Otimista, Barclays revisa projeções e diz que América Latina faz voo de cruzeiro

A força do avanço da região é fruto da robusta demanda interna e semestre deve ser calmo, com desafios apenas no longo prazo

Tainara Machado

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SÃO PAULO – O tom otimista adotado pelo Barclays Capital em seu último relatório trimestral continua pontuando suas projeções econômicas não só para os próximos meses, como também para todo o restante do ano de 2010 e também 2011. A recuperação cíclica está “moderadamente” mais forte e as taxas de juros deverão ser mantidas em patamares baixos por grande parte do mundo, afirmam Michael Gavin, Piero Ghezzi e Andrea Kiguel, responsáveis pela análise da situação atual dos mercados emergentes. 

Os problemas vislumbrados pelo mercado e que levaram o Ibovespa e as outras bolsas mundiais a recuarem forte nos últimos meses são, então, descabidos? Não, especialmente se o prazo abordado é longo, explica o Barclays.”Pensamos que isso é apropriado e consistente com o gradual desaparecimento da ênfase na recuperação cíclica como um driver de mercado”.

Por isso, aqueles que investem nos mercados emergentes têm que lidar com dois desafios: o primeiro é equilibrar o futuro imediato, em que o desenvolvimento econômico na região deve continuar a apoiar o mercado, com o médio e longo prazo mais arriscados para os mercados financeiros globais. 

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O outro problema é administrar a tensão entre perspectivas econômicas positivas para as economias emergentes e o cenário mais desafiador enfrentado por economias industriais. Assim, embora o Barclays permaneça otimista em relação aos mercados de ações emergentes, “se o rally que nós vislumbramos se materializar, ficaríamos inclinados a diminuir o risco sob a perspectiva de que desafios de longo prazo irão justificar maior cautela em relação a mercados de risco”, reportou o banco inglês. 

O trimestre em revista
Embora o Barclays Capital tenha dado a devida importância à Grécia em seu último relatório, o banco não imaginou que os pacotes de resgate seriam insuficientes para acalmar os mercados. Para o banco, tanto o sell-off recente quanto a volatilidade não são justificáveis em contraposição aos dados econômicos divulgados durante o segundo trimestre de 2010.

Ou seja, embora permaneçam algumas ameaças à retomada global, o Baclays julga que subestimou a sensibilidade dos mercados à percepção de risco em relação a eventos improváveis, mas de resultados catastróficos, caso o cenário se concretizasse. Mas o banco não está alheio à situação econômica global e por isso lembra que, embora esteja otimista com a recuperação cíclica em curso, também leva à sério os riscos e problemas que irão confrontar a economia global nos próximos anos.

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O “novo normal”, diz o Barclays, em que as economias emergentes continuarão apresentando um quadro positivo enquanto as potências industriais, potentes drivers dos mercados, enfrentarão um prognóstico bem menos favorável, é menos reconfortante.  

Mudança de foco
Por outro lado, essa mudança de foco não significa que o Barclays mudou suas projeções para o futuro próximo. A economia global deve apresentar expansão de 4,7% em 2010 e 4,3% em 2011. Além disso, a inflação ainda bastante estável e as preocupações relacionadas à Europa deverão postergar a normalização monetária. Por isso, o banco inglês adiou a expectativa de aumento nos juros nos Estados Unidos do próximo trimestre para abril do próximo ano. Os Treasuries com vencimento em 10 anos devem, portanto, encerrar o ano com yield de 3,85%, e não mais 4,3%, como era previsto três meses atrás.

Para a China, a transição de um crescimento de 10% neste ano para uma taxa em torno de 9% em 2011 deve ser tranquila, e o país deve continuar a ser uma importante fonte de estabilidade nos próximos trimestres, assim com tem sido nos últimos 18 meses.

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Já para o Brasil, o crescimento apresentado no primeiro trimestre deste ano ficou bem acima do esperado pelo Barclays, que por isso revisou sua projeção de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) do País de 5,7% para 7,5%. Em 2011, a expectativa é que a economia cresça 4,4%. Para a Argentina, o caso é o mesmo, e o crescimento deve ser de 6,1% neste ano.

Cenário volátil no mundo, voo de cruzeiro na América Latina
Para Guilherme Mondino, responsável pelo cenário macroeconômico delineado para a América Latina pelo Barclays, o crescimento tem sido rápido e impulsionado pela demanda doméstica. Por isso, em um mundo turbulento, a região passou o último trimestre sem eventos marcantes. 

Assim, o próximo semestre parece claro, em que “todos os países parecem em voo de cruzeiro, embora em diferentes altitudes”. Além dos casos já citados de Argentina e Brasil, em que as projeções foram revisadas para cima, o crescimento do Chile foi revisado negativamente (de 5,2% para 4,2% em 2010), em função do terremoto que atingiu o país, embora o banco espere que esse efeito tenha vida curta. O México também sofreu o mesmo destino (de 5,5% para 5% em 2010), mas em face de uma recuperação mais lenta do que era previsto. 

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Solvência fiscal
Todo mundo já sabe que o crescimento é puxado pelo consumo doméstico, mas o que espanta dessa vez é a solvência fiscal da região. “Pela primeira vez em 40 anos, a sustentabilidade da dívida não é um problema na América Latina”, comenta o Barclays. O Brasil, por exemplo, poderia até reduzir seu superávit primário e mesmo assim continuar em tendência de redução de dívida, aponta o banco, citando o FMI (Fundo Monetário Internacional).

Por outro lado, a política fiscal continua a ser pró-cíclica. “Com crescimento consolidado e forte, nós esperaríamos que os governos tomassem a vantagem para melhorar significativamente seus orçamentos primários”. Mais uma vez, o Brasil é um dos exemplos, em que o superávit primário de 2,5% previsto para 2010 deixa espaço para que esse número estivesse significativamente maior, em 3,4%. Assim, embora se recuperando num passo sólido, a política fiscal não está ainda neutra e pode acarretar em peso excessivo para a política monetária.

Nesse caso, com o aperto monetário já iniciado no Brasil, o Barclays espera mais dois ajustes de 75 pontos-base na Selic, o que levaria a taxa a 11,75% ao ano.  O Chile segue o mesmo caminho, embora com elevações de 50 pontos-base por reunião. Já o México e a Colômbia, por exemplo, não devem elevar juros neste ano, já que a inflação ainda não incomoda. 

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O risco maior fica, então, por conta de políticas econômicas muito complacentes, embora a região apresente cenário favorável, o que deve contribuir tanto para atrair fluxo de capital quanto para corroborar ascensão dos ativos. 

Eleições: volatilidade para o câmbio
Com a perspectiva de um semestre tão calmo, o Barclays ressalta que ao menos o calendário político deve trazer novidades. Na Colômbia, a transição de Álvaro Uribe para Juan Manuel Santos deve ser tranquila, embora ele possa enfrentar logo de início questões fiscais delicadas. 

No Brasil, as eleições atrairão atenção, avalia o banco, pois marcam a despedida da administração “extremamente popular” de Lula, e o novo presidente poderá ter que estabelecer uma nova agenda, o que irá incrementar as incertezas políticas, avalia a instituição. “Nós estamos, no entanto, bastante confiantes que o cenário macroeconômico continuará inalterado”, pontua o Barclays. Por isso, a volatilidade maior deve ficar com o câmbio nos próximos trimestres. 

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Câmbio, crédito e títulos públicos: oportunidades
E, embora permaneça confortável com os mercados mais arriscados na América Latina, como câmbio e crédito, o Barclays afirma que está mantendo um olho em estratégias de hedge. Os spreads continuaram confortáveis durante a volatilidade do último trimestre e devem permanecer assim durante a recuperação econômica forte da região, mas os investidores devem ficar atentos a possíveis defesas, explica o banco. A Colômbia, no caso, continua a ser a escolha favorita da instituição.

Com menor volatilidade financeira, o Barclays prefere os pesos mexicano e chilenos ao euro. Já o real é a moeda “selvagem” desse ambiente, “então é melhor se posicionar em depreciação induzida por políticas econômicas via spreads financiados de dólar”, avalia o banco inglês.

Por último, o Barclays sugere posicionamento em títulos brasileiros, como o Global.  A boa administração deve se traduzir em prêmio de risco menor, estruturalmente, explica o banco, especialmente considerando o fato de que o Banco Central deve voltar a se esforçar para reduzir a taxa de juros do País. Além disso, países desenvolvidos apresentam riscos fiscais crescentes, o que pode induzir os investidores globais a olhar os elevados yields brasileiros como um lugar atrativo para se investir. Por último, a instituição ressalta que prefere os títulos com vencimento em 2022.

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