E agora, PT?

Se Lula está fora da corrida presidencial, quais seriam os postulantes petistas para substitui-lo? Esta não seria uma tarefa fácil

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em relatório, a consultoria de risco político Eurasia destacou um cenário bastante sombrio para o partido que está atualmente no poder, o PT. E, para a Eurasia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está fora da corrida presidencial de 2018.

Os crescentes problemas legais que o ex-presidente enfrenta alimentam especulações de que ele pode sair da disputa. A consultoria aponta que, mesmo que ele vá para corrida presidencial, suas chances de ser competitivo são “extraordinariamente baixas”. A afirmação é baseada em dados de pesquisas recentes.

A Eurasia destaca que problemas legais de Lula representam um sério e imediato desafio para o governo Dilma Rousseff. No entanto, as eleições de 2018 também estão nos cálculos dos políticos. O PT afirma abertamente que Lula será seu candidato em 2018, enquanto o ex-presidente tem vocalizado muito mais o desejo de participar da corrida para salvar seu legado. Oposição e políticos centristas entendem que o PT como um todo está em apuros, mas eles ainda veem a “ameaça Lula” como real, afirma a Eurasia. Muitos lembram como Lula foi impactado negativamente pelo enorme escândalo de compra de votos em 2005, mas ganhou a reeleição em 2006.

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“Não obstante as avaliações feitas pelas elites políticas, Lula não é mais um desafiante real para a presidência em 2018. Na verdade, não importa se a Lava Jato eventualmente leve a uma acusação contra o ex-presidente, ou se seus problemas legais continuam a crescer ou, alternativamente, ele desista. Lula está efetivamente fora da corrida para 2018”, afirma a consultoria.

Um argumento para isso é estrutural, e olha para a eleição 2018 apontando os dados eleitorais comparativos. De acordo com um modelo desenvolvido pela Ipsos Public Affairs e Eurasia Group, as eleições são, em sua maior parte, ditadas se os eleitores querem mudança ou continuidade, e se um presidente é candidato à reeleição. Os índices de aprovação de um governo são a maneira mais fácil de medir isso. “E, de acordo com esses critérios, as chances do PT ficar no cargo em 2018 são extraordinariamente baixas”. Segundo a Eurasia, olhando estes critérios, com base nos dados da Ipsos, as chances do PT continuar no poder estão abaixo de 5%.

“Olhando para a eleição de 2018, independente de personalidades políticas, por que os eleitores optariam por manter o PT no poder após 16 anos e tendo passado pela mais profunda recessão econômica da história do País?”

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Isso sugere que a avaliação de que Lula poderia ainda fazer uma corrida competitiva para a presidência repousa quase exclusivamente em seus atributos únicos e no seu duradouro legado. Porém, conforme apontou a Ipsos da última segunda-feira, sua imagem sofreu enormemente ao longo deste último ano.

Em agosto de 2005, quando o escândalo do mensalão dominava o ciclo de notícias, 49% do público ainda avaliava que Lula era um político honesto. Este número desceu para 25%. Além disso, 68% dos entrevistados acha que Lula já não tem a autoridade moral para falar de ética na política, e 67% acham que ele agora é tão corrupto como outros políticos.

“Em suma, a profundidade do escândalo Lava Jato já rebaixou Lula, aos olhos de 70% da população, para a categoria de mais um político corrupto. Para ter certeza, a sua imagem poderia se recuperar, embora isso exija que se vire a página da Lava Jato. Ele ainda mantém uma base do núcleo de apoio, talvez 20% do eleitorado, composto de sindicatos e as famílias mais pobres que se beneficiaram durante seus dois mandatos. Mas Lula já não representa mais um candidato viável 2018. A única questão real é se Lula e se o PT poderão manter a percepção de possuir um potencial competitivo vivo para este ano e para o próximo. Este último é certamente importante pela própria posição política de Lula, e para manter o PT minimamente energizado”, afirma a Eurasia. 

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Se Lula está fora da corrida presidencial, quais seriam os postulantes petistas para substitui-lo? Esta não seria uma tarefa fácil.

Conforme afirmou o diretor para América Latina do Eurasia Group, João Augusto de Castro Neves, há os “usual suspects”, caso do chefe da Casa Civil Jaques Wagner e o ministro da Educação Aloizio Mercadante. Contudo, vale destacar que Wagner enfrentou delações premiadas no âmbito da Lava Jato que envolviam o seu nome; sobre Mercadante, o dono da UTC, Ricardo Pessoa, afirmou no ano passado que o ex-ministro presenciou acerto por doação oriunda de caixa 2 para a campanha do petista ao governo de São Paulo, em 2010. 

Castro Neves, por sua vez, vê como pouquíssimo provável o PT apoiar alguém que não seja do partido. Uma das opções que chegou a ser aventada é do PT apoiar a candidatura de Ciro Gomes, do PDT, a presidente em 2018.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.