IR, segurança e Trump: quais temas que devem dominar o debate eleitoral em 2026?

Governo deve apostar em ganhos com a isenção para os mais pobres e na vitória sobre o tarifaço, enquanto candidatos opositores questionam a inação na segurança pública, avalia especialista

Caio César

Movimento na Ladeira Porto Geral e rua 25 de Março antes do Natal. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Movimento na Ladeira Porto Geral e rua 25 de Março antes do Natal. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Publicidade

Impostos elevados, jornadas longas, renda que encolhe antes do fim do mês e a percepção de insegurança nas ruas compõem um cenário de desgaste social que deve ganhar peso no debate presidencial de 2026. Segundo cientistas políticos, esse mal-estar, vivido no dia a dia, deve se consolidar como um dos principais campos de confronto entre governo e oposição ao longo da campanha, com cada lado tentando atribuir responsabilidades e oferecer soluções distintas para problemas que afetam diretamente a base do eleitorado.

Economia no bolso, segurança nas ruas

No púlpito dos debates para a reeleição em 2026, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve apostar em medidas de apelo direto, como a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, o combate à escala 6×1 e a superação do tarifaço imposto por Donald Trump. A estratégia é reforçar a ideia de alívio econômico e proteção aos mais vulneráveis.

No campo oposto, as candidaturas ligadas à direita, especialmente a de Flávio Bolsonaro (PL), tendem a explorar o que veem como o ponto mais frágil do governo petista: a segurança pública. A tentativa será associar a sensação de insegurança à gestão federal, deslocando o foco do debate econômico para a ordem pública.

Continua depois da publicidade

Para o cientista político e professor da UFRJ Jorge Chaloub, as decisões de Donald Trump e seus reflexos na política externa devem atravessar a campanha. “A vitória sobre o tarifaço vai ser um tema muito central, porque inicialmente foi um grande trunfo da família Bolsonaro, mas o recuo, junto com a queda da Lei Magnitsky, é uma vitória grande para Lula e para o governo”, avalia.

O especialista, no entanto, destaca que a oposição deve aproveitar o tema das relações internacionais para usar a aproximação do governo à China e à Venezuela como um contrapeso para balancear a perda nesse tema.

Chaloub também observa que Lula conseguiu se reposicionar no debate público e nas redes como um presidente novamente identificado com os mais pobres. Esse movimento, segundo ele, tende a ser um ativo eleitoral relevante em um ano de campanha marcado por disputas sobre renda, trabalho e segurança.

Gastos públicos

A última pesquisa Ipsos-Ipec, divulgada na terça-feira (16), mostra que a grande maioria da população considera insatisfatória a postura de Lula diante da segurança pública. 47% dos entrevistados classificam a atuação do presidente no tema como ruim ou péssima, 26% consideram regular e 24% avaliam o desempenho como ótimo ou bom.

No campo do controle e corte de gastos públicos, o cenário é ainda pior. 50% dos entrevistados considera a política fiscal de Lula ruim ou péssima, enquanto 24% a classificam como regular e somente 19% avaliam como positiva.

“Na eleição, [o auxílio aos mais pobres] é uma retórica que volta a ser muito presente no discurso do PT e faz sentido de acordo com a sua trajetória. Evidentemente, o governo aposta na isenção do IR, que é algo que atinge esse eleitor com faixa de 2 a 5 salários mínimos, que não o avaliava tão bem quanto quem ganha até 2”, diz Chaloub.

Continua depois da publicidade

“Na oposição, voltaremos a ver o discurso de que o governo gasta demais, o que pode reaproximar Lula das acusações sobre corrupção com uma averbação de recursos públicos”, afirma.

PL Antifacção

Também na terça-feira (16), o líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), afirmou que a base deverá retomar as discussões sobre o Projeto de Lei Antifacção em fevereiro. O texto propõe mudanças nas tipificações de crimes, endurece penas e impedimentos legais aos criminosos, assim como reconfigura a partilha de poder entre as polícias estaduais e a Polícia Federal.

O projeto enfrenta uma tramitação difícil e, agora no Senado, aguarda a relatoria de Alessandro Vieira (MDB-SE), que promete trazer respiro ao governo com maior aceitação às mudanças propostas pela base aliada.

Continua depois da publicidade

Na perspectiva das eleições, a aprovação do projeto com as mudanças propostas trará maior visibilidade às ações da Polícia Federal no combate ao crime organizado e dará a impressão ao eleitor de que o governo está atuando na raiz do problema que afeta diversas cidades brasileiras.

“Segurança pública é mais usualmente mobilizada em campanhas pela direita. As recentes operações policiais e as reações dos governadores, como Cláudio Castro e Tarcísio de Freitas, mostram que esse é um tema que vai articular o debate”, reflete Chaloub. “Eles devem tentar mobilizar um mal-estar, uma insatisfação popular em torno da ausência ou atitudes fracas.”

“Mas houve um escorregão da oposição no PL Antifacção, porque permitiu uma aproximação entre os defensores da Polícia Federal como corporação e o governo”, indaga. Para o cientista político, a pequena brecha pró-governo no tema, no entanto, deve render poucos frutos.

Continua depois da publicidade