Lula diz que Brasil correu “sério risco” de golpe e chama Bolsonaro de “covardão”

Na primeira reunião ministerial de 2024, presidente da República diz que assumiu país em "escombros" e cobra ministros por mais ações: "Ainda falta muito"

Fábio Matos

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), em reunião ministerial no Palácio do Planalto (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), em reunião ministerial no Palácio do Planalto (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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Ao abrir a reunião ministerial desta segunda-feira (18), no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) destacou alguns dos feitos de seu governo em pouco mais de um ano de mandato, mas reconheceu que “ainda falta muito” para ser entregue em todas as áreas, para que os compromissos assumidos durante a campanha sejam cumpridos.

Em sua fala inicial na reunião, Lula fez novas críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e relacionou diretamente o antecessor a uma suposta tentativa de golpe de Estado no país após as eleições de 2022. Segundo o petista, o Brasil escapou por pouco de vivenciar um regime autoritário.

“Nós hoje temos mais clareza do significado do 8 de janeiro. A gente já sabe o que aconteceu em novembro e dezembro. Por depoimentos de gente que fazia parte do governo dele [Bolsonaro], de gente que foi convidada pelo presidente a fazer um golpe. Hoje nós temos certeza de que este país correu sério risco de ter um golpe em função das eleições de 2022”, afirmou Lula.

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Para o presidente da República, algumas lideranças militares e a forte mobilização da sociedade civil impediram a consumação de um golpe de Estado no Brasil. Lula disse, ainda, que Bolsonaro não teve coragem de ir adiante em sua suposta intenção golpista.

“Não teve golpe não só porque algumas pessoas que estavam no comando das Forças Armadas não quiseram fazer, mas também porque o presidente é um covardão. Ele não teve coragem de executar aquilo que planejou. Ficou trancado aqui no palácio, chorando durante quase um mês antes de fugir para os Estados Unidos”, disse Lula. “Por pouco a gente não voltou aos tempos tenebrosos neste país.”

Cobrança aos ministros

Apesar de ter agradecido aos ministros pelos esforços durante os primeiros 15 meses de governo, Lula falou em tom de cobrança e pediu mais entregas e realizações de cada uma das pastas que compõem a Esplanada dos Ministérios.

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“Todo mundo aqui tem ciência dos escombros que receberam quando tomamos posse em 1º de janeiro [de 2023]. E do trabalho que vocês fizeram para reconstruir e formatar os ministérios”, afirmou. “Nosso primeiro ano foi um ano de recuperação. Recuperar uma coisa estragada é mais difícil do que começar uma coisa nova”, prosseguiu Lula.

“Todo mundo sabe que ainda falta muito para a gente fazer, em todas as áreas. E muito não é nada estranho, é tudo aquilo que nos comprometemos a fazer durante a disputa eleitoral. Nós temos compromissos para fazer as coisas bem feitas e no tempo certo”, disse o chefe do Executivo.

Segundo Lula, “para quem perde a eleição, quatro anos demora muito; mas, para quem ganha, passa rápido”. “Nós já gastamos um ano e três meses do nosso mandato. E vocês percebem o quão pouco nós fizemos e, ao mesmo tempo, o quão muito nós fizemos”, afirmou. “Isso que nós fizemos é apenas o início, mas não basta. Nós vamos ter de fazer muito mais porque o Brasil estava abandonado.”

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O único dos 38 ministros que não participa da reunião desta segunda-feira é o chanceler Mauro Vieira (Relações Exteriores), que está em viagem oficial à Cisjordânia, acompanhando os desdobramentos da guerra entre Israel e o Hamas e as negociações em torno de um possível cessar-fogo.

Depois da fala de Lula, quem se manifestou foi o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), que fez uma apresentação sobre as principais ações do primeiro ano de governo. A reunião de Lula com os ministros começou pouco antes das 10 horas e não tem horário prevista para acabar. É o único compromisso oficial da agenda de Lula nesta segunda-feira.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”