Depois das eleições, 56 novos parlamentares vão à sala de aula para estudar o Congresso

Parceria entre RenovaBR e Insper oferece curso de formação a deputados e senadores eleitos para o primeiro mandato

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Depois de participar diretamente da eleição de 17 parlamentares em seu primeiro ano de atividades, o RenovaBR, iniciativa suprapartidária destinada à formação de novas lideranças políticas, deu início a um segundo passo em sua trajetória. Na última terça-feira (4), um grupo de 56 deputados federais, estaduais e senadores eleitos para o primeiro mandato estiveram reunidos em São Paulo para assistir ao primeiro módulo do curso “Gestão Estratégica para Mandatos Legislativos”, oferecido em parceria com o Insper.

Conforme pontuam os organizadores, é a primeira vez que congressistas eleitos vão à sala de aula antes de ir ao parlamento, o que pode ser mais uma indicação do momento de transição vivido pela política nacional. Aos marinheiros de primeira viagem, além das novidades que a vitória nas urnas naturalmente traz, as possibilidades de mudanças em posturas e práticas tradicionais da política ampliam os desafios para a legislatura.

“O sistema é muito complexo e por conta disso resolvemos investir em um programa, que é um módulo de formação de mandato legislativo, para que a pessoa consiga cumprir seu papel enquanto deputado ou senador. O nível de compreensão é baixo. Toda a parte regimental é difícil. Eles tiveram um primeiro momento para entender um pouco o tamanho desafio e o próximo passo vai ser conseguirem tomar decisões inteligentes”, observou Eduardo Mufarej, fundador do RenovaBR.

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Foram convidados para o curso todos os parlamentares eleitos para primeiro mandato, mesmo que não tenham participado do programa inicialmente. Os 56 inscritos representam 23 diferentes siglas (DC, DEM, Novo, Patri, PDT, PHS, PMN, PODEMOS, PP, PPS, PR, PRB, PROS, PRP, PSB, PSC, PSD, PSDB, PSL, PTB, PV, REDE e SD) e 20 unidades da federação (AL, AM, AP, CE, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PA, PB, PE, PR, RJ, RO, RR, RS, SC, SE, SP e TO). Eles terão aulas de temas como exercício e gestão do mandato, negociação estratégica e gestão de conflitos, governança organizacional e fiscalização eficiente.

“Realmente, é uma oportunidade e tanto, porque a gente está ao lado de grandes pessoas, grandes figuras do país”, disse o deputado federal eleito Tiago Dimas (SD-TO). O parlamentar é um dos novatos eleitos que não participaram do primeiro ciclo de formação oferecido pelo RenovaBR e que agora faz parte do grupo de novos alunos. Ele elogia o acolhimento e a possibilidade de se relacionar com futuros colegas de parlamento.

“Há um grande consenso da importância que temos e a possibilidade de fazermos a diferença. Queremos chegar com nível de conhecimento à altura para assumir um protagonismo”, afirmou. Para Dimas, essa é uma oportunidade de os novos eleitos começarem a trabalhar de forma mais coordenada, dadas as dificuldades do jogo político em Brasília.

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Para Felipe Rigoni (PSB-ES), bolsista do RenovaBR e segundo deputado federal mais votado em seu estado nesta eleição, o evento é “histórico”. “Estamos recebendo pessoas incríveis: pesquisadores, servidores da casa, ex-políticos e professores para mostrar como é o real funcionamento da casa e principalmente como podemos entregar uma melhor representação para a população brasileira”.

O curso, sob a coordenação de Carlos Melo, cientista político e professor do Insper, é dividido em dois módulos — o primeiro, de 4 a 7 de dezembro, em São Paulo; e o segundo, de 28 a 30 de janeiro, em Brasília. O conselho consultivo convidado pelas instituições para definir o currículo do curso é formado por figuras como o ex-presidente do STF Nelson Jobim, a senadora gaúcha Ana Amélia Lemos e o governador capixaba Paulo Hartung. Um grupo de peso para auxiliar os novatos em um momento de turbulência acima da média.

“O que vejo é que tem uma transição de modelo. A política até hoje foi constituída muito no deputado que tinha aquela base e fazia um trabalho quase de ‘vereador federal’. Agora, parte desses candidatos à renovação foram eleitos sem uma base territorial. Isso pressupõe uma mudança de atuação, onde acho menos importante sua pauta e mais se você é um promotor de mudanças no país”, avaliou Mufarej.

“O Brasil está passando por uma transição do modelo de representação. Historicamente, a política se constituiu nos últimos anos muito nessa coisa territorial, de emenda, garantindo sobrevivência. E a população deu um recado que não quer mais esse modelo”, complementou.

Como toda mudança, Mufarej avalia que os desafios serão grandes aos novos parlamentares eleitos. “Primeiro, precisarão entender que serão 1 em 513, e, para ter relevância, não é fácil. Segundo, haverá um choque de resiliência brutal, haverá um monte de decepção. Então, eles estarem preparados para isso é muito importante. O que estamos tentando fazer é colocar um colchão nesse processo para o tombo não ser tão grande”, explicou.

Bancada da renovação

O RenovaBR realizou, na última terça-feira, um jantar com membros do instituto, parlamentares eleitos, professores do módulo de formação, empresários e jornalistas para apresentar os resultados obtidos nas últimas eleições e os planos para os próximos anos. O encontro contou com as presenças do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de Romeu Zema (Novo), governador eleito por Minas Gerais, e do apresentador de televisão Luciano Huck, apoiador da iniciativa.

Em entrevista à imprensa, Huck comemorou as elevadas taxas de renovação observadas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal e os resultados dos candidatos do RenovaBR nessas eleições. “Tem muito a ser celebrado no final desse ciclo eleitoral”, disse. “Não que a renovação em sua integralidade seja as pessoas com o preparo que esperávamos, mas as urnas aposentaram boa parte da velha política”.

O apresentador, que chegou a ser especulado como possível candidato à presidência nesta eleição, chamou atenção para a capacidade de os líderes eleitos pelo instituto de dialogarem mesmo com tantas diferenças de perfil. Ele acredita que o grupo poderá trabalhar coletivamente, de forma coordenada em diversas pautas no parlamento.

“São nomes de matizes ideológicas completamente diferentes, estados diferentes, com vontades diferentes. Mas com o passar do tempo, você via que havia uma vocação em comum de querer servir de um jeito diferente. As pessoas foram relevando suas diferenças e valorizando suas virtudes. No final, virou um grupo… Assim como existe a bancada da bala, a bancada evangélica, acho que teremos a bancada da renovação, que vai estar em vários partidos, mas com uma agenda em comum”, observou.

Em outubro, 17 parlamentares de 7 partidos foram eleitos para cargos legislativos nos estados ou em nível federal pelo RenovaBR. Se fosse um partido, o grupo teria a 12ª maior bancada da Câmara na próxima legislatura, à frente de siglas como Solidariedade, Podemos ou PTB. Os líderes formados pelo instituto receberam mais de 4,5 milhões de votos, sendo 1,7 milhão distribuídos somente entre 64 candidatos a vagas para deputado federal.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.