Imagine um 2º turno entre Lula e Bolsonaro: qual seria o candidato “escolhido” pelo mercado?

Eles são os destaques das últimas pesquisas eleitorais, mas nenhum deles agrada muito o mercado - mas qual gera "menor aversão"?

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Sim, ainda falta um ano para a eleição e muita coisa pode acontecer até lá. Mas, por enquanto, as pesquisas eleitorais mostram uma tendência de consolidação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em primeiro lugar e o deputado Jair Bolsonaro em segundo, o que se confirmou com a divulgação das pesquisas Ibope e DataPoder360 logo do início desta semana.

Em meio a esses sinais de fortalecimento dos dois nomes, o “sinal de alerta” foi ligado pelo prefeito de São Paulo João Doria, que propôs uma frente de esquerda para que se fosse criada uma frente de centro para derrotar Lula e Bolsonaro. 

E, caso esses nomes se confirmem para o segundo turno, a expectativa é de mais apreensão para o mercado, sinal este que já pôde ser percebido na sessão da última segunda-feira (30), em que um dos grandes fatores de aversão ao risco para a bolsa e para o dólar na última sessão foi justamente o Ibope do domingo. 

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Em levantamento feito pela XP Investimentos em agosto com 168 investidores institucionais, tanto a vitória de Lula quanto a de Bolsonaro apontavam para um cenário de queda da bolsa e alta do dólar. No cenário apontando a vitória do petista, o Ibovespa recuaria para patamar abaixo de 55 mil pontos (atualmente, o índice está na casa dos 74 mil pontos) para 80%, enquanto a vitória de Bolsonaro levaria o Ibovespa a esse patamar de acordo com 59% dos consultados (para ver mais detalhes da pesquisa, clique aqui). Enquanto isso, um candidato tucano, como o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Doria são bem mais vistos pelo mercado em meio à possibilidade de continuar as reformas promovidas pelo governo Michel Temer. 

Lula ou Bolsonaro?

Assim, o que pode acontecer caso Lula e Bolsonaro venham a se enfrentar no segundo turno e quem traria menor aversão ao risco ao mercado? Pelo levantamento destacado acima, é possível destacar que Bolsonaro vem saindo como “preferido” nas apostas de mercado se a disputa com Lula se concretizar, apesar de haver muitas incertezas sobre o seu nome e desconfiança sobre as medidas econômicas a serem tomadas por ele. 

Se, por um lado, pesa a desconfiança com a agenda de Bolsonaro, parte dos temores foi atenuado durante a “caravana” do deputado aos Estados Unidos, em que buscou passar uma imagem mais pró-mercado e menos nacionalista. Em entrevista à Bloomberg em Nova York em meados de outubro ele disse, por exemplo, que a intenção de privatizar algumas empresas estatais, eventualmente incluindo a Petrobras, a redução dos gastos do setor público e a erradicação das fraudes nos programas sociais são algumas das idéias que ele tem em mente, em linha com o que analistas de mercado defendem. 

Por outro lado, ao falar da agenda atual de reformas do governo Temer (com destaque para a Previdência) ele apontou a necessidade de ação, mas prefere uma abordagem muito mais gradual do que o projeto que tramita hoje no Congresso. E é contra qualquer mudança na aposentadoria dos militares. Além disso, reconheceu francamente que tem apenas um “entendimento superficial” de economia. E expressou o desejo de que a taxa de juros fosse reduzida a 2%. O juro básico do País nunca esteve abaixo de 7,25% nas últimas duas décadas – e a experiência de baixar os “juros na marra” durante o governo Dilma I levou a um aumento mais forte da Selic mais adiante, por conta da alta da inflação.

Enquanto isso, apesar de pregar privatizações, afirma que alguns setores seriam protegidos. Todos esses poréns deixam o mercado com um “pé atrás” com relação ao deputado pré-candidato uma vez que, mesmo com ideias nos costumes diametralmente opostas ao do PT, compartilha de algumas propostas parecidas com os seus rivais. 

