Em reunião do BRICS, apelo do Brasil sobre guerra cambial pode ficar no vazio

Para especialistas, Brasil tenta ampliar discussão resolver um problema de crescimento que, na verdade, requer reformas maiores

Graziele Oliveira

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SÃO PAULO – A presidente Dilma Rousseff chegou na terça-feira (27) a Nova Delhi, na Índia, onde participará da 4ª Cúpula dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Dilma tentará levar para um campo maior a discussão sobre a denominada guerra cambial, que o Brasil diz combater, especialmente depois que o pacote de ajuda à Grécia foi aprovado, injetando € 130 bilhões na economia mundial em fevereiro.

Além disso, os EUA anunciaram estímulos bilionários à economia desde 2008, principalmente via dois programas de alívio quantitativo, com rumores sobre a adoção de um terceiro, inundando o mundo de dólares.

Segundo as recentes declarações da presidente e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, o atual momento cambial vem sendo o grande responsável pela mau desempenho da indústria nacional, além de afetar as economias emergentes, podendo favorecer uma onda de protecionismo nos mercados. O próprio Governo brasileiro vem adotando uma série de medidas intervencionstas como forma de conter a forte valorização apresentada pelo real nos últimos meses.

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Apelo brasileiro sobre câmbio é isolado 
“A expressão guerra cambial não é das mais felizes e o Brasil está falando sozinho. Uma das razões para ele reclamar da taxa de câmbio é o impacto na indústria nacional, o que pode ser visto como uma posição protecionista”, dispara Antonio Carlos Alves dos Santos, professor de economia da PUC-SP.

Segundo Santos, o País deve seguir neste monólogo, pois a Organização Mundial do Comércio, cujo primeiro dia de reunião também aconteceu na véspera, não seria o melhor lugar para promover uma discussão cambial. Cabe destacar que o seminário ocorre a pedido do Brasil, uma vez que o País se queixa da valorização do real e denuncia o que seria a desvalorização artificial por parte da China, Estados Unidos e União Europeia das moedas para estimular suas economias.

“A situação de fragilidade da nossa indústria não é somente devido ao câmbio, mas também a outros fatores, como a falta de competitividade e os altos preços. A preocupação do governo norte-americano é recuperar sua economia, enquanto os europeus discutem o firewall e se terão mais recursos para emprestar. Nós também estamos procurando a solução para o nosso problema”, diz Santos.

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No que se refere aos demais Estados do bloco europeu, não há grandes motivos para embarcar nesta guerra. “Os fundamentos da economia brasileira, comparativamente aos demais países, tanto dos BRICS quanto dos mais países ricos, são muitos positivos. A nossa economia é muito mais forte que as economias da Rússia e África do Sul, por exemplo, e por isso sente muito mais o impacto da valorização da moeda”, explica o economista Manuel Enriquez Garcia, professor doutor do departamento de economia da FEA/USP e presidente da Ordem dos Economistas do Brasil.

Miopia nas discussões
Na mesma linha de avaliação está o professor de economia da FGV-SP (Fundação Getulio Vargas), Samy Dana, que alerta para o cenário econômico brasileiro. Ele defende que um PIB (Produto Interno Bruto) de 2,7% em 2011 e uma queda da produção industrial total do país de 3,4% em janeiro não aconteceram somente por responsabilidade do câmbio.

“Culpar o câmbio é um pouco injusto. Temos grandes problemas tributários e precisamos de reformas grandes para sermos mais competitivos. As margens de lucro das empresas são muito grandes e o Brasil tem o segundo maior spread bancário do mundo”, destaca Dana.

Foco na competitividade
Para ele, o Governo não consegue distinguir a própria situação nesta guerra contra os países que injetaram mais moeda em suas economias, como tentativa de reduzir os efeitos da crise. “A discussão tem que ser sobre competitividade, e não sobre câmbio. Vale a pena contestar o ambiente, e não só o câmbio”, completa.

Ao comparar o Brasil aos demais países em desenvolvimento, e os motivos que estariam levando o Brasil a entrar nesta trincheira praticamente sozinho, o professor da FGV ressalta que a realidade entre as nações é bem diferente. Segundo ele, nossos pares no mercado internacional são mais interessantes para o setor privado do que o Brasil, o que não despertaria neles, até o momento, o interesse por uma discussão cambial mais ampla.

Interesse nacional fala mais alto
“Nenhum país tem esses custos tributários que nós temos. Os gastos da China são muito menores. A concorrência lá também não deixa as margens serem tão grandes como aqui. A infraestrura também é melhor, e a mesma coisa vale para Índia e Rússia”, conclui Dana.

Por sua vez, Santos da PUC-SP, destaca que os outros integrantes do BRICS têm políticas que permitem sua manutenção fora da guerra cambial. “Países como Rússia e África do Sul têm politicas que permitem que a inflação não seja tão ruim quanto a nossa. O BRICS tem como pauta comum brigar por maior participação em órgãos como FMI (Fundo Monetário Internacional) e Banco Mundial, mas em uma última análise, cada país tem seu interesse nacional”, finaliza.

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