Guedes se destaca e Davos tem saldo positivo para Bolsonaro – mas estrangeiros esperam ainda mais

Viabilidade da aprovação de medidas de ajuste fiscal segue sendo a grande questão para que os "gringos" embarquem de vez no Brasil

Lara Rizério

(Alan Santos/PR)

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SÃO PAULO – A ida de Jair Bolsonaro e sua equipe ao Fórum Econômico Mundial de Davos no primeiro evento internacional como presidente era esperada com um misto de ansiedade e ceticismo por analistas e pelo próprio mercado. 

Ao mesmo tempo em que não viam o evento como tão determinante para os estrangeiros ainda céticos embarcarem de vez no Brasil, os sinais passados pelo novo governo aos investidores internacionais eram vistos como bastante importantes, principalmente para apontar rumos e estratégias sobre as reformas tão essenciais para reduzir o problema fiscal do País. 

Desta forma, o mercado se atentou às falas dos representantes brasileiros no Fórum, com destaque para Jair Bolsonaro e para o ministro da Economia, Paulo Guedes. E eles trouxeram sentimentos um tanto conflitantes para os investidores. 

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A primeira impressão não foi exatamente positiva, com um discurso inaugural feito por Bolsonaro à elite financeira sendo considerado vago sobre as reformas, além de bastante breve, com apenas 6 minutos. Assim, a avaliação feita foi que o presidente “perdeu uma oportunidade”, uma vez que ele poderia ter apresentado mais detalhes sobre sua agenda.

Porém, o discurso um tanto vazio foi compensado pela firmeza de Paulo Guedes nos encontros com investidores, ao ser enfático e bastante explicativo. Ele apontou  que a reforma da Previdência de Bolsonaro será maior que a de Temer, além de mostrar consenso em relação às mudanças no sistema previdenciário. Enquanto isso, em entrevistas à imprensa internacional, o presidente destacou a importância de aprovar mudanças na previdência e afirmou que elas serão substanciais. 

“Os pontos apresentados pelo presidente e pelo ministro Guedes ficaram em linha com as ideias gerais que já tinham sido discutidas durante a campanha e a transição. As falas mais incisivas do ministro Guedes à audiência internacional foram bem recebidas por enfatizarem o compromisso com uma politica econômica liberal, como esperávamos”, destacou ao InfoMoney Roberto Secemski, economista do Barclays para o Brasil. “O saldo nos pareceu positivo considerando a reação dos mercados, ainda que na ausência de fatos novos”, avalia.

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No primeiro dia do evento em Davos, na terça-feira (22), o Ibovespa caiu 0,94%, mas as duas sessões posteriores foram de forte alta para o índice, que renovou máxima e ultrapassou os 97 mil pontos na última quinta-feira (24). 

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Para a LCA Consultores, contudo, Bolsonaro “ficou devendo” e o que evitou o “fracasso da excursão” do governo foi justamente a assertividade de Paulo Guedes em entrevistas e reuniões fechadas com investidores ao tratar, além da reforma da previdência, da privatização e de outras medidas da agenda econômica pró-mercado.

Viabilidade do ajuste segue no radar

De qualquer forma, a grande questão para que o Brasil receba os investidores estrangeiros segue em pauta: a viabilidade sobre o ajuste fiscal. Secemski ressalta que o País deu um primeiro passo ao apresentar a sua agenda de governo a uma audiência global e altamente influente. Contudo, somente o tempo ajudará a esclarecer questões sobre a capacidade de articulação política com o novo Congresso.

Desta forma, um movimento mais definitivo por parte dos estrangeiros ainda dependerá da evolução nas reformas fiscais, principalmente a da previdência, nos próximos meses. “Serão necessários avanços concretos antes de vermos movimento mais decisivo neste sentido”, afirma Secemski.

Essa sinalização foi dada até mesmo pelo presidente Bolsonaro em entrevista à RecordTV enquanto estava em Davos. Ele afirmou que foi procurado por vários chefes de Estado e empresários em Davos e “todos estão interessados no Brasil”. Contudo, o interesse externo está condicionado ao ajuste fiscal. “Nós precisamos fazer a nossa parte. Não podemos continuar com o déficit que temos ano a ano. E algumas reformas temos que fazer para que eles voltem a ter confiança em nós.”

Com mais sinalizações neste sentido e uma maior articulação com o Congresso, o que ainda é visto com ceticismo, a expectativa é de que o Brasil volte de vez ao radar dos estrangeiros. 

Davos foi uma boa sinalização para isso, com o Brasil sendo citado como um possível destino de investimentos durante o painel American Economic Power pelo Carlyle, um dos maiores fundos de private equity do mundo, com US$ 212 bilhões sob gestão.

Segundo David Rubenstein, cofundador e copresidente do conselho do Carlyle, há boas oportunidades na América Latina e o Brasil é um dos países que as oferece, por causa dos baixos investimentos feitos nos últimos anos. 

Rubenstein pontuou que os investidores americanos estiveram muito cautelosos com a região recentemente, pela instabilidade das últimas décadas. De acordo com ele, “quando tudo parecia bem”, os americanos colocaram dinheiro nos países, mas “as coisas se deterioravam rapidamente”, o que gerou a cautela verificada até agora.  

Assim, como já esperado, Davos não tinha a intenção de resolver os problemas do Brasil, conforme ressaltou o economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, no início da semana ao InfoMoney. Porém, as sinalizações do que o novo governo pretende fazer eram importantes. Elas foram dadas durante o evento e agora cabe construir o caminho para tanto.

Assim, os eventos político pós-Davos serão acompanhados de perto pelo mercado, como a eleição para a presidência da Câmara e do Senado, além da apresentação da reforma da Previdência e como se dará a articulação para que ela seja aprovada no Congresso. Os desafios para conquistar os estrangeiros estão apenas começando – e Davos foi o primeiro passo para isso. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.