De presidente a deputados federais: uma radiografia da atuação da JBS na política

Entre os contemplados com o apoio do gigante do agronegócio nacional e internacional, 217 foram eleitos. No caso da Câmara dos Deputados, 332 assumiram o posto de suplente

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Vinte e oito partidos tiveram candidatos a cargos federais patrocinados pela processadora de proteína animal JBS nas eleições de 2014, sendo que 22 deles conseguiram ter ao menos um desses representantes consagrado pelas urnas. Um levantamento feito pelo InfoMoney em parceria com a plataforma de monitoramento legislativo SigaLei mostra que a companhia, hoje no centro das atenções por acusações de envolvimento em práticas de corrupção, investiu um montante de R$ 310,90 milhões em candidaturas que vão da presidência da República à Câmara dos Deputados. Ao todo, mais de 3 mil doações foram distribuídas entre 681 nomes tradicionais ou novatos da política nacional. O estudo não entrou em detalhes sobre os R$ 47,28 milhões doados a 1.314 candidaturas distintas pelas assembleias legislativas.

Naquele pleito, as doações de empresas privadas devidamente registradas ainda eram permitidas pelas normas eleitorais, o que faz com que os registros aqui contidos não descrevam nenhuma atividade ilícita por si. Os investigadores da operação Lava Jato têm chamado atenção para a possibilidade de pagamento de propinas por meio de doações aparentemente legais e regularizadas junto à Justiça Eleitoral, no entanto, a menos que haja provas claras de tal situação, as participações da JBS nas campanhas de candidatos eleitos na última disputa não indicam isoladamente qualquer transgressão à lei. Além disso, as doações normalmente são feitas aos diretórios dos partidos, que repassam os recursos a seus candidatos. Não está claro se a empresa indicava ou não às cúpulas seus nomes preferidos.

O levantamento mostra que dez candidatos a cargos federais receberam mais recursos que os demais 671 financiados pela companhia — mesmo que indiretamente, por repasses dos diretórios estaduais ou nacionais dos partidos. Como era de se supor, nas primeiras posições do ranking, aparecem com destaque candidatos à presidência da República, governos estaduais e ao Senado Federal. No pódio dos maiores beneficiários com recursos oriundos do frigorífico, declarados junto ao Tribunal Superior Eleitoral, aparecem a ex-presidente Dilma Rousseff, com receita total de R$ 73,378 milhões, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), com receita total de R$ 30,441 milhões, e o governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), com R$ 10,500 milhões.

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Para o estudo, foram consideradas todas as doações registradas por 18 CNPJs vinculados à JBS e foi efetuado cruzamento com os resultados das eleições, com base nos dados do Tribunal Superior Eleitoral. 

A tabela abaixo lista os candidatos eleitos que mais receberam recursos da JBS:

Fonte: TSE
Elaboração: InfoMoney/SigaLei

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Entre os contemplados com o apoio do gigante do agronegócio nacional e internacional, 217 foram eleitos. No caso da Câmara dos Deputados, 332 assumiram o posto de suplente. Mas nem todos tiveram a mesma “sorte”. Entre os derrotados e não eleitos, o número de candidatos que receberam algum auxílio da JBS chega a 133. Os recursos repassados a esse grupo chegaram somaram R$ 97,42 milhões.

A tabela abaixo lista os candidatos derrotados que mais recursos receberam da JBS:

Fonte: TSE
Elaboração: InfoMoney/SigaLei

O cálculo, no entanto, acaba distorcido quando incluídos nomes que disputaram cargo de deputado federal, uma vez que a votação se dá de forma proporcional, com complexas coligações, e levando-se em consideração o fato de boa parte dos recursos ser recebida originalmente pelos diretórios das siglas e repassadas aos candidatos — o que tem efeito ainda mais difícil de se avaliar em situações de disputa por assentos na câmara baixa.

Quando se desconsidera o peso das eleições à Câmara dos Deputados, o grupo dos candidatos derrotados cai para 64 políticos, mas não se observa queda significativa nos recursos repassados: R$ 95,196 milhões. Do total investido pela companhia em eleições a cargos federais, 42% acabaram com candidatos não eleitos, em uma espécie de “desperdício” se a situação for analisada do ponto de vista estrito da representatividade direta. Além dos 188 deputados federais eleitos e os 332 suplentes, a JBS ajudou na campanha de 16 governadores eleitos e 12 senadores.

Do ponto de vista por estado em que a companhia mais investiu, chamam atenção São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, com respectivas bancadas eleitas de 33, 28 e 8 políticos entre governadores, senadores e deputados federais.

A tabela abaixo amplia tal perspectiva:

Fonte: TSE
Elaboração: InfoMoney/SigaLei

Levando-se em consideração apenas políticos eleitos, os estados que mais receberam recursos da JBS foram Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Norte. Já as unidades da federação em que mais se verificou “desperdício” — neste caso, investimento em candidatos derrotados a governos locais e assentos no Senado Federal –, os estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais lideram, com, respectivamente, R$ 11 milhões, R$ 8,065 milhões e 6,018 milhões aplicados em campanhas não consagradas pelas urnas. A menor relação entre candidatos eleitos e recursos alocados foi vista em Espírito Santo, Rondônia e Maranhão, a respectivos “preços médios” de R$ 389 mil, R$ 414 mil e R$ 417 mil.

Do ponto de vista das bancadas, o PT liderou a recepção de recursos doados pela companhia, com R$ 110,423 milhões registrados juntos ao TSE. Na sequência, aparecem PSDB, com R$ 54,681 milhões, PMDB, com R$ 35,743 milhões, e PP, com R$ 32,676 milhões. Os repasses oficiais da JBS ajudaram na eleição da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, de 2 senadores, 2 governadores e 21 deputados federais pelo PT. No PP, foram eleitos 1 governador, 1 senador e 33 deputados patrocinados pelo frigorífico. Entre os tucanos, foram 4 governadores, 2 senadores e 5 deputados. No PMDB, a “bancada da JBS” conta com 5 governadores, 4 senadores e 25 deputados federais. No PSD, são 2 governadores e 7 deputados federais. O PR elegeu 1 senador e 22 deputados federais com auxílio da empresa. O PCdoB e o PTB têm 7 deputados cada patrocinados pela JBS. O PDT, por sua vez, conseguiu eleger 1 governador, 1 senador e 13 deputados nesse mesmo critério. No PROS, a empresa ajudou a eleger 6 deputados federais, enquanto no PSB foram 9 e 1 governador. A JBS ainda ajudou na eleição de 1 senador e 12 deputados pelo DEM, 9 deputados federais pelo PRB e 4 pelo Solidariedade. PMN, PSC, PTN, PRP, PV, PHS e PTC elegeram, cada um, um deputado com recursos registrados pela JBS.

Fonte: TSE
Elaboração: InfoMoney/SigaLei

Vale lembrar que, em maio, a imprensa noticiou sobre uma lista entregue pelos delatores da JBS à Procuradoria-Geral da República informando que a companhia teria ajudado na eleição de um a cada 3 deputados e senadores eleitos. Os números apresentam divergências aos levantados pelo SigaLei, mas reforçam o nível de influência da companhia no processo político brasileiro. Resta saber se a simples proibição das doações empresariais de campanha serão suficientes para limitar as relações entre os poderes econômico e político.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.