Otimista com segundo semestre, JPMorgan elege brasileiras entre top picks

Para banco, cenário externo mais sólido deve ajudar desempenho da AL; no Brasil, recomendação é ficar fora de commodities

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – Depois de seis meses “difíceis” para os mercados da América Latina, o JPMorgan espera que a segunda metade de 2010 seja mais positiva para a região. Em relatório desta quinta-feira (15), o banco traçou suas perspectivas para os países latino-americanos, destacando suas expectativas macroeconômicas e para os mercados, e trazendo suas ações preferidas – das 20 top picks, 16 são brasileiras.

O arrefecimento dos temores acerca da sustentabilidade do crescimento global, combinado com o crescimento robusto da América Latina, forte influxo de capitais, bons ganhos e valuations atrativos, deve impulsionar a região. Entretanto, de acordo com Ben Laidler, que assina o relatório sobre a América Latina, o desempenho geral do segundo semestre ainda vai depender da recuperação global; há ou não há chance de um “double dip”? “A resposta vai determinar a performance absoluta desses mercados”, escreve o analista.

Para ele, apesar de uma desaceleração da economia global ser esperada para a segunda metade de 2010, a expectativa é de avanço de 3,3% no segundo trimestre, um montante “robusto”, na visão do banco. Os emergentes devem continuar liderando a recuperação – até agora, os destaques nesse sentido foram Ásia e Brasil, mas o analista acredita que a boa performance deve se estender pelo restante do grupo.

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“O desempenho frente aos mercados emergentes deve seguir com bases mais sólidas (…) As condições seguem favoráveis para os emergentes, com uma demanda externa sólida, boas condições financeiras internas e uma política doméstica flexível”, afirma Laidler.

Drivers do semestre
Além de um ambiente externo mais calmo, que deve ajudar o desempenho da região, o banco norte-americano lembra ainda que os valuations estão mais atrativos agora, bastante descontados frente à média vista entre 2002 e 2007. “Dentro da América Latina, o Brasil está sendo negociado a 8,6 vezes as estimativas de ganho para 2011, um desconto de 30% em relação ao México”, aponta o banco.

A recuperação dos ganhos corporativos também deve ser positiva para a região, apesar de o JPMorgan frisar que, provavelmente, grande parte dessa melhora já foi vista. “As expectativas sobre as empresas de commodities têm liderado as revisões, e continuam longe de seus ápices, mas a recente desvalorização das commodities devem trazer certa pressão”, explica Laidler.

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O banco também espera que os fluxos de capital – que, apesar da volatilidade, se mostraram bastante robustos nos primeiros seis meses do ano, com US$ 16 bilhões – continuem no segundo semestre, impedindo grandes realizações de lucro e mantendo vivo o apetite por risco.

Uma das principais apostas do JPMorgan no período é uma posição overweight em ações domésticas brasileiras, já que a relação risco/recompensa se mostra melhor devido à maior visibilidade macroeconômica. “Por isso, estamos aumentando nossas posições em Gafisa, NII Holdings e Santander”, afirmam os analistas.

Além disso, o México também recebe uma recomendação overweight, com foco em bens de consumo. Já as commodities são vistas com mais cautela, com uma posição underweight do banco devido a temores de que a demanda chinesa diminua. “Entretanto, ficaremos atentos para um ponto de entrada nas commodities”, explica o banco, destacando que, caso isso aconteça, as perspectivas para o Brasil ficam ainda melhores.

Economia brasileira: menos dúvidas
Passando à análise da economia brasileira, a expectativa é de uma desaceleração no ritmo de crescimento após um forte primeiro trimestre, e seguindo os apertos de política monetária. “Os mais recentes dados reforçam nossa visão de que, mesmo com a demanda doméstica ainda forte, o ciclo de produção está entrando em uma fase de maior moderação”, afirmam Fabio Akira Hashizume e Julio Callegari, que assinam o relatório sobre economia brasileira.

“No início do ano, estávamos cautelosos com o Brasil devido à falta de visibilidade sobre a política monetária, taxa de câmbio e riscos ligados ao processo eleitoral”, explica a analista Emy Shayo Cherman. Hoje, contudo, há menos dúvidas: “acreditamos que 40% do ciclo de alta da taxa Selic já foi realizado, e o restante já está precificado”, afirma. Na visão do banco, a taxa Selic deve ficar em 12,5% ao ano no final de 2010 – fazendo com que o maior aperto monetário entre os emergentes termine antes do esperado. “Isso traz certo risco de upside para nossa projeção de crescimento do PIB em 2011 (4%)”, afirma o JPMorgan. A projeção para 2010 é de um avanço de 7,5% do PIB, apoiado em drivers locais.

