Filme de terror do Brasil ganha sequência; “Fidel profético” e mais frases agitaram semana

Levy voltou à tona esta semana, e não trouxe boas notícias; os últimos dias mostraram que a "transparência" não foi assim tão positiva, mas o realismo não foi tão exaltado

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Para quem pensava que a semana não seria de fortes emoções, as declarações dos ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, foram o grande destaque do mercado. Aliás, o “excesso de sinceridade” deles ao revisar a meta de superávit primário para 0,15% do PIB (Produto Interno Bruto) elevou ainda mais as expectativas fatalistas para a economia.

Se o futuro será fatalista, o presente também não é muito bom para o Brasil. Em editorial, o jornal britânico Financial Times destacou que parece que o Brasil “vive um filme de terror sem fim”. 

Um dos personagens desse filme de terror, o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha voltou a dar declarações polêmicas e a mostrar que não facilitará a vida do governo no Congresso na semana após declarar que virou oposição. 

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Enquanto isso, a presidente Dilma Rousseff recebeu elogios, mas também críticas. Longe de ser uma unanimidade, as dificuldades para a presidente parecem apenas ter começado, o que se evidencia nas frases que marcaram esta semana. No cenário internacional, as perspectivas sobre a China chamaram a atenção, mas o que viralizou na internet foi uma “suposta visão” do líder cubano Fidel Castro de 1973 (na semana passada, quem tinha feito uma “profecia” foi Lula). Confira as frases que marcaram a semana:

A coisa está tão feia assim?

“Incompetência, a arrogância e a corrupção abalaram a magia brasileira”
Editorial do jornal britânico Financial Times, traçando um cenário bastante negativo para o Brasil.

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“Não é à toa que o Brasil hoje tem sido comparado a um filme de terror sem fim”
o mesmo editorial, corroborando o cenário negativo para o País em meio ao fim do ciclo de commodities e com a deflagração dos escândalos de corrupção ocorridos na Petrobras. 

“Ninguém governa sem o PMDB”
revista britânica The Economist, ao comparar o vice-presidente da República, Michel Temer, a um primeiro ministro 

“Dilma é mulher patriota, lutadora e de fibra”
Rubens Ometto, presidente do Conselho de Administração do Grupo Cosan, acionista da Raízen durante a inauguração de uma planta produtora de etanol de segunda geração da companhia, em Piracicaba (SP). “Hoje é fácil criticar, mas temos de reconhecer os méritos onde estão”, disse ele à presidente Dilma

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“Democrata, homem honesto e sempre vigilante nos interesses do Estado”
o mesmo Ometto, desta vez referindo ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

“Sabemos que houve alteração das condições internacionais, e o ciclo das commodities se encerrou. Sabemos que vamos nessa travessia sempre buscar maior produção e inovação e menores custos”
Dilma Rousseff, em evento em Piracicaba, no mesmo dia em que houve a redução da meta. 

“Agora, é preciso ficar claro, primeiro, que nós estamos passando por uma crise gravíssima, uma ‘policrise’: crise política, crise econômica, crise social, crise ética”.
Alckmin, ao dizer que a crise não é só econômica e política, e que estaria aberto ao diálogo com a presidente Dilma Rousseff para “buscar soluções”. 

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“Aqui no Brasil está todo mundo feliz de dizer que a culpada pela corrupção é a Dilma. Quando a corrupção virar um problema nosso, criaremos instituições para coibi-la”
Marina Silva (PSB), afirmando que não é sustentável “acharmos que a corrupção é o problema de uma pessoa, de um grupo ou de um partido”

Levy tentou convencer…

“Essa meta não é a preferida de nenhum de nós, estamos fazendo o que é necessário”.

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“O governo trabalhou desde o começo do ano sem pensar em popularidade”.
Joaquim Levy, ministro  no dia da redução da meta do superávit primário de 1,1% para 0,15% do PIB

 “Nós não jogamos a toalha, pelo contrário, nós vamos continuar a nossa política com muito vigor, mas ela tem que ser uma política realista”.

 “A gente parou de piorar do ponto de vista estrutural e está começando a melhorar e aí como você falou teve uma porção de coisas”.
O ministro, em entrevista à jornalista Miriam Leitão, transmitida na quinta-feira pela GloboNews.

“Estamos mandando sinais para ajudar economia achar caminho”

“A Petrobras é um exemplo da capacidade da economia brasileira de reagir”
Levy, em teleconferência organizada pelo banco JP Morgan

mas o mercado reagiu mal…

“Talvez o governo quisesse preservar algum espaço para acomodar uma deterioração adicional da atividade econômica, mas, se assim o for, ele não soube comunicar esta prudência”. 
LCA Consultores, ao comentar sobre a redução da meta de superávit fiscal, sendo que, para os economistas, uma meta mais elevada seria factível. 

“É uma piada de mau gosto”. 
Alexandre Schwartsman, economista e ex-diretor do Banco Central, ao falar sobre a previsão do governo de estabilizar a dívida bruta em 66% do PIB a partir de 2016, tendo em vista as novas metas de superávit primário.

 “As expectativas de inflação ainda estão cerca de 90 pontos-base acima da nossa meta no fim de 2016”
Luiz Awazu, diretor do Banco Central, em comentário que abalou mais uma vez os mercados ao apontar para uma nova alta de 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom.

“Essa seria a primeira vez desde 1930-1931 que o País teria uma recessão por dois anos consecutivos”
Credit Suisse, em relatório em que reduziu ainda mais as perspectivas para a economia brasileira.  A previsão para 2015, que era de contração de 1,8% no PIB (Produto Interno Bruto), foi para queda de 2,4%. Para o ano que vem, a expectativa passou de crescimento de 0,6% para baixa de 0,5%.  

Mais uma vez Cunha…

“Eu pedi a atualização deles porque o direito não preclui, ou seja, se eu simplesmente arquivo, no outro dia apresenta-se pedido igual, preenchendo os requisitos. Então, eu não preciso me ater aos procedimentos processuais”
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, justificando por que despachou 11 pedidos de impeachment contra Dilma Rousseff 

“Acho que até pode aprovar, mas pode aprovar um número diferente de uma forma diferente”. 
Também Eduardo Cunha, ao comentar que as metas de superávit primário poderão ser alteradas pelos parlamentares.

“O governo está com vergonha de assumir que quer trazer dinheiro do exterior? Quer que o Parlamento assuma sozinho?”
O mesmo Cunha, também indicando que trará dificuldades para aprovar a repatriação o dinheiro de brasileiros no exterior não declarado à Receita Federal 

Enquanto isso, no exterior…

“A China não é mais a locomotiva para o crescimento global, e isso traz implicações para as companhias. Isso traz implicações para o mercado de commodities”.
Mohamed El-Erian, conselheiro econômica da Allianz, sobre a gigante econômica (que pode não ser mais tão gigante assim).

“Os Estados Unidos só voltarão a dialogar conosco quando tiverem um presidente negro e quando houver um papa latino-americano”
Fidel Castro, em suposta frase de 1973 para o jornalista inglês Brian Davis, em meio à Guerra Fria. A frase voltou à tona nesta semana com a retomada das relações entre os EUA e Cuba e mostrou que o líder cubano pode ter sido profético – mas a autenticidade dela não foi comprovada ainda.  Cuba e EUA retomaram relação no ano passado, sob a gestão de Barack Obama — primeiro presidente negro dos EUA. O papa, à época, já era Francisco, nascido na Argentina.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.