Levy não foi o único incomodado: veja quem mais se prejudicou com corte de R$ 70 bi

Em uma análise entre a distribuição do Orçamento pelos partidos representados na liderança de cada pasta, PT e PSD, figuram entre os principais prejudicados

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A semana começou tensa em meio às especulações sobre os motivos que levaram o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a não comparecer à coletiva de imprensa de anúncio do governo sobre o contingenciamento de R$ 69,9 bilhões no Orçamento, na última sexta-feira (22). No entanto, muito além da gripe ou das supostas desavenças com o titular da pasta do Planejamento Nelson Barbosa, Levy pode não ter sido o único incomodado com os cortes apresentados. O ministro provavelmente esperava um esforço maior por parte dos colegas, porém muitos ministros já devem vislumbrar dificuldades nas áreas que comandam por conta da forte redução de despesas.

As principais pastas atingidas pela nova etapa do ajuste fiscal do governo são Cidades, Saúde e Educação, com respectivos cortes de R$ 17,2 bilhões, R$ 11,8 bilhões e R$ 9,4 bilhões – todas, lidas como áreas prioritárias pelo governo. Em uma análise entre a distribuição do Orçamento pelos partidos representados na liderança de cada pasta, o próprio PT e o PSD, de Gilberto Kassab, figuram entre os principais prejudicados. Um dos motivos que colocam tais ministérios na linha de frente da tesoura da agenda de ajustes seria o fato de eles apresentarem maiores percentuais de despesas discricionárias ou investimentos – os únicos recursos que, em tese, poderiam ser cortados.

Verbas discricionárias são aquelas que não são diretamente carimbadas pelo governo, o que permite ao titular da pasta maior margem de manobra para alocar recursos. No sentido contrário, despesas obrigatórias não podem ser deslocadas – seu destino já está previamente estabelecido pela própria legislação nacional. Por isso, ficam evidentes as causas dos ministérios do Trabalho e Previdência sofrerem menos com o contingenciamento do que Transportes ou Integração Nacional, por exemplo.

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A mesma linha de análise serve para justificar os maiores interesses dos partidos no ministério das Cidades. A cobiça se justifica pela liberdade nos investimentos. Normalmente, pastas com orçamentos mais frouxos tendem a ser entregues a partidos sem tanta força no Congresso, a menos em situações políticas específicas ou quando o partido em questão é o do presidente. Deste modo, a presidência evita um desequilíbrio de forças e corre menos riscos de perder o controle do governo em determinadas áreas. No caso atual, a pasta das Cidades ficou com o PSD, de Gilberto Kassab, sigla que nasceu durante a gestão de Dilma Rousseff e graças a algum apoio do governo. Por isso, torna-se mais difícil a perda de controle sobre o partido do ex-prefeito de São Paulo do que caso o posto fosse entregue a alguém do PMDB.

Da mesma forma, é mais fácil cortar verbas de ministérios comandados por partidos menos rebeldes. Este motivo reforça a disposição atual do contingenciamento previsto pelo governo, com PT e PSD como os mais prejudicados. As respectivas perdas desses partidos foi de R$ 23,46 bilhões e R$ 17,26 bilhões. Outro fiel escudeiro do PT figura na lista: o PC do B, conhecido por historicamente apoiar governos petistas, porém, com bancada não muito expressiva. Os cortes no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, pasta comandada pela sigla, estão estimados em R$ 7,31 bilhões. No caso de PMDB, PR, PRB e PDT, o contingenciamento foi de, respectivamente, R$ 5,189 bilhões, R$ 5,735, R$ 901 milhões e R$ 287 milhões nos ministérios por eles comandados.

A tabela abaixo mostra os detalhes do ajuste anunciado pelo governo na última sexta-feira:

Ministério Partido Orçamento previsto Corte sofrido Novo orçamento
Cidades PSD 31.747 -17.232 14.515
Saúde PT 103.276 -11.774 91.503
Educação 48.813 -9.423 39.383
Transportes PR 15.894 -5.735 10.160
Defesa PT 22.645 -5.617 17.028
Integração Nacional 5.756 -2.162 3.594
Ciência e Tecnologia PCdoB 7.311 -1.844 5.467
Des. Agrário PT 3.735 -1.844 1.892
Aviação Civil PMDB 3.733 -1.457 2.276
Justiça PT 4.633 -1.448 3.185
Agricultura PMDB 3.701 -1.395 2.306
Des. Social PT 33.016 -1.391 31.625
Turismo PMDB 1.821 -1.345 476
Fazenda 5.076 -1.194 3.882
Esportes PRB 3.265 -901 2.364
Pesca e Aquicultura PMDB 736 -574 162
Cultura PT 1.392 -466 927
Desenvolvimento

PTB

1.391 -432 959
Planejamento 1.152 -350 802
Comunicações PT 1.371 -317 1.054
Meio Ambiente 1.100 -288 812
Trabalho PDT 1.090 -287 803
Minas e Energia PMDB 990 -241 749
Direitos Humanos PT 348 -192 155
Portos PMDB 995 -177 818
Presidência da República PT 950 -164 786
Advocacia Geral da União 503 -153 350
Previdência Social PT 2.237 -126 2.110
Políticas para as mulheres PT 249 -109 140
Relações Exteriores 1.205 -41 1.164
Igualdade Racial 68 -38 30
Micro e Pequena Empresa PSD 83 -29 54
Assuntos Estratégicos PT 67 -12 55
Controladoria-Geral da União 99 -1 98
Vice-presidência da República PMDB 6 0 6

* R$ em milhões

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.