Com os riscos de altas mais fortes da taxa básica de juro para trás, em meio a dados inflacionários benignos e atividade em desaceleração, a posição do País é considerada favorável tanto de maneira absoluta quanto relativa.

Apesar do risco inflacionário ainda ser visto com certa cautela, a moderação do crescimento, menos incertezas externas e a queda nos preços de alimentos devem manter a inflação sob controle – e, consequentemente, o Copom (Comitê de Política Monetária) firme em seu ciclo de aperto.

As eleições, um dos temas centrais no País no segundo semestre, também não são deixadas de lado. Para o banco, a corrida pela presidência parece apertada, apesar do momentum favorável à candidata Dilma Rousseff.

Já em relação ao câmbio, o JPMorgan afirma que o real está sendo negociado próximo da projeção do banco para o final do ano – entretanto, um fraco apetite do governo por uma apreciação maior pode barrar a moeda. “Apesar de admitirmos que o compromisso da China de flexibilizar o yuan deve ter efeitos positivos no curto prazo, não mudamos nossa projeção de 1,80 para o real frente ao dólar no final de 2010”, diz o banco.

Ações ligadas ao mercado interno seguem em destaque
O Brasil, como apontam os analistas, segue com a pior performance entre os mercados emergentes no ano – desempenho que pode ser, pelo menos em parte, explicado por fatores externos. Para o banco, mesmo com o crescimento brasileiro em desaceleração, as ações ligadas ao mercado doméstico devem seguir em destaque. O foco são as financeiras, construtoras e empresas ligadas ao consumo, que têm valuations mais atrativos devido ao desempenho ruim no início do ano.

“As financeiras estão num lugar ótimo, com bom crescimento dos empréstimos e estabilidade nas taxas de inadimplência. Temos posições overweight no Santander Brasil (SANB11), Bradesco (BBDC4) e Itaú (ITUB4)”, explica o banco. Já para as imobiliárias, a justificativa é sua fraca performance no ano, e continuidade dos drivers no longo prazo. “Gostamos de Gafisa (GFSA3) e PDG (PDGR3), ambas com classificação overweight”.

Já as ações ligadas a commodities – que têm forte participação no Ibovespa – não são vistas com tanto otimismo por hora, levando o banco a uma posição “underweight”. Além das pressões chinesas, que impedem um fluxo maior de investimentos para o País, os analistas destacam a Petrobras (PETR3, PETR4): “O timing e tamanho da oferta da estatal, e o que ela representa para os investidores, permanecem como uma das grandes dúvidas”, ressalta o banco, lembrando que a Petrobras tem grande peso nos índices brasileiros e dos mercados emergentes.

Top picks
Em seu relatório, o banco apresenta dois portfólios: uma “carteira modelo”, que expressa “nossa visão sobre visões estratégicas nos mercados regionais”, e os top picks nos principais setores para o segundo semestre. Entre as 20 top picks do banco norte-americano, 16 são brasileiras. Confira abaixo os dois portfólios:

Carteira Modelo – Brasil
Empresa   Recomendação  
BM&F Bovespa Overweight
Bradesco (ADR) Overweight
Pão de Açúcar  Overweight
Gafisa Overweight
NIHD (ADR) Overweight
OGX Overweight
PDG Overweight
Petrobras (ADR) Neutro
Santander Brasil Overweight
Vale Overweight
   Top picks setoriais – 2º semestre   
TAM (ADR)
ALL
Santander Brasil
Bradesco
Souza Cruz
Amil
PDG
Vale
OGX
Suzano
Pão de Açúcar
Lojas Renner
Copel
Tractebel

América Latina
Além de uma análise detalhada do mercado brasileiro, o JPMorgan também aponta suas expectativas para os demais mercados latino-americanos. O México, por exemplo, destaque do ano até agora, deve ver um desempenho mais moderado na segunda metade de 2010, acompanhando a desaceleração da recuperação cíclica dos EUA.

Já a Colômbia é vista com mais otimismo, destacada como uma das histórias estruturais mais atrativas na região. O Peru também recebe uma avaliação positiva, apesar de riscos de uma expansão mais lenta no segundo semestre.

A Argentina, por sua vez, traz indicações díspares: apesar de um forte crescimento, ainda existem riscos de baixos investimentos no médio prazo, alta da inflação e fuga de capitais.

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