“Eduardo Cunha continua ditando as cartas na Câmara e no governo”, avalia deputado

André Moura ainda não foi oficialmente confirmado, mas por contar com forte apoio do bloco do centrão é o favorito para assumir a função

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O ganho de importância do “centrão” na chamada governabilidade tem se acentuado nos últimos capítulos da política brasileira, mesmo após a suspensão do mandato de seu principal líder, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Os apoios costurados para que o processo de impeachment de Dilma Rousseff fosse aberto pelo parlamento acabaram por garantir maior fôlego a grupos mais fisiológicos do Legislativo, e agora cobram a conta ao presidente interino Michel Temer. Para opositores, parte da fartura vem com a nomeação de André Moura (PSC-SE) como líder do governo na Câmara. O deputado é fiel aliado do peemedebista e importante combatente aos avanços do processo que pode cassar seu mandato.

“Esperamos o fortalecimento do fundamentalismo, da política de clientela, do toma lá dá cá, do fisiologismo, da naturalização da corrupção. Tudo aquilo que, no discurso, todos negam, repudiam, mas na prática, nessa decisão que cabe em última instância a Michel Temer, mostra uma ação obscurantista do governo. É absurda. Eduardo Cunha continua dando as cartas, não só na Câmara, mas no governo”, diz o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) em entrevista por telefone ao InfoMoney. O parlamentar é um dos principais nomes opositores a Cunha na casa e vê uma ofensiva do peemedebista para salvar seu mandato. “Ele está fazendo de tudo, inclusive usando a liderança do governo. E talvez chantageando. É uma vergonha”.

André Moura ainda não foi oficialmente confirmado, mas por contar com forte apoio do bloco formado por PEN, PTB, PP, PR, PSL, PSD, PRB, PTN, PTdoB, PSC, PHS, PROS e Solidariedade, é o favorito para assumir a função. As expectativas são de que o centrão seja formalizado na próxima semana, com um bloco de 225 deputados. O PMDB ainda não ingressou no grupo, mas acrescentaria ainda outros 68 parlamentares, completando o maior bloco da Casa, com mais da metade dos 513 deputados. Líder interino da legenda, Leonardo Quintão (MG), disse que vai lutar pela a adesão do partido ao bloco. O nome de Moura, porém, não conta com o apoio de outra ala da base, composta por PSDB, DEM e PPS, que defendiam o nome de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Trata-se do primeiro racha significativo entre as siglas que apoiam o atual governo interino.

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Como destaca reportagem do jornal O Estado de S. Paulo desta quarta-feira, o medo de aliados de Michel Temer é que ele se torne cada vez mais refém de Eduardo Cunha. Além de ter sido decisivo para a efetivação do afastamento de Dilma Rousseff da presidência, o grupo segue influente na tomada de decisões em Brasília, e o comandante interino tem contas a acertar. A princípio, a repartição de ministérios ainda não foi o bastante para quitar os débitos. Ainda no âmbito do Legislativo e com forte potencial de influência sobre as ações do Planalto, o bloco conseguiu emplacar ontem, por aclamação, o nome de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Comissão Mista de Orçamento do Congresso.

Na última terça-feira, o jornal Folha de S. Paulo chamou atenção para o fato de dois assessores ligados a Cunha terem tido os nomes confirmados em postos estratégicos da estrutura do governo: Gustavo do Vale Rocha foi nomeado para o cargo de subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil, e tem no currículo a atuação como advogado em questões privadas do deputado suspenso; assessor especial de Cunha até a semana passada, Carlos Henrique Sobral assumiu como chefe de gabinete do ministro Gedel Vieira Lima (Secretaria de Governo). Outra demonstração de força do centrão é a permanência de Waldir Maranhão (PP-MA) na presidência interina da Câmara.

Após sua polêmica ação na tentativa de suspender o resultado da votação do impeachment de Dilma no plenário da casa e os consequentes ataques a que foi submetido, o parlamentar hoje encontra sustentação em grupos aliados ao peemedebista, embora poucos acreditem em sua capacidade de conduzir as sessões da casa. Ontem, questionado por esta reportagem sobre a situação de Maranhão, André Moura mostrou preocupação. Para ele, o cenário ideal seria de renúncia, afastamento ou licença, mas, como o presidente interino não aceita tais opções, será necessário esforço conjunto para que ele consiga conduzir os trabalhos em votações importantes para o a sustentação do governo que entra. O deputado não confirmou sua nomeação para a liderança do governo.

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(com Agência Brasil)

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.