Ex-assessor acusa Moraes de “fraude processual” em caso de empresários bolsonaristas

Declarações foram dadas em audiência no Senado, no mesmo dia em que STF iniciou julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe

Marina Verenicz

Eduardo Tagliaferro (à esquerda) foi assessor do ministro Alexandre de Moraes - Reprodução/Instagram/edutagliaferro
Eduardo Tagliaferro (à esquerda) foi assessor do ministro Alexandre de Moraes - Reprodução/Instagram/edutagliaferro

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O Senado foi palco, nesta terça-feira (2), de novas acusações contra o ministro Alexandre de Moraes (STF), relator do processo que pode condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado.

Em depoimento à Comissão de Segurança Pública, o ex-assessor do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Eduardo Tagliaferro afirmou que Moraes teria manipulado documentos em 2022 para justificar buscas e apreensões contra empresários bolsonaristas.

Segundo Tagliaferro, as mensagens de WhatsApp que embasaram a operação teriam sido entregues inicialmente ao gabinete de Moraes e repassadas a veículos de imprensa antes mesmo da decisão judicial. Depois da repercussão negativa, o ministro teria acrescentado relatórios elaborados dias após a realização das buscas, prática classificada pelo ex-assessor como uma “fraude processual gravíssima”.

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Como teria ocorrido

De acordo com o relato, Moraes autorizou, em 19 de agosto de 2022, uma operação contra oito empresários que defendiam um golpe em grupos privados de mensagens. O problema, segundo Tagliaferro, é que a justificativa original seria apenas a reportagem publicada por um site de notícias em Brasília, sem base em documentos internos do TSE.

Sob críticas, o ministro retirou o sigilo do processo dez dias depois. Para Tagliaferro, parte do material então apresentado como fundamento da decisão teria sido produzido apenas entre os dias 26 e 28 de agosto, quando a operação já havia sido cumprida. “Foi pedido para que se construísse uma história”, disse, mencionando ordens que teriam partido do juiz auxiliar Airton Vieira, ligado a Moraes.

Relação com o julgamento de Bolsonaro

As declarações foram feitas no mesmo dia em que o STF abriu o julgamento do núcleo central da trama golpista, processo que envolve Bolsonaro e outros sete réus. Moraes, relator do caso, conduziu a leitura inicial do relatório.

A coincidência de datas ampliou a repercussão política do depoimento de Tagliaferro, utilizado por parlamentares bolsonaristas como munição contra o ministro.

Situação atual do ex-assessor

Tagliaferro vive na Itália e responde a denúncia da Procuradoria-Geral da República por violação de sigilo funcional, obstrução de investigação e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Parte das mensagens que divulgou deu origem ao caso apelidado de Vaza Toga, que questiona a condução de inquéritos por Moraes.

Apesar das acusações, o ministro do STF arquivou, em 2023, a maior parte das investigações contra os empresários. Eles haviam sido alvos de bloqueio de contas bancárias, quebra de sigilo e buscas domiciliares.