Os 13 deputados que defenderam o distritão mas não teriam sido eleitos com ele

Menos lógico em um primeiro momento seria posicionar-se contra o próprio partido em prol de um projeto que poderia ser prejudicial à própria candidatura em disputas futuras. Foi o que fizeram dois parlamentares

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Existiria hoje em curso no sistema político brasileiro um excesso de pragmatismo e individualismo que, aos poucos, invade espaços antes ocupados por conteúdos mais ideológicos e, de certo modo, reflexivos. A tese defendida por muitos especialistas pode ter ganhado um irônico e contraditório capítulo na última terça-feira (26), quando deputados derrubaram a proposta de se implementar o modelo eleitoral do voto “distritão” no lugar do atual sistema proporcional.

Conforme o InfoMoney apurou, 41 nomes sofreriam alteração caso a metodologia fosse outra em 2014, sendo 8 deles apenas em São Paulo. Ou seja, quatro dezenas de deputados teriam recebido mais votos do que alguns concorrentes eleitos na última disputa, porém, ficaram de fora do Congresso – ao menos como titulares. A maioria acabou na suplência. Desta forma que pode-se dizer que houve 41 prejudicados pelo sistema proporcional, assim como 41 parlamentares hoje na Câmara dos Deputados foram beneficiados pelos famosos “puxadores de votos” em seus partidos.

No entanto, engana-se quem pensa que a gratidão é um sentimento comum a todos esses deputados. Ao contrário do que se poderia imaginar – e desafiando parte da lógica -, 13 deles votaram a favor do “distritão”, modelo defendido pelo presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o vice-presidente da República Michel Temer, no qual teriam sido derrotados e estariam fora da casa nesta legislatura. Seja pela pressão do partido ou por qualquer outro motivo, o voto desses deputados configura um clássico “tiro no pé”.

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A tabela abaixo mostra a relação dos parlamentares prejudicados pelo “distritão” e como eles votaram em plenário, na última terça-feira:

DEPUTADO PARTIDO VOTO ORIENTAÇÃO DO PARTIDO
PAULO FERNANDO DOS SANTOS PT CONTRA CONTRA
JOZIANE ARAUJO NASCIMENTO ROCHA PTB FAVOR A FAVOR
ULDURICO ALENCAR PINTO PTC CONTRA CONTRA
AUGUSTO SILVEIRA DE CARVALHO SD FAVOR A FAVOR
LAERTE RODRIGUES DE BESSA PR CONTRA CONTRA
EVAIR VIEIRA DE MELO PV CONTRA CONTRA
MARCUS ANTÔNIO VICENTE PP FAVOR A FAVOR
PEDRO PINHEIRO CHAVES PMDB FAVOR A FAVOR
ANDRÉ LUIS CARVALHO RIBEIRO PEN FAVOR A FAVOR
JOÃO CASTELO RIBEIRO GONÇALVES PSDB FAVOR LIBERADO
ANTONIO DA CRUZ FILGUEIRA JUNIOR PEN FAVOR A FAVOR
ALUISIO GUIMARÃES MENDES FILHO PSDC CONTRA CONTRA
FRANKLIN ROBERTO DE LIMA SOUZA PT do B CONTRA CONTRA
DÂMINA DE CARVALHO PEREIRA PMN CONTRA CONTRA
EDSON MOREIRA DA SILVA PTN CONTRA CONTRA
BRUNIELE FERREIRA DA SILVA PTC CONTRA CONTRA
DAGOBERTO NOGUEIRA FILHO PDT CONTRA CONTRA
VALTENIR LUIZ PEREIRA PROS CONTRA LIBERADO
ARNALDO JORDY FIGUEIREDO PPS CONTRA CONTRA
KAIO CÉSAR DE MOURA MANIÇOBA NOVAES FERRAZ PHS FAVOR CONTRA
ANTONIO WANDSCHEER PT CONTRA CONTRA
DIEGO ALEXSANDER GONÇALO PAULA GARCIA PHS FAVOR A FAVOR
LEOPOLDO COSTA MEYER PSB CONTRA CONTRA
EZEQUIEL CORTAZ TEIXEIRA SD abstenção A FAVOR
LUIZ CARLOS RAMOS PSDC FAVOR CONTRA
ALEXANDRE VALLE CARDOSO PRP CONTRA CONTRA
LINDOMAR BARBOSA ALVES PMDB FAVOR A FAVOR
CARLOS AUGUSTO ANDRADE SILVA PHS FAVOR A FAVOR
JOSÉ OTAVIO GERMANO PP FAVOR A FAVOR
RONALDO NOGUEIRA DE OLIVEIRA PTB CONTRA A FAVOR
JOSE LUIZ STEDILE PSB CONTRA CONTRA
CARMEN EMÍLIA BONFÁ ZANOTTO PPS CONTRA CONTRA
GEOVANIA DE SA RODRIGUES PSDB CONTRA LIBERADO
SINVAL MALHEIROS PINTO JUNIOR PV CONTRA CONTRA
JOSE AUGUSTO ROSA PR CONTRA CONTRA
SERGIO BAVINI PRB CONTRA CONTRA
MIGUEL LOMBARDI PR CONTRA CONTRA
PAULO ROBERTO GOMES MANSUR PRB CONTRA CONTRA
MARCELO SQUASSONI PRB CONTRA CONTRA
FAUSTO RUY PINATO PRB CONTRA CONTRA
MARIA AUXILIADORA SEABRA REZENDE DEM CONTRA A FAVOR

