O papel importante, mas não decisivo, de Alckmin na campanha de Lula ao Planalto

Para analistas, falas do ex-governador de SP ajudam a atrair apoio partidário mais amplo na montagem de eventual governo de coalizão liderado pelo petista

Anderson Figo

Ex-presidente Lula e Geraldo Alckmin participam da Convenção Nacional do PSB (Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação/PT)

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O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), vice na chapa com Lula (PT) ao Planalto, surpreendeu em seus primeiros discursos ao lado do ex-presidente pelo tom militante utilizado — diferente do perfil mais centrado e menos explosivo do político ao qual os eleitores paulistas estavam acostumados.

Desde então, Alckmin tem dosado a mão em suas falas. A estratégia, segundo cientistas políticos ouvidos pelo InfoMoney, é assegurar à base mais fiel do PT de que ele está fechado com o partido, mas também trazer certa tranquilidade a não eleitores da sigla, aos quais Lula não tem costume de se dirigir diretamente.

“Nós vivemos hoje no Brasil o mais cruel e desastroso governo da história. Triste período. Mas iniciamos a partir de hoje uma caminhada, e que Deus ilumine a consciência de cada brasileiro e de cada brasileira. Que a gente possa ter um novo período com a volta do presidente Lula à Presidência”, afirmou Alckmin, em palanque petista na Bahia há cerca de três semanas, quando ambos iniciaram agenda por capitais do Nordeste, onde Lula tem 59% das intenções de voto, segundo o Datafolha.

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“O presidente Lula vai tirar o Brasil do mapa da fome e recoloca-lo no mapa do mundo. Vai atrair investimento, trazer emprego, oportunidade para a juventude, melhorar o salário mínimo, recuperar a vida da nossa população”, completou o candidato a vice.

Na última sexta-feira (29), em convenção do PSB que oficializou sua candidatura como vice de Lula, Alckmin usou em seu discurso a saudação conhecida do ex-presidente “companheiros e companheiras”, e falou que os “plantadores de chuchu não serão esquecidos” — uma ironia ao apelido de “picolé de chuchu”, popularizado pelo colunista José Simão durante as eleições de 2002 ao governo de São Paulo.

A expressão é geralmente usada de forma pejorativa para se referir a alguém ou algo sem graça, sem gosto. O próprio Alckmin já disse que prefere ser “mais discreto” e utiliza o termo de forma bem-humorada.

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Visto como o símbolo da “frente ampla” construída por Lula para essas eleições, Alckmin também aproveitou a ocasião para se comunicar com os eleitores de fora da base de apoio da chapa e com agentes econômicos. Não deixou de falar sobre empobrecimento e a volta da fome no Brasil, mas também tratou de negócios, investimentos e política econômica.

“Peço licença a vocês para poder falar também com os brasileiros que não estão aqui entre nós. Com os brasileiros que não compartilham do nosso ponto de vista, que não comungam dos nossos ideais e das nossa convicções, que por vezes rejeitaram ou mesmo nunca aceitaram e sempre criticaram as nossas opiniões e as nossas ações”, disse.

“Eu quero falar agora com os brasileiros que ainda relutam em admitir que Lula pode ser, e certamente com a força de todos nós, será a alternativa mais viável para fazer o Brasil um país melhor, um país que queremos, o país que merecemos. Eu quero dizer a esses brasileiros: Bolsonaro falhou com vocês, mas nós estamos do seu lado”, continuou.

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“Aos empresários, que têm dificuldade de honrar seus compromissos, que se sentem acuados e foram prejudicados por uma política econômica mal-sucedida, que gerou inflação, elevou os juros, tornou o financiamento mais caro e impeditivo, que é fruto da improvisação e da falta de planejamento desta gestão [atual] (…). Eu quero dizer que Bolsonaro abusou de sua confiança, mas nós jamais abusaremos. E este compromisso haverá de ser cumprido com a eleição de Lula em 2 de outubro.”

Avaliações

No geral, os cientistas políticos ouvidos pelo InfoMoney avaliam que o papel de Alckmin na campanha de Lula é importante, mas não decisivo. Até porque, dizem, o petista já conquistou alguma confiança dos empresários e da elite brasileira durante seus dois governos passados.

“Não me parece que a presença de Alckmin como companheiro de chapa de Lula seja decisiva para o resultado das urnas, com a possível exceção do estado de São Paulo. O papel do ex-tucano está mais do que claro: atrair apoios partidários mais amplos na montagem de um eventual governo de coalizão liderado pelo petista, a partir de outubro”, disse Rogério Schmitt, cientista político da Empower Consultoria.

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“A Faria Lima [referência à região de São Paulo onde se concentram as sedes dos maiores grupos financeiros do país] já conhece Lula o suficiente, com base em seus dois mandatos presidenciais anteriores, e a chapa com Alckmin interfere bem pouco na avaliação de riscos e oportunidades”, completou o analista.

Para Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper, o Alckmin tem cumprido esse papel de frente ampla proposto na chapa com Lula, sinalizando aos não eleitores do partido que um eventual novo governo da sigla não falaria apenas com a base aliada, mas é preciso um ajuste mais fino de discurso.

“O Alckmin tem sinalizado muito mais um discurso de ele aderir à esquerda do que especificamente do Lula ir ao centro. A presença do Alckmin é um ativo importante e tem funcionado dessa forma. O discurso do Alckmin talvez seja um problema porque não está sendo bem calibrado. Há esse papel ambíguo na presença do Alckmin na chapa”, afirmou.

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Vitor Oliveira, cientista político e sócio-diretor da consultoria Pulso Público, enxerga Alckmin como um trunfo de Lula em locais onde ele não tem historicamente apoio dos eleitores.

“A atuação mais ostensiva dele como cabo eleitoral vai ser no interior de São Paulo e nos estados em que Lula vai ter mais dificuldade, como os estados do Sul, talvez, ou no Centro-Oeste. O Alckmin tem uma ligação muito forte com prefeitos em cidades pequenas e médias no interior de São Paulo, ele consegue obviamente ter um diálogo muito mais fácil com o agronegócio, embora o Lula não seja exatamente fechado ao agronegócio”, disse.

“E certamente ele vai ter um papel muito forte na tentativa desse grupo político que foi formado a partir da candidatura federal, e consolidado com a candidatura do Márcio França  para o senado aqui em São Paulo, de eleger essa tabelinha de Marcio França e Fernando Haddad [para o governo paulista]. (…) Não vejo Alckmin se projetando nacionalmente ou sendo muito incisivo, acho que ele terá esse papel mais estratégico e pontual”, completou.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.