Para tucano, sobrevivência política de Dilma só tem uma saída: a renúncia com o PT

"Com o agravamento da crise política, econômica, moral e ética, a presidente Dilma está sem condição nenhuma de liderar o processo de reformulação, de reestruturação, de reformas", disse Luiz Carlos Hauly

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A decisão do governo de oficializar a redução da meta de superávit primário de 1,1% para 0,15% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2015 é mais um sinal de fracasso do atual ajuste fiscal promovido pela presidente Dilma Rousseff e sua equipe econômica, e uma prova de que ela não teria condições de liderar o processo de reformulação do Brasil. A avaliação é do decano deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), engajado em temas econômicos no Congresso. Para ele, a atual gestão está sem condições de promover as mudanças necessárias e só tem uma saída caso não queira perder todo o capital político que lhe resta: romper com o PT.

“O ajuste fiscal é uma decepção total. A crise que o Brasil vive vinha em um crescente desde o ano passado e ainda não chegou no auge. Ela exigia e exige uma reestruturação da economia nacional. E não um remendo. É um ajuste de aumento de tributos e emissão de despesas – conjugação mais perversa que existe para a economia. Temos o mais perverso sistema tributário do mundo para a produção e desenvolvimento, afetando terrivelmente a economia real”, afirmou o parlamentar em entrevista ao InfoMoney. “Aumentam-se preços, não debelando a inflação. Há uma demarcação de preços em um momento em que os salários não conseguem acompanhar”, complementou.

Hauly mencionou estudos que apontam para os efeitos nocivos que cortes orçamentários trazem à atividade econômica de um país. Segundo ele, o ajuste promovido pelo governo feito nas atuais condições traz agravantes na redução de poder aquisitivo da população, desemprego, diminuição da qualidade do serviço público e retração da atividade econômica. Com isso, diz o deputado, o Brasil entra em uma espécie de “efeito bola de neve”. Na sua avaliação, seria necessário repactuar e fazer profundas reformas, para as quais liderança e credibilidade são imprescindíveis. É aí que entraria o problema.

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“Com o agravamento da crise política, da economia e da crise moral e ética, a presidente Dilma está sem condição nenhuma de liderar o processo de reformulação, de reestruturação, de reformas”, avaliou. A observação tem como pano de fundo o mergulho na popularidade da presidente. Segundo pesquisa divulgada pelo CNT/MDA em 21 de julho, a avaliação do governo atingiu seu menor nível histórico ao marcar 7,7% de ótimo/bom contra 70,9% de avaliação ruim/péssimo. Acompanhando a percepção negativa popular, Dilma sofre com uma perda de capital político que traz mais problemas nas negociações com o Congresso.

A situação é muito delicada e tende a agravar com a volta do recesso parlamentar. A expectativa dos especialistas são de um Congresso mais arisco após um contato mais ampliado com a insatisfação de suas bases eleitorais. Mais do que o que mostram as estatísticas, deputados e senadores verão de perto e serão mais pressionados pelo momento difícil da economia nacional – o que fará com que externalizem mais essa indisposição com o governo. Para que o cenário seja revertido, Hauly acredita em apenas uma drástica e improvável manobra.

“Dilma precisa sair do PT, chamar o entendimento nacional enquanto ainda está viva politicamente e promover mudanças com profundidade para podermos sair o mais rápido possível da crise. A melhor saída seria fazer um governo suprapartidário, de entendimento nacional, chamando as forças políticas, empresariais, trabalhadoras e outros segmentos da sociedade”, defendeu. O parlamentar deu a entender que apoiaria esse movimento, mesmo fazendo parte da oposição: “independentemente do meu partido, apesar de ser um assunto partidário, eu, como brasileiro, defendo que temos que pensar no país”.

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Para Hauly, a redução da meta fiscal para esse ano foi mais um gesto de reconhecimento de fracasso por parte do governo e pode culminar em punição de downgrade pelas agências de classificação de risco. “No momento em que ela reduz o superávit primário, é o mesmo que dissesse: ‘fracassei’. Você pode usar a palavra que quiser: fracasso, capitulação, derrocada, para a crise econômica dela. Com essa decisão, Levy, Nelson e BC também perderam tudo que construíram nesses poucos meses”, disse. Em sua avaliação, as relações com o Congresso seguirão altamente tensas. “É incrível que a base do governo, principalmente PT e PCdoB, adora esse tipo de gastança. Eles são daqueles que levaram a Grécia e outros países à derrocada. Já nós vamos tentar discutir em um alcance maior, sem querer tirar mais proveito político, porque não tem mais o que desgastar dela. Só se ele for a zero (de popularidade). É uma questão de sobrevivência do país, das empresas e famílias. Todos estão em dificuldades”, afirmou.

Com isso, no plano econômico, ele defende que o movimento de profundas reformas se inicie no plano tributário. Hauly acredita que a crise representa uma oportunidade para se aplicar mudanças de paradigmas na economia brasileira, na organização do Estado nacional e suas competências. “É preciso reformular o Estado brasileiro, fazendo um corte, um enxugamento de cima até embaixo na estrutura do funcionamento da máquina estatal”, declarou. Para o deputado, o presidencialismo é um sistema problemático na solução de problemas – sobretudo no caso do Brasil, onde há uma centralização ainda maior. “Aqui, ele ainda é imperial e não tem saída a não ser pela renúncia ou impeachment. Ou, unilateralmente, ela pode chamar um conserto e entendimento nacional” – opção que ele acredita ser a mais viável hoje.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.