Fonte: Câmara dos Deputados

Dentre esse grupo de 13 parlamentares que votaram a favor do modelo defendido por Cunha e Temer, 10 acabaram seguindo a cartilha de seus partidos, que orientaram voto favorável. Caso de Augusto Carvalho (SD-DF), Marcus Vicente (PP-ES) e Pedro Chaves (PMDB-GO). Nestas situações, a decisão parece fazer mais sentido, já que existe uma espécie pressão natural por parte da bancada em votar em conjunto como forma de manifestação de coesão e defesa de valores comuns.

Em muitos casos, parlamentares cedem mesmo quando suas avaliações pessoais são divergentes. Às vezes, a expectativa de que o projeto, de qualquer forma será derrubado ou que são mínimas as chances de ele prosperar, faz com que o parlamentar não “compre brigas” desnecessárias.

Suicídio, interesse ou princípios?
Menos lógico em um primeiro momento seria posicionar-se contra o próprio partido em prol de um projeto que poderia ser prejudicial à própria candidatura em disputas futuras. Foi esse o comportamento adotado pelos deputados Kaio Maniçoba (PHS-PE) e Luiz Carlos Ramos (PSDC-RJ), que contrariaram as posições das siglas que representam e defenderam um possível “suicídio político”, que poderia acontecer futuramente caso o projeto fosse realmente posto em prática após aprovação prévia do Congresso.

Ouvido pelo InfoMoney para tentar explicar a controversa situação, o chefe de gabinete de Ramos, Luiz Cardona, diz que aquela era uma posição pessoal do parlamentar. “Apesar de não ser beneficiado, é uma coisa mais justa o parlamentar mais votado ser aquele que tenha acesso”, argumentou. A resposta de Maniçoba caminhou na mesma linha: “Sabemos existir muitas distorções em nosso processo eleitoral brasileiro e torço pelos reais ajustes. Votei a favor do distritão conforme minhas convicções e não atendendo aos meus interesses. Optei pela forma que acredito ser mais justa de eleger os mais votados. As outras opções – lista, distrital misto e distritão misto – restringem a representação popular”, declarou o parlamentar por meio de sua assessoria. Ainda na pauta da reforma política, Maniçoba defende a diminuição do tempo das campanha e ao fim da reeleição.

Outro caso foi protagonizado por João Castelo (PSDB-MA), porém, este um pouco menos adverso por conta da orientação oficial tucana sobre o assunto. Durante votação em plenário, a sigla decidiu liberar seus membros para se posicionarem da forma que julgassem a mais correta. O encaminhamento mais lógico seria Castelo ter optado pela obstrução da proposta, votando contra, visto que o “distritão” poderia ser entendido como uma ameaça à sua sobrevivência política. Também nesta situação o óbvio não se confirmou. Procurado, o parlamentar também não deu resposta até o fechamento da reportagem.

Do(is) contra
O lado oposto também existiu. Na mesma votação do “distritão”, dois deputados ignoraram as orientações de seus partidos para defender posições divergentes. Enquanto PTB e DEM pediam que seus parlamentares aprovassem tal projeto de mudança no sistema eleitoral, Ronaldo Nogueira (RS) – do primeiro – e Professora Dorinha Seabra Rezende (TO) – do segundo partido – optaram pelo caminho do enfrentamento ao recusar a proposta, em detrimento a possíveis pressões consequentes.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.