Para ex-Banrisul, privatização do banco é muito improvável – mas BTG segue com call de compra para ação

Após a disparada da véspera, papéis do banco gaúcho caem forte; Aod Cunha mostra ceticismo com privatização, mas analistas seguem positivos com a ação

Lara Rizério

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SÃO PAULO – As ações do Banrisul (BRSR6) dispararam 10% na última terça-feira, na esteira do anúncio do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de que enviaria uma atualização do plano de recuperação dos estados. 

Pela proposta, o estado que firmar um acordo de recuperação fiscal com o governo federal será beneficiado com a suspensão por 36 meses do pagamento das dívidas com a União, mas terá que assumir o compromisso de adotar rigorosas medidas de saneamento das finanças estaduais, entre as quais a privatização de bancos e empresas estaduais de água, saneamento, eletricidade. Com esse anúncio, os analistas de mercado passaram a considerar que seria mais provável que o banco estatal fosse privatizado. De acordo com o BTG Pactual, as ações do banco gaúcho se privatizado poderiam valer até o dobro do estatal, o que reforça o call de compra para os ativos. 

Contudo, a expectativa é de que o processo de privatização não seja tão fácil assim, conforme foi destacado pelo próprio BTG em relatório para clientes. Os analistas do banco realizaram painel com o Aod Cunha, ex-secretário do Rio Grande do Sul e ex-presidente do Conselho de Administração do Banrisul, que destacou: é altamente improvável que a privatização ocorra.  Em meio a esse cenário, os papéis do banco registram baixa de 4% nesta sessão, a R$ 18,26. 

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Embora veja dificuldades para o estado resolver sua situação fiscal, Cunha avalia que o Banrisul não será privatizado nesta gestão, uma vez que há um custo político muito alto para fazer esse movimento, apontando ainda que pesquisas no passado indicaram que 89% da população está contra a privatização. Esses números também implicam que um plebiscito  provavelmente rejeitaria a venda do banco. Vale destacar que um referendo estadual é necessário para a privatização, a menos que a constituição estadual seja alterada, o que por sua vez requer a aprovação de dois terços dos membros da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.

Do ponto de vista técnico, Aod Cunha acredita que uma privatização não abordaria o problema estrutural, uma vez que a única maneira das contas públicas irem para níveis saudáveis passaria por uma racionalização de despesas recorrentes. “O governo do Estado do Rio Grande do Sul provavelmente tentará ganhar tempo vendendo/privatizando outros ativos, como a estatal, e tentará costurar um acordo com o governo federal. No entanto, se o Rio Grande do Sul começar a enfrentar problemas de segurança como os vistos no Espírito Santo, o ambiente pode mudar e a probabilidade de privatização do Banrisul aumentar”, destacou. 

O BTG Pactual aponta: a visão de Aod Cunha está claramente contra a visão mais positiva dos analistas sobre a ação e as perspectivas de privatização. “Mas embora nós admitimos prontamente que Cunha é muito mais experiente em temas sobre estado e privatização, continuamos acreditando que a relação risco/recompensa de possuir ações do Banrisul a preços correntes, apesar do rali de 84% do ano, compensa”, afirmam os analistas. 

“Sempre estivemos muito céticos em relação à privatização do Banrisul, devido aos fortes laços entre o banco (e a sua marca) e o Rio Grande do Sul. Mas mudamos essa visão devido à situação calamitosa do estado. Situações desesperadas e únicas exigem decisões difíceis e ainda avaliamos que o ministério da Fazenda continuará pressionando para que o Banrisul seja incluído como uma garantia para o estado receber ajuda do governo federal. Prever o resultado final não é uma tarefa fácil, e as discussões provavelmente permanecerão aquecidas no curto prazo, particularmente depois que a privatização da CEDAE foi aprovada pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro”, aponta o BTG.

A preços correntes, as ações do Banrisul estão negociando em 1.2 vez o múltiplo de preço sobre o book value (patrimônio líquido). “Em nossa opinião, o valor justo do Banrisul ‘não-privatizado’ é de cerca de 1 vez, o que implica uma desvalorização de 16% em relação aos preços atuais. Conforme destacado em notas anteriores, acreditamos que o Banrisul poderia ser facilmente avaliado em 2 vezes, se fosse privatizado, representando 66% de alta frente os níveis atuais”, afirma equipe de análise.

Assim, para aqueles que veem grandes probabilidades de uma privatização (talvez perto de 50%), a relação risco-recompensa de possuir ações do Banrisul ainda é bom. Se assumir que há pelo menos 50% de chance, isso implicaria uma relação entre o preço e o BV justo de 1,5 vez para o Banrisul, o que configura um potencial de alta de 25% frente o fechamento da última terça-feira.  

 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.