“Mercado fica nervoso à toa”, diz Lula após forte queda da Bolsa e disparada do dólar

Ibovespa encerrou o dia em queda de 3,35%, a 109.775 pontos, em meio a preocupações fiscais sobre o novo governo

Marcos Mortari

(Divulgação - Flicker - Lula Oficial/Ricardo Stuckert)

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Após reação negativa de investidores ao seu discurso pela manhã, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse que não há razão para o mercado “ficar nervoso” e que não viu comportamento semelhante ao longo dos quatro anos de governo Jair Bolsonaro (PL).

“O mercado fica nervoso à toa, nunca vi um mercado tão sensível quanto o nosso. Engraçado que esse mercado não ficou nervoso com quatro anos do Bolsonaro”, disse a jornalistas ao deixar as instalações do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília.

O Ibovespa encerrou a quinta-feira (10) em queda de 3,35%, a 109.775 pontos, destoando do desempenho favorável dos índices das principais bolsas internacionais. O dólar comercial subiu 4,14%, a R$ 5,396 na compra e R$ 5,397, em sua maior alta desde março de 2020.

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O EWZ, que replica, em dólar, os ativos que compõe o Ibovespa, sofreu tombo de 6,53%, também em sua maior queda em 32 meses.

Investidores têm manifestado preocupação com a situação fiscal do país, em meio às discussões sobre a aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que crie um “waiver” (uma licença para gastar fora do teto) para acomodar despesas para o Bolsa Família de R$ 600,00, um reajuste real do salário mínimo e outras promessas de campanha de Lula.

Nos últimos dias, ganhou força no mundo político a ideia de retirar do teto de gastos todas as despesas com o Bolsa Família de forma permanente. No Orçamento de 2023, isso significaria um espaço de R$ 105 bilhões para acomodar outras despesas na regra fiscal.

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Antes, já havia circulado a informação de que a equipe de Lula estudava pedir um “waiver” de R$ 175 bilhões ao Congresso Nacional  montante considerado − exagerado por boa parte do mercado.

Agentes econômicos cobram do novo governo maior clareza sobre o espaço fiscal a ser solicitado ao Congresso Nacional, os termos da proposta e quais são os planos do presidente eleito para o arcabouço fiscal. Há também uma pressão para a apresentação do nome que comandará o Ministério da Fazenda e sua equipe. Tal sinalização é vista como fundamental para o futuro das contas públicas.

Sinal de alerta?

No discurso feito pela manhã, Lula defendeu uma discussão econômica mais ampla, que não leve apenas a questão fiscal em consideração. “Por que as pessoas são levadas a sofrer por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país?”, questionou.

“Por que toda hora as pessoas falam ‘é preciso cortar gasto, é preciso fazer superávit, é preciso fazer teto de gastos’? Por que as mesmas pessoas que discutem com seriedade o teto de gastos não discutem a questão social deste país? Por que o povo pobre não está na planilha da discussão da macroeconomia? Por que a gente tem meta de inflação e não tem meta de crescimento? Por que não estabelecemos um novo paradigma de funcionamento deste país?”, indagou.

“A única razão que tenho de voltar a exercer o cargo de presidente é tentar restabelecer a dignidade do nosso povo. E a prioridade zero, outra vez, o mesmo discurso que disse em dezembro de 2002, não tenho que mudar uma única palavra: se, quando eu terminar esse mandato, cada brasileiro tiver tomando café, almoçando e jantando outra vez, eu terei cumprido a missão da minha vida”, disse emocionado.

Lula defendeu que é preciso “mudar alguns conceitos neste país”, considerando como investimentos alguns recursos que hoje são vistos como gastos.

“Não é possível que se tenha cortado o dinheiro da Farmácia Popular em nome de que é preciso cumprir a meta fiscal. Cumprir a regra de ouro. Sabe qual é a regra de ouro deste país? É garantir que nenhuma criança vá dormir sem tomar um copo de leite e acorde sem ter um pão com manteiga para comer todo dia. Essa é a nossa regra de ouro. É um compromisso em fazer com que esse país maravilhoso tenha o povo voltando a sorrir”, disse.

As declarações foram interpretadas por agentes econômicos como uma intenção maior do novo governo em gastar e de relativizar o quadro de restrição fiscal enfrentado pelo país. Na prática, isso gera uma percepção maior de risco, o que pressiona o dólar e a inflação. Como resultado, os juros futuros sobem e o mercado de ações é penalizado.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.