O inesperado trunfo de Michel Temer para aprovar a reforma da Previdência

Recorde de desaprovação faz governo ter pouco a perder, mas pode não afugentar deputados na hora de votar agenda impopular

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O governo Michel Temer ainda tem grandes chances de aprovar alguns pontos da reforma previdenciária demandada pelo mercado. Se, por um lado, a tramitação da denúncia contra o peemedebista na Câmara tem provocado maior atraso nas articulações para a PEC 287/2016, por outro, a impopularidade pode ser, ironicamente, um grande trunfo do atual presidente. Essa é a leitura que faz o cientista político Danilo Cersosimo, diretor da Ipsos Public Affairs, terceira maior empresa de pesquisas do mundo.

Ao contrário do que se poderia imaginar, a baixíssima aprovação da atual gestão pode não afugentar os parlamentares conforme esperado, mesmo que a aprovação de medidas impopulares possa prejudicar o desempenho de muitos deles nas próximas eleições. Conforme mostra o mais recente levantamento feito pelo instituto, apenas 2% dos brasileiros avaliam a administração do presidente como ótima ou boa, ao passo que 84% a consideram ruim ou péssima.

Mas o que explicaria eventual postura mais amistosa dos parlamentares a tal medida impopular às vésperas das eleições? O cientista político Danilo Cersosimo aponta duas perspectivas como possíveis respostas.

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Do lado do governo:[A reforma da Previdência] Tem muita chance [de passar], porque um governo que não tem nenhuma aprovação praticamente, em tese, não precisa dar satisfação à opinião pública. Então, teoricamente, é um governo que poderia impor todos os remédios amargos que a sociedade brasileira precisa tomar”, explicou o especialista em entrevista ao último programa Conexão Brasília, pelo InfoMoneyTV. Para ele, a grande questão é quais pontos da medida passarão e quais ficarão no caminho, tendo em vista as negociações de Temer com os parlamentares para se manter no poder e evitar julgamentos.

Do lado dos congressistas: O cientista político acredita que a pressão da sociedade e exposição dos deputados e senadores que se posicionarem a favor de medidas impopulares têm efeito reduzido no Brasil. “Infelizmente, nosso sistema não aproxima o parlamentar do eleitor, do cidadão. As pessoas, via de regra, não sabem em quem votaram, então dificilmente vão associar o voto do parlamentar a uma causa que, na percepção dela, foi prejudicial. Não creio que levar em consideração o que a opinião pública pensa sobre as reformas vai direcionar o comportamento do Congresso”, disse Cersosimo. Ele acredita que pode haver renovação significativa nos assentos do parlamento (o que, de certo modo, já é uma realidade na Câmara dos Deputados), mas movida mais por um senso de necessidade de renovação, guiado pela ojeriza a escândalos de corrupção recentemente revelados.

Na avaliação do diretor da Ipsos, a reforma previdenciária pode ser menos danosa à imagem de um parlamentar que pretenda disputar uma corrida eleitoral em comparação com o quanto ele pode ganhar de capital político com recursos liberados pelo governo para emendas e cargos conquistados em áreas estratégicas. “Isso é sempre muito mais percebido. Estamos falando de um país com pouco senso de coletivo. Nós também não primamos por pensamento de longo prazo. É muito possível que os parlamentares que podem se sair melhor na próxima eleição, do ponto de vista de permanência, de reeleição, sejam, aqueles que tenham mais associação e benfeitorias que você percebe no curto prazo e para si mesmo”, concluiu Cersosimo. Para assistir à íntegra do último programa Conexão Brasília, clique aqui.

Um levantamento feito pelo projeto Congresso em Números, do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV-Rio faz constatações que podem corroborar com tal avaliação. Conforme apuraram os pesquisadores, a Câmara dos Deputados vive hoje seu maior descolamento da opinião pública em quase duas décadas. Em setembro, 79,6% dos deputados acompanhavam as orientações da liderança do governo, enquanto o Michel Temer era avaliado positivamente por menos de 3% dos entrevistados pelo mais recente levantramento feito pelo Ibope. Na média anual, o apoio parlamentar ao presidente está em 78,7%, enquanto a popularidade média oscila na casa dos 6%. O estudo foi divulgado pelo jornal O Globo no último domingo.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.