“O mercado ainda é cético, pois Bolsonaro precisa de uma agenda econômica e de nomes fortes. Precisamos de um projeto para colocar o país nos trilhos, não de um salvador. Ainda há desconfiança sobre ele, devido a dificuldade em aprovar medidas, como será a sua relação com o Congresso e até por discursos em alguns momentos liberais e em outros nacionalistas”, destaca um analista, que não quis se identificar. Nesse sentido, Bolsonaro parece disposto a querer colar em si o rótulo de liberal, mas ainda busca um nome para apoiá-lo neste sentido. 

Enquanto o cenário para Bolsonaro é de incertezas, o mercado parece ver com mais clareza o que se aponta caso Lula se consagre vencedor. Com base no discurso que vem sendo recorrente do petista e que aponta para maior radicalização, o ex-presidente é visto quase unanimemente como o pior para o mercado acionário e de câmbio brasileiro.

Para entender tamanho temor do mercado, em discurso em 26 de outubro, o ex-presidente Lula prometeu revogar uma das mais importantes medidas de austeridade aprovadas no governo Temer até agora, o teto dos gastos públicos e também levantou a perspectiva de fazer um referendo sobre algumas das outras reformas pró-mercado do governo atual. 

“Sem dúvida nenhuma, o Lula seria o pior candidato para o mercado, até pelo discurso atual dele totalmente voltado para o populismo. Além disso, a maior recessão e os maiores erros na economia foram na gestão PT. Bolsonaro, caso seja vitorioso, pode ser mais favorável ao mercado, mas dependerá muito de quem ele escolherá para a economia”, avalia Paulo Petrassi, sócio-gestor da Leme Investimentos. Porém, para ele, Lula não deve ser alçado novamente ao Planalto, já que deve permanecer com uma quantidade de votos limitada no patamar de 35%. 

Lula 2003 X Lula 2019

Contudo, vale destacar que, em 2002, Lula era muito mal visto pelo mercado e, nas proximidades das eleições, divulgou a “Carta ao Povo Brasileiro” que, apesar do nome, tinha a intenção real de acalmar o mercado financeiro, que demonstrava grande nervosismo com a expectativa cada dia mais clara de que o petista sairia vencedor das eleições. Após a eleição, o petista confirmou as expectativas e fez um primeiro governo em linha com a chamada “ortodoxia econômica”, agradando o mercado. 

 “O Lula sempre foi pragmático e, no primeiro governo, não foi extremista. Contudo, hoje terá mais dificuldade em atrair profissionais para um agenda de ajuste fiscal. O mercado não compra essa ideia”, avalia um analista, que também não quis se identificar. 

Sobre essa questão, o cientista político da Tendências Consultoria, Rafael Cortez, aponta que haveria muita dificuldade de Lula retomar o discurso de 2002 apesar de ser natural que, ao longo da campanha (e caso ele continuasse elegível), atenuasse o seu discurso conflituoso. Porém, o petista teria menor espaço de manobra em relação à sua primeira eleição, já que uma campanha com sua presença tende a uma maior polarização.

Assim, caso ele fosse eleito, haveria um maior custo maior de cometer um “estelionato eleitoral”, uma vez que ele se aproximou das bases durante a campanha, ao mesmo tempo em que teria que enfrentar a PEC do teto de gastos e cortar despesas para cumprir a constituição. Lula teria que ou passar a reforma da previdência (caso nenhuma reforma ocorra até a eleição) ou reverter a PEC do teto, o que configuraria em uma intensa agenda de mudança constitucional logo no início do mandato, levando a um processo de paralisia decisória. Desta forma, há muitos motivos para preocupação do mercado com Lula. 

Entre Lula e Bolsonaro, ou a expectativa de paralisia e o cenário de incerteza, o que se aponta ainda é um cenário bastante nubeloso, principalmente se a disputa for muito pulverizada, com diversos candidatos no radar. De qualquer forma, se a tendência de agora se confirmar em 2018, a volatilidade deve predominar no mercado nos próximos meses. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.