo benefício e o aumento nos índices de aprovação de Bolsonaro. Esses fatores sugerem que a PEC provavelmente teria um impacto modesto nos números [eleitorais] de Bolsonaro — provavelmente um aumento de um a três pontos no máximo”, afirma o diretor da Eurasia.

Garman diz ainda que essa projeção “não é grande o suficiente para alterar as chances de 70% calculadas pela Eurasia de uma vitória de Lula em outubro”. “A chave para uma vitória de Bolsonaro — de 25% a 30% de chances — continua sendo melhorias adicionais no mercado de trabalho e uma campanha negativa muito eficaz contra Lula antes da votação”, completa.

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Tarde demais?

A Eurasia acredita que o timing é mais um fator que joga contra Bolsonaro. “Geralmente, há uma defasagem entre o desembolso de novos benefícios e o momento em que as famílias sentem que suas condições melhoram a ponto de beneficiar um governo. Assim, a questão é se isso dará tempo suficiente para que o benefício se traduza em maior apoio a Bolsonaro.”

O Congresso aprovou a PEC em julho, o que significa que o primeiro pagamento do novo benefício acontecerá em agosto, dois meses antes do primeiro turno das eleições presidenciais (2 de outubro). Garman cita que o ‘experimento social’ mais adequado para medir tal fenômeno veio em 2022 durante a pandemia.

Como muitos outros países, o Brasil correu para aprovar um pacote de ajuda quando os bloqueios chegaram. Mas este foi particularmente generoso com as famílias de baixa renda. O governo decretou uma bolsa mensal emergencial no valor de R$ 600 em abril de 2020, que atingiu 68 milhões de brasileiros, representando 32% da população (40% dos domicílios).

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O programa de transferência de renda existente Bolsa Família teve um ticket médio de R$ 192 que atingiu 16 milhões de famílias. O custo mensal dos desembolsos foi em média superior a R$ 40 bilhões de abril a agosto e custou ao governo 4% do PIB em gastos em 2020 — ou seja, o custo total da PEC dos Auxílios equivale ao custo mensal do auxílio emergencial.

“Também levou a um aumento de 6% na renda média. Em outras palavras, o auxílio emergencial foi significativamente mais expansivo e representou um aumento muito mais significativo da renda disponível. Mas houve um atraso de cerca de 100 dias entre o início dos desembolsos em abril e o momento em que os índices de aprovação de Bolsonaro começaram a melhorar em agosto”, comenta o diretor da consultoria.

“Tudo isso não significa que Bolsonaro não possa vencer. Dois fatores podem empurrar a eleição a seu favor. A primeira é a continuidade das surpresas positivas no mercado de trabalho brasileiro, que continua melhorando muito mais rapidamente do que o esperado. Um total de 277.000 empregos foram criados em maio, e uma recuperação mais robusta do emprego e da renda no Brasil, combinada com surpresas positivas na frente da inflação, pode ajudar Bolsonaro a se tornar mais competitivo contra Lula”, conclui.

Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.