Há vantagens na utilização do compulsório como política monetária, diz LCA

Para economista, medida do BC é um modelo não-ortodoxo de conter a inflação e têm efeitos mais diretos do que a Selic

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SÃO PAULO – As medidas “macroprudenciais” do Banco Central ao elevar o compulsório e a exigibilidade para empréstimos de longo prazo, além de reduzir riscos para o setores bancário e financeiro do País, também atuaram como uma política monetária. De fato, não é uma política monetária tal qual aparece em livros-textos de economia, mas pode-se considerar como um “instrumento não-ortodoxo”. Apesar de muitos analistas de mercado terem visto a política adotada como inferior às alterações na taxa de juros, Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultoria, acredita que há vantagens na utilização desse mecanismo.

Para muitos analistas as mudanças na taxa de juros são medidas mais acertadas, pois influenciam a inflação por três canais de transmissão: promovendo alterações na expectativa e confiança, no crédito e no efeito-riqueza e preços de ativos, inclusive na taxa de câmbio. Segundo essa linha de raciocínio, o compulsório e as demais medidas do BC se limitariam a impactar o crédito.

Vantagens do compulsório
Porém, para Borges, essa visão não é totalmente verdadeira, pois há efeito nas expectativas dos agentes econômicos e esse impacto se reflete sobre o preço de alguns ativos. Além disso, acrescenta que o efeito-riqueza no Brasil é fraco, uma vez que apenas 30% da dívida pública é pré-fixada e parte da remuneração dos instrumentos de dívida privada, como o CDB (Certificado de Depósito Bancário) é pós-fixada, atrelado ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário).

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Outras vantagens da elevação do compulsório são o impacto praticamente instantâneo sobre atividade e inflação, enquanto mudanças na Selic demoram a se propagar pela economia; não há efeito prejudicial à dívida pública, na medida em que não eleva o déficit nominal em “ciclos de aperto da política monetária” e, por fim, o impacto sobre a diferença entre juros interno e externo é menor, o que é particularmente benéfico em uma situação como a vivida atualmente pela economia brasileira, de “guerra cambial”, com o real valorizado. Ou seja, dessa forma o diferencial entre as taxas de juros não deve atrair excesso de capital estrangeiro para o País.

Necessidade de instrumentos “exóticos”
Borges faz menção ao artigo Rethinking Macroeconomic Policy, de Blanchard, CeelÁriccia e Mauro, segundo o qual após a crise ficou evidente que a política macroeconômica precisa ter muitas metas e o Brasil possui vários instrumentos para alcançá-las, como políticas monetárias “exóticas”, política fiscal e instrumentos regulatórios.

O Banco Central também sinalizou a intenção de promovê-las. Assim, as medidas anunciadas na última sexta-feira (3) caminham nessa direção, pois também trazem efeitos de política monetária sobre a inflação.

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Inflação de metas
A crítica de muitos economistas é que a politica monetária nesse novo arcabouço deixaria de ter um sistema de metas de inflação para aderir a uma “inflação de metas”. Para o economista da corretora isso não deve ser visto como um dano à economia, pois diante de uma realidade econômica complexa, como a atual, os formuladores de políticas econômicas devem adotar muitos instrumentos para gerir a economia e não se restringirem a um único.

Por fim, Borges acrescentou que alguns princípios como transparência –  sobretudo dos processos de tomada de decisão e das diversas metas – e a previsibilidade devem ser mantidos, e até mesmo ampliados, nesse novo arcabouço de política monetária, permitindo assim o seu sucesso.

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