Campos Neto tem saber que o povo perde dinheiro com taxa de juros alta, diz Lula

Presidente voltou a criticar o mercado financeiro e o nível da Selic: "Com todo respeito ao mercado, eu quero mais bem ao Brasil que ao mercado"

Equipe InfoMoney

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar nesta terça-feira (23) o mercado financeiro e o nível da Selic (taxa básica de juros da economia brasileira) e disse que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, precisa saber que quem “perde dinheiro” com juros altos é o “povo brasileiro”. “Com todo respeito ao mercado, eu quero mais bem ao Brasil que ao mercado”.

Lula afirmou que o mercado precisa ter responsabilidade. “Esse país não pode ficar todo dia tomando susto, de que o mercado não gostou disso e não gostou daquilo. O mercado está ganhando muito dinheiro com essa taxa de juros. Isso tem que ficar claro para a sociedade. E o presidente do Banco Central tem que saber quem perde dinheiro com essa taxa de juro alta é o povo brasileiro”.

Durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, o presidente da República também falou sobre a sucessão no BC. “Eu tenho que indicar mais diretores e tenho que indicar o presidente do Banco Central até o final do ano. Eu só tenho que decidir se eu vou antecipar ou se deixo para indicar o mais próximo possível do vencimento do mandato do presidente Roberto Campos”.

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Campos Neto foi indicado pelo antecessor de Lula, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu adversário nas eleições de 2022 e ainda seu principal rival no atual cenário político do país. Desde o início de seu terceiro mandato, o presidente tem frequentemente destacado suas divergências com Campos Neto, criticando principalmente a política monetária restritiva do BC, afirmando que o patamar da taxa básica de juros continua muito elevado.

Com a autonomia operacional do BC estabelecida em 2021, o presidente da autarquia passou a ter um mandato fixo de quatro anos. Isso criou um cenário inédito para Lula, que não pôde indicar imediatamente um para comandar a autoridade monetária e teve de lidar com o indicado por Bolsonaro.

“Quem já conviveu com Roberto Campos um ano e quatro meses não tem nenhum problema em viver mais seis meses. O que eu espero é que o Roberto Campos leve em conta que o Brasil não corre nenhum risco”, afirmou Lula, ao destacar a época em que o Brasil tinha dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI). “Muitos poucos países têm a segurança que tem o Brasil.”

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No primeiro ano do mandato de Lula, o BC manteve a taxa básica de juros inalterada em 13,75% ao ano até agosto, quando realizou um primeiro corte de 0,5 ponto percentual. As quedas têm sido da mesma magnitudade desde então e, atualmente, a Selic está em 10,75%.

Lula afirmou que, mesmo assim, “tem toda a paciência do mundo”, porque precisa esperar até dezembro para mudar a presidência do BC. “Veja como somos tranquilos”, declarou. “Eu não sou movido a mercado, sou movido a soluções para o povo brasileiro”.

Um dos nomes cotados para a sucessão na presidência do BC é o diretor de política monetária da autarquia, Gabriel Galípolo, que era secretário-executivo do Ministério da Fazenda. O ex-braço direito de Haddad defendeu, no início deste mês, que dirigentes da instituição não deveriam se envolver no processo de escolha, que é uma atribuição do presidente da República.

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(Com Estadão Conteúdo e Reuters)