Após vazamento de áudios, Mauro Cid, ex-ajudante de Bolsonaro, volta a ser preso

Ordem de prisão preventiva do militar foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, por descumprimento de medidas cautelares e obstrução à Justiça

Fábio Matos

Depoimento do tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro (PL), durante depoimento à CPMI do 8 de janeiro, em 11/07/2023 (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)

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O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi preso novamente nesta sexta-feira (22). A informação foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A ordem de prisão preventiva do militar foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, relator no STF de inquérito que apura os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, que culminaram na invasão às sedes dos Três Poderes, em Brasília. O magistrado também é o responsável pelos inquéritos das milícias digitais e das fake news.

O episódio ocorre após o vazamento de áudios em que Mauro Cid diz a um amigo ter sido vítima de coação por parte da Polícia Federal (PF), durante depoimentos no âmbito das investigações sobre suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Nas gravações, reveladas pela revista Veja, o militar também critica Moraes e diz que o magistrado já tem sua “sentença pronta”.

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O STF informou que, depois do término de audiência de confirmação dos termos do acordo de colaboração premiada firmado pelo militar, foi cumprido o mandado de prisão preventiva por conta de descumprimento de medidas cautelares e por obstrução à Justiça. Cid foi encaminhado ao Instituto Médico Legal pelos agentes da PF.

Antes de ser preso, o militar foi ouvido por cerca de meia hora por um juiz auxiliar de Alexandre de Moraes na Suprema Corte. Agentes da Polícia Federal cumpriram mandado de busca e apreensão na residência do militar.

Os áudios

Nos áudios obtidos pela revista, Cid ataca o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e critica a atuação da Polícia Federal no caso.

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“Eles [investigadores] queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu”, afirma o militar em uma das gravações. Segundo a Veja, o interlocutor da conversa é um amigo de Cid. A interação durou cerca de uma hora. O diálogo teria sido captado na semana passada, após o sétimo depoimento de Cid à PF, que durou cerca de 9 horas.

“Você pode falar o que quiser. Eles não aceitavam e discutiam. E discutiam que a minha versão não era a verdadeira, que não podia ter sido assim, que eu estava mentindo”, diz Cid em um dos trechos do áudio.

Ainda de acordo com o militar, os investigadores já estão com a “narrativa pronta” sobre o caso. Além dos atos golpistas, o tenente-coronel menciona a investigação sobre a suposta falsificação no cartão de vacinação de Bolsonaro – que levou aos indiciamentos do próprio Cid, do ex-presidente e de outras 15 pessoas.

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“Eles estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam”, afirmou. “E todas as vezes eles falavam: ‘Olha, mas a sua colaboração. Olha, a sua colaboração está muito boa’. Ele [o delegado] até falou: ‘Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove negócios de vacina, nove tentativas de falsificação de vacina. Vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá’. Ele falou assim: ‘Só nessa brincadeira são 30 anos para você’”, relata Mauro Cid.

“Alexandre de Moraes é a lei”

Em outro trecho da conversa com o amigo, Mauro Cid ataca diretamente Moraes e também acusa o ministro do STF de já ter sua “sentença pronta”.

“O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”, diz Cid.

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“O Alexandre de Moraes já tem a sentença dele pronta, acho que esta é a grande verdade. Ele já tem a sentença dele pronta. Só está esperando passar um tempo. O momento em que ele achar conveniente. Denuncia todo mundo, o PGR acata, aceita e ele prende todo mundo.”

“Quem mais se f… fui eu!”

Segundo os aúdios publicados pela revista, o tenente-coronel afirma ainda que ele próprio foi o maior prejudicado com as investigações da PF, inclusive sofrendo consequências financeiras e danos familiares.

“Quem mais se f… fui eu! Quem mais perdeu coisa fui eu. O único que teve pai, filha, esposa envolvida, o único que perdeu a carreira, o único que perdeu a vida financeira fui eu”, afirma Cid.

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“Ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era quatro estrelas, já tinha atingido o topo, né? O presidente teve Pix de milhões, ficou milionário, né?”, completa.

O vazamento dos áudios de Mauro Cid pode levar até à anulação da delação premiada do tenente-coronel. O caso será analisado pelo STF.

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Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Além do InfoMoney, teